Mauro Ferreira no G1

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sábado, 11 de dezembro de 2010

Entre o quintal e a gafieira, Zeca evolui no belo show 'Vida da Minha Vida'

Resenha de show
Título: Vida da Minha Vida
Artista: Zeca Pagodinho (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Citibank Hall (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de dezembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Show em cartaz no Citibank Hall, no Rio de Janeiro (RJ), até 11 de dezembro de 2010

Já no primeiro número do show Vida da Minha Vida, estreado por Zeca Pagodinho neste mês de dezembro de 2010, fica claro que os arranjos situam o sambista entre a gafieira e o quintal dos melhores pagodes cariocas. Formatado em cena por afiado naipe de metais e por cozinha primorosa, o samba Verdade (Nelson Rufino e Carlinhos Santana)  anuncia o tom de um dos melhores shows de Zeca nos últimos anos. Poucas vezes, o cantor esteve tão seguro e solto em cena. Sem podar a espontaneidade habitual do artista, a direção de Sérgio Cabral deixa a impressão de conduzir Zeca em cena com mais rigor - condução perceptível também no roteiro bem equilibrado com sucessos inevitáveis, tributos a compositores centenários e as músicas do primoroso álbum de 2010 que originou o show. Alocado já no segundo número, o belo samba que batiza o CD e o show - Vida da Minha Vida (Moacyr Luz e Sereno), turbinado com coro extraído da gravação do disco - reitera a evolução do canto de Zeca. Como no álbum, o artista se apresenta no show com um canto mais trabalhado. A voz soa mais aveludada e bem colocada. Já não se percebe o desleixo detectado nas interpretações ao vivo de shows recentes do artista. E o resultado é uma apresentação coesa e vibrante. O roteiro de 24 músicas - descontado o bis, que na estreia carioca contou com a participação afetiva de Beth Carvalho em pot-pourri de partido alto - se desenvolve com agilidade, totalizando uma hora e meia de show. A vibração é tão boa que dissipa a melancolia que pontua os versos de sambas de dor-de-cotovelo como Hoje Sei que te Amo (Nelson Rufino), Pela Casa Inteira (Almir Guineto, Magalha e Fred Camacho) e Desacerto (Toninho Geraes, Fabinho do Terreiro e Randley Carioca). Contudo, é quando o Zeca boemio e feliz entra em cena - em sambas como o sincopado Quem Passa Vai Parar (Efson, Marquinhos PQD e Carlito Cavalcanti) - que o show Vida da Minha Vida realmente contagia. O clima de gafieira do segundo acústico gravado pelo cantor para a MTV, em 2006, influencia a moldura de boa parte dos arranjos. Zeca traz para o salão até Palpite Infeliz, o samba imortal do centenário Noel Rosa (1910 - 1937). Os sopros acentuam o suingue de temas como Beija-me (Mário Rossi e Roberto Martins), Ratatuia (Roberto Lopes, Canário e Alamir) e O Garanhão (Zé Roberto). Mas Zeca também é feliz em seu velho e bom quintal, que lhe deu frutos saborosos como os sambas Minha Fé (Murilão, convidado do número na estreia carioca) e Coração em Desalinho (Monarco e Mauro Diniz). E, como a fé de Zeca passa sobretudo pela devoção a São Jorge, a imagem do santo guerreiro é exibida no telão enquanto o sambista entoa Ogum (Marquinhos PQD e Claudemir), com direito à oração declamada de Jorge Ben Jor, extraída da gravação lançada no álbum Uma Prova de Amor (2008). Já em Orgulho do Vovô (Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho) são as imagens do neto Noah, muso inspirador do samba, que aparecem no telão, explicitando o sentido afetuoso dos versos desse samba que mostra que a parceria do compositor (já bissexto) com Arlindo Cruz continua inspirada como nos anos 80. Enfim, seja no quintal ou na gafieira, Zeca Pagodinho está em casa neste show Vida da Minha Vida em que ele parece bem mais saudável, à vontade e feliz.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Já no primeiro número do show Vida da Minha Vida, estreado por Zeca Pagodinho neste mês de dezembro de 2010, fica claro que os arranjos situam o sambista entre a gafieira e o quintal dos melhores pagodes cariocas. Formatado em cena por afiado naipe de metais e por cozinha primorosa, o samba Verdade (Nelson Rufino e Carlinhos Santana) anuncia o tom de um dos melhores shows de Zeca nos últimos anos. Poucas vezes, o cantor esteve tão seguro e solto em cena. Sem podar a espontaneidade habitual do artista, a direção de Sérgio Cabral deixa a impressão de conduzir Zeca em cena com mais rigor - condução perceptível também no roteiro bem equilibrado com sucessos inevitáveis, tributos a compositores centenários e as músicas do primoroso álbum de 2010 que originou o show. Alocado já no segundo número, o belo samba que batiza o CD e o show - Vida da Minha Vida (Moacyr Luz e Sereno), turbinado com coro extraído da gravação do disco - reitera a evolução do canto de Zeca. Como no álbum, o artista se apresenta no show com um canto mais trabalhado. A voz soa mais aveludada e bem colocada. Já não se percebe o desleixo detectado nas interpretações ao vivo de shows recentes do artista. E o resultado é uma apresentação coesa e vibrante. O roteiro de 24 músicas - descontado o bis, que na estreia carioca contou com a participação afetiva de Beth Carvalho em pot-pourri de partido alto - se desenvolve com agilidade, totalizando uma hora e meia de show. A vibração é tão boa que dissipa a melancolia que pontua os versos de sambas de dor-de-cotovelo como Hoje Sei que te Amo (Nelson Rufino), Pela Casa Inteira (Almir Guineto, Magalha e Fred Camacho) e Desacerto (Toninho Geraes, Fabinho do Terreiro e Randley Carioca). Contudo, é quando o Zeca boemio e feliz entra em cena - em sambas como o sincopado Quem Passa Vai Parar (Efson, Marquinhos PQD e Carlito Cavalcanti) - que o show Vida da Minha Vida realmente contagia. O clima de gafieira do segundo acústico gravado pelo cantor para a MTV, em 2006, influencia a moldura de boa parte dos arranjos. Zeca traz para o salão até Palpite Infeliz, o samba imortal do centenário Noel Rosa (1910 - 1937). Os sopros acentuam o suingue de temas como Beija-me (Mário Rossi e Roberto Martins), Ratatuia (Roberto Lopes, Canário e Alamir) e O Garanhão (Zé Roberto). Mas Zeca também é feliz em seu velho e bom quintal, que lhe deu frutos saborosos como os sambas Minha Fé (Murilão, convidado do número na estreia carioca) e Coração em Desalinho (Monarco e Mauro Diniz). E, como a fé de Zeca passa sobretudo pela devoção a São Jorge, a imagem do santo guerreiro é exibida no telão enquanto o sambista entoa Ogum (Marquinhos PQD e Claudemir), com direito à oração declamada de Jorge Ben Jor, extraída da gravação lançada no álbum Uma Prova de Amor (2008). Já em Orgulho do Vovô (Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho) são as imagens do neto Noah, muso inspirador do samba, que aparecem no telão, explicitando o sentido afetuoso dos versos desse samba que mostra que a parceria do compositor (já bissexto) com Arlindo Cruz continua inspirada como nos anos 80. Enfim, seja no quintal ou na gafieira, Zeca Pagodinho está em casa neste show Vida da Minha Vida em que ele parece bem mais saudável, à vontade e feliz.