Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

CD 'Alta costura' expõe fino acabamento do pop feliz de Ronaldo Bastos

Resenha de CD
Título: Alta costura - O prêt-a-porter pop romântico de Ronaldo Bastos
Artista: Vários
Gravadora: Dubas
Cotação: * * * 1/2

Embora seja letrista primordialmente associado ao Clube da Esquina, o compositor fluminense Ronaldo Bastos também transitou pelo pop romântico dos anos 1980 e 1990, pondo versos em melodias de parceiros como Celso Fonseca, Ed Wilson, Flávio Venturini, Lulu Santos e Ed Motta. Criteriosa coletânea lançada neste mês de dezembro de 2014 pelo selo de Bastos, Dubas, Alta costura - O prêt-a-porter pop romântico de Ronaldo Bastos expõe o fino acabamento da obra pop do poeta. São 21 gravações lançadas entre 1983 e 2011, mas com ênfase na produção do compositor nos anos 1980 - década em que a MPB adquiriu sotaque pop romântico. Três dessas 21 músicas foram lançadas na voz cristalina de Gal Costa, cantora que era mais facilmente convencida a gravar canções populares quando via a letra assinada por Bastos. Chuva de prata (Ed Wilson e Ronaldo Bastos, 1984), Nada mais (Stevie Wonder em versão em português de Ronaldo Bastos, 1984) - música ouvida em Alta costura na gravação ao vivo feita por Sandra de Sá em 2003 - e Sorte (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, 1985) são canções sedutoras que alavancaram as vendas de discos de Gal na fase mais pop da discografia da cantora. Até Maria Bethânia se rendeu ao pop fino de Bastos em Sei de cor (Celso Fonseca, 1986), bissexta gravação feita pela intérprete de acordo com as tendências do mercado. Assim como Zizi Possi, ouvida com Mania (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, 1987), Bethânia nunca soou totalmente à vontade nessas canções. Só que, mais ou menos à vontade, todas as cantoras mergulharam nessa praia, por iniciativa própria ou por pressão de produtores. Tanto que a compilação também alinha gravações de Fafá de Belém (Coração aprendiz, Erich Bulling e Ronaldo Bastos, 1985 - e não 1986 como creditado na ficha técnica da faixa), Joanna (Mal nenhum, Ed Wilson e Ronaldo Bastos, 1985), Nana Caymmi (Dois corações, André Sperling e Ronaldo Bastos, 1993) e Simone (Meu ninho, Wagner Tiso e Ronaldo Bastos, 1991). Seja como for, ou foi, o fato é que a qualidade do acabamento melódico das 21 músicas variava de acordo com a inspiração e habilidade do parceiro de Bastos. Produzida com gravações originais (a exceção é o fonograma de Sandra de Sá), a coletânea mistura peças de alta costura - como Todo azul do mar (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1983), Um certo alguém (Lulu Santos e Ronaldo Bastos, 1983) e Seguindo no trem azul (Cleberson Horsth e Ronaldo Bastos, 1985) - com temas menos vistosos, justamente relegados ao esquecimento, casos de Fases (Lágrimas perdidas) (Hyldon, 1985) - tentativa vã de enquadrar o som do cantor Bebeto na moldura pop da década - e de Uma estrela a mais (Fernando Gama e Ronaldo Bastos), gravação mais banal de Tim Maia (1942 - 1998). Em contrapartida, há casos em que o intérprete foi efêmero, mas a canção resiste bem ao tempo. Exemplo é Não diga nada (Prêntice, Ed Wilson, Gilson e Ronaldo Bastos), sucesso do esquecido Prêntice em 1985. De todo modo, a poesia de Bastos permaneceu em cena, mesmo depois de passada a euforia tecnopop da década de 1980. Gravações como as de Noites com sol (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1994) e Vendaval (Ed Motta e Ronaldo Bastos, 1997) - lançadas já nos anos 1990 - comprovam a perenidade da escrita musical do artista, poeta de versos geralmente felizes. "Tá tudo bem / Se vai mal", enfatiza Ed Motta no refrão de Vendaval, exemplificando o tom solar do pop romântico de Ronaldo Bastos. Alta costura alinha recortes de uma época em que, mesmo bastante diluída pelo sotaque pop radiofônico, a música popular do Brasil era feliz e sabia.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Embora seja letrista primordialmente associado ao Clube da Esquina, o compositor fluminense Ronaldo Bastos também transitou pelo pop romântico dos anos 1980 e 1990, pondo versos em melodias de parceiros como Celso Fonseca, Ed Wilson, Flávio Venturini, Lulu Santos e Ed Motta. Criteriosa coletânea lançada neste mês de dezembro de 2014 pelo selo de Bastos, Dubas, Alta costura - O prêt-a-porter pop romântico de Ronaldo Bastos expõe o fino acabamento da obra pop do poeta. São 21 gravações lançadas entre 1983 e 2011, mas com ênfase na produção do compositor nos anos 1980 - década em que a MPB adquiriu sotaque pop romântico. Três dessas 21 músicas foram lançadas na voz cristalina de Gal Costa, cantora que era mais facilmente convencida a gravar canções populares quando via a letra assinada por Bastos. Chuva de prata (Ed Wilson e Ronaldo Bastos, 1984), Nada mais (Stevie Wonder em versão em português de Ronaldo Bastos, 1984) - música ouvida em Alta costura na gravação ao vivo feita por Sandra de Sá em 2003 - e Sorte (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, 1985) são canções sedutoras que alavancaram as vendas de discos de Gal na fase mais pop da discografia da cantora. Até Maria Bethânia se rendeu ao pop fino de Bastos em Sei de cor (Celso Fonseca, 1986), bissexta gravação feita pela intérprete de acordo com as tendências do mercado. Assim como Zizi Possi, ouvida com Manias (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, 1987), Bethânia nunca soou totalmente à vontade nessas canções. Só que, mais ou menos à vontade, todas as cantoras mergulharam nessa praia, por iniciativa própria ou por pressão de produtores. Tanto que a compilação também alinha gravações de Fafá de Belém (Coração aprendiz, Erich Bulling e Ronaldo Bastos, 1985 - e não 1986 como creditado na ficha técnica da faixa), Joanna (Mal nenhum, Ed Wilson e Ronaldo Bastos, 1985), Nana Caymmi (Dois corações, André Sperling e Ronaldo Bastos, 1993) e Simone (Meu ninho, Wagner Tiso e Ronaldo Bastos, 1991). Seja como for, ou foi, o fato é que a qualidade do acabamento melódico das 21 músicas variava de acordo com a inspiração e habilidade do parceiro de Bastos. Produzida com gravações originais (a exceção é o fonograma de Sandra de Sá), a coletânea mistura peças de alta costura - como Todo azul do mar (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1983), Um certo alguém (Lulu Santos e Ronaldo Bastos, 1983) e Seguindo no trem azul (Cleberson Horsth e Ronaldo Bastos, 1985) - com temas menos vistosos, justamente relegados ao esquecimento, casos de Fases (Lágrimas perdidas) (Hyldon, 1985) - tentativa vã de enquadrar o som do cantor Bebeto na moldura pop da década - e de Uma estrela a mais (Fernando Gama e Ronaldo Bastos), gravação mais banal de Tim Maia (1942 - 1998). Em contrapartida, há casos em que o intérprete foi efêmero, mas a canção resiste bem ao tempo. Exemplo é Não diga nada (Prêntice, Ed Wilson, Gilson e Ronaldo Bastos), sucesso do esquecido Prêntice em 1985. De todo modo, a poesia de Bastos permaneceu em cena, mesmo depois de passada a euforia tecnopop da década de 1980. Gravações como as de Noites com sol (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1994) e Vendaval (Ed Motta e Ronaldo Bastos, 1997) - lançadas já nos anos 1990 - comprovam a perenidade da escrita musical do artista, poeta de versos geralmente felizes. "Tá tudo bem / Se vai mal", enfatiza Ed Motta no refrão de Vendaval, exemplificando o tom solar do pop romântico de Ronaldo Bastos. Alta costura alinha recortes de uma época em que, mesmo bastante diluída pelo sotaque pop radiofônico, a música popular do Brasil era feliz e sabia.

maroca disse...

Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)

Mauro, a música que Zizi gravou em 1987 no disco "Amor e música" é no singular e não no plural. Mania.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Augusto. Abs, MauroF