Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Paula evoca pop do Kid em 'Transbordada' sem marcar território próprio

Resenha de CD
Título: Transbordada
Artista: Paula Toller
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 

Quarto álbum solo de Paula Toller, posto nas lojas pela gravadora Som Livre neste mês de dezembro de 2014, Transbordada é - sim - um bom disco. Mas indiscutivelmente é o primeiro CD individual da vocalista do grupo carioca Kid Abelha que causa certa paradoxal decepção, sobretudo para quem esperava um álbum requintado e criativo como SóNós (Warner Music, 2007), ponto mais alto da discografia solo da cantora e compositora carioca. A questão é que Paula jamais marca território próprio ao longo das dez inéditas músicas autorais e dos 35 minutos do disco produzido por Liminha. Parceiro da artista nessas dez músicas (algumas compostas com as assinaturas eventuais dos parceiros Arnaldo Antunes, Beni Borja e Nenung), Liminha formatou um disco que tangencia a obra do Kid Abelha, uma das mais perfeitas traduções do pop brasileiro dos anos 1980. As batidas de faixas como Tímidos românticos (Paula Toller e Liminha) - música feliz que abre o disco e dá a pista do tom de Transbordada - remetem ao Kid de álbuns da década de 1990 como Meu mundo gira em torno de você (Warner Music, 1996) e Autolove (Warner Music, 1998). A receita pouco varia ao longo do disco, promovido de início com o single Calmaí (Paula Toller e Liminha), recado humanista para seres dominados pela sede de poder e dinheiro. Liminha e Paula Toller têm boa mão para o pop. A questão é que a opção por gravar um repertório quase inteiramente produzido pela dupla faz com que Transbordada resulte por vezes trivial, como indicam Já chegou a hora (Paula Toller e Liminha) - canção inserida no disco sem a anunciada participação do rapper mineiro Flávio Renegado - e Ele oh ele (Paula Toller e Liminha), música que exalta homem-amor-objeto não identificado em letra que cita o samba-exaltação Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939) nos versos "Bela fonte murmurante / Onde eu mato a minha sede de viver". Não há surpresas ou impacto no CD. Para quem viu ao vivo ou pela transmissão do canal Bis o show do projeto Inusitado em que a cantora mostrou em primeira mão as dez inéditas do disco, em 3 e 4 de junho deste ano de 2014, Transbordada vai soar tal como naquelas duas apresentações, às vezes com acabamento pop mais azeitado, próprio dos discos de estúdio, outras vezes sem o calor da pegada ao vivo (No show, Ele oh ele resultou mais sedutora) - mas sempre fiel a tudo o que se viu e ouviu em junho. E nem tudo é luz. Tema que se avizinha da praia do reggae, À deriva pela vida (Paula Toller, Liminha e Beni Borja) tem letra que situa o casal-personagem da letra em ambiente noturno. Com clima cinzento, O sol desaparece (Paula Toller e Liminha) foca crepúsculo afetivo com melodia meio tristonha, mas deixa entrever certa luz ao fim do túnel ("Ainda sinto o marejar / E continuo procurando / A gota que falta no meu mar"). Balada de espírito pop folk, levada pelos violões tocados pelo próprio Liminha e cantada por Paula em dueto com o cantor Hélio Flanders (vocalista do grupo mato-grossense Vanguart), Será que eu vou me arrepender? (Paula Toller, Liminha e Arnaldo Antunes) se destaca no disco ao levantar na (boa) letra questões derivadas de uma separação de corpos e almas. Seu nome é blá (Paula Toller, Liminha e Beni Borja) pesa mais o ambiente e o disco, abafando intencionalmente a voz da cantora ao perfilar hater da web. Mesmo nas canções mais escuras, Transbordada é disco de vocação explicitamente pop que seduz nas faixas de luminosidade pop como a própria música-título Transbordada, parceria de Paula e Liminha com Nenung, mentor do grupo gaúcho Os The Darma Lóvers. Faixa gravada com a bateria sempre bem marcada do paralama João Barone, Ohayou (Paula Toller e Liminha) arremata o disco no mesmo tom vívido, solar, do início do álbum. Abelha rainha do pop nativo, Paula Toller fez com a produção de Liminha - piloto dos primeiros álbuns do Kid Abelha - um disco solo em fina sintonia com sua história na cena musical brasileira. Mesmo assim, Transbordada deixa no ar a sensação de certa falta de ousadia da parte de artista que já mostrou maior ambição artística e correu mais riscos em discos solos anteriores.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Quarto álbum solo de Paula Toller, posto nas lojas pela gravadora Som Livre neste mês de dezembro de 2014, Transbordada é um bom disco. Mas paradoxalmente é o primeiro CD individual da vocalista do grupo carioca Kid Abelha que causa certa paradoxal decepção, sobretudo para quem esperava um álbum requintado e criativo como SóNós (Warner Music, 2007), ponto mais alto da discografia solo da cantora e compositora carioca. A questão é que Paula jamais marca território próprio ao longo das dez inéditas músicas autorais e dos 35 minutos do disco produzido por Liminha. Parceiro da artista nessas dez músicas (algumas compostas com as assinaturas eventuais dos parceiros Arnaldo Antunes, Beni Borja e Nenung), Liminha formatou um disco que tangencia a obra do Kid Abelha, uma das mais perfeitas traduções do pop brasileiro dos anos 1980. As batidas de faixas como Tímidos românticos (Paula Toller e Liminha) - música feliz que abre o disco e dá a pista do tom de Transbordada - remetem ao Kid de álbuns da década de 1990 como Meu mundo gira em torno de você (Warner Music, 1996) e Autolove (Warner Music, 1998). A receita pouco varia ao longo do disco, promovido de início com o single Calmaí (Paula Toller e Liminha), recado humanista para seres dominados pela sede de poder e dinheiro. Liminha e Paula Toller têm boa mão para o pop. A questão é que a opção por gravar um repertório quase inteiramente produzido pela dupla faz com que Transbordada resulte por vezes trivial, como indicam Já chegou a hora (Paula Toller e Liminha) - canção inserida no disco sem a anunciada participação do rapper mineiro Flávio Renegado - e Ele oh ele (Paula Toller e Liminha), música que exalta homem-amor-objeto não identificado em letra que cita o samba-exaltação Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939) nos versos "Bela fonte murmurante / Onde eu mato a minha sede de viver". Não há surpresas ou impacto no CD. Para quem viu ao vivo ou pela transmissão do canal Bis o show do projeto Inusitado em que a cantora mostrou em primeira mão as dez inéditas do disco, em 3 e 4 de junho deste ano de 2014, Transbordada vai soar tal como naquelas duas apresentações, às vezes com acabamento pop mais azeitado, próprio dos discos de estúdio, outras vezes sem o calor da pegada ao vivo (No show, Ele oh ele resultou mais sedutora) - mas sempre fiel a tudo o que se viu e ouviu em junho. E nem tudo é luz.

Mauro Ferreira disse...

Tema que se avizinha da praia do reggae, À deriva pela vida (Paula Toller, Liminha e Beni Borja) tem letra que situa o casal-personagem da letra em ambiente noturno. Com clima cinzento, O sol desaparece (Paula Toller e Liminha) foca crepúsculo afetivo com melodia meio tristonha, mas deixa entrever certa luz ao fim do túnel ("Ainda sinto o marejar / E continuo procurando / A gota que falta no meu mar"). Balada de espírito pop folk, levada pelos violões tocados pelo próprio Liminha e cantada por Paula em dueto com o cantor Hélio Flanders (vocalista do grupo mato-grossense Vanguart), Será que eu vou em arrepender? (Paula Toller, Liminha e Arnaldo Antunes) se destaca no disco ao levantar na (boa) letra questões derivadas de uma separação de corpos e almas. Seu nome é blá (Paula Toller, Liminha e Beni Borja) pesa mais o ambiente e o disco, abafando intencionalmente a voz da cantora ao perfilar hater da web. Mesmo nas canções mais escuras, Transbordada é disco de vocação explicitamente pop que seduz nas faixas de luminosidade pop como a própria música-título Transbordada, parceria de Paula e Liminha com Nenung, mentor do grupo gaúcho Os The Darma Lóvers. Faixa gravada com a bateria sempre bem marcada do paralama João Barone, Ohayou (Paula Toller e Liminha) arremata o disco no mesmo tom vívido, solar, do início do álbum. Abelha rainha do pop nativo, Paula Toller fez com a produção de Liminha - piloto dos primeiros álbuns do Kid Abelha - um disco solo em fina sintonia com sua história na cena musical brasileira. Mesmo assim, Transbordada deixa no ar a sensação de certa falta de ousadia da parte de artista que já mostrou maior ambição artística e correu mais riscos em discos solos anteriores.

Samuray de Araujo disse...

Transbordada e' o melhor trabalho solo de Paula Toller, ganha disparado dos outros ("Paula Toller", "Sonos" e "Nosso"). Paula e' a Rainha do Pop brasileiro. Tomara que ela nao queira mesmo se "aventurar em outros estilos como ela ja fez (Deus me livre) querem o que, que ela cante musica country ou coisa parecida? Eu realmente espero que nunca mais ela faça um album como o Sonos (pra que se ela pode fazer coisa muito melhor?) VIVA TRANSBORDADA, O CD DO ANO!

Samuray de Araujo disse...

Transbordada e' o melhor trabalho solo de Paula Toller, ganha disparado dos outros ("Paula Toller", "Sonos" e "Nosso"). Paula e' a Rainha do Pop brasileiro. Tomara que ela nao queira mesmo se "aventurar em outros estilos como ela ja fez (Deus me livre) querem o que, que ela cante musica country ou coisa parecida? Eu realmente espero que nunca mais ela faça um album como o Sonos (pra que se ela pode fazer coisa muito melhor?) VIVA TRANSBORDADA, O CD DO ANO!

Unknown disse...

Realmente eu esperava mais da Paula e do Liminha.Tinha certeza que essa dupla produziria um disco nota 10,recheado de hits...me enganei.
Concordo que SóNós é o melhor album solo da artista,deixando nos fãs uma certa decepção...
Transbordada não justifica o porque da interrupção abrupta do ótimo (show e disco) ''Multishow ao vivo''. Nos resta-novamente-aguardar o retorno do Kid Abelha.E que seja em breve

Vitor disse...

Pelo número de postagens sobre esse cd feitas pelo Mauro ao longo do ano, percebe-se que a expectativa era grande, toda semana tem uma notícia desse cd, não aguentava mais :)

André Tofoli Paschoal disse...

Mauro,
Estava ansioso pra saber o q você publicaria sobre o álbum. Assim como sua resenha foi respeitosa com o trabalho da artista, merece respeito sua opinião de q Paula Toller não correu muitos riscos com "Transbordada". De minha parte, como fã, não estou nem um pouco decepcionado. Justo ao contrário. A cantora e compositora lançou músicas q se aproximam do universo do Kid Abelha e não há mal algum nisso, até porque ela é parte fundamental do trio. Sem contar q no show, já apresentado em Porto Alegre e em Campinas, as músicas novas funcionam muito bem, lado a lado com os hits q foram "turbinados", como publicou Paula nas redes sociais. Se compor e cantar música pop pra divertir, emocionar e inspirar é sua vocação, não vejo razão pra q ela se aventure em territórios diferentes, a menos q esteja a fim, para agradar a uma parcela do público. Paula Toller é a mais perfeita expressão do pop brasileiro, e isso pode ser afirmado sem exagero. "Transbordada" é apenas mais uma evidência disso.
André Paschoal

Maurício disse...

bom, eu acho que o Sö Nos é bem superior a esse cd. Quando soube que Liminha era o produtor, imaginei que viriam hits instantaneos, não é o que parece. A impressão que eu tenho é que ficou bom - nem mais, nem menos, mas algo ainda faltou.

Fábio disse...

Muito uó a capa desse cd.

Unknown disse...

Ótimo disco, bem acima da média do q vem sendo lançado no cenário pop, rock, mpb ultimamente. Esse disco e o da Banda do Mar estão carregando o pop nacional nas costas.