Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Arranjos e repertório valorizam o canto de Nilze no disco 'O Que É Meu'

Resenha de CD
Título: O Que É Meu
Artista: Nilze Carvalho
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Primeira das bissextas parcerias de Chico Buarque com Toquinho, Lua Cheia - composta em 1965 e lançada em disco por Chico em 1967 - ganha seu registro mais belo no segundo CD de Nilze Carvalho como cantora, O Que É Meu, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino. O arranjo do pianista Cristóvão Bastos realça bem a melancolia dos versos de Chico em tom eventualmente seresteiro. Já em Barracão (Luiz Antonio e Oldemar Magalhães), faixa arranjada pela própria Nilze, a artista se lembra dos tempos de menina e conduz o samba para uma roda de choro com seu bandolim. Mesmo sem ser cantora de voz e interpretações marcantes, Nilze reitera em O Que É Meu a boa impressão deixada por seu primeiro álbum fora do universo instrumental, Estava Faltando Você (2005). Com produção assinada pela própria Nilze em parceria com Edu Krieger, O Que É Meu tem alguns momentos triviais - como a regravação do samba Chorei (Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte) - e outros bem surpreendentes. O samba de roda que dá título ao disco, O Que É Meu, da lavra de Toninho Geraes e Toninho Nascimento, é bacana. Na mesma praia baiana em que são recorrentes as evocações aos deuses e santos, Nilze também surpreende positivamente ao cantar o ijexá Santa Cecília, título da profícua parceria de Tuninho Galante com Marceu Vieira. Já a abordagem do samba Banho de Manjericão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) - apropriadamente ambientado em clima de terreiro pelo arranjo do cavaquinista Alessandro Cardozo - se ressente da comparação inevitável com o registro original de Clara Nunes (1942 - 1983) e com a recente regravação de Selma Reis, que deu banho de interpretação ao reviver o samba em disco dedicado à obra de Paulo César Pinheiro. O canto suave de Nilze se ajusta mais a um delicado lado B da obra de Ivone Lara e Délcio Carvalho, Doces Recordações. Já Lamento da Lavadeira (Monsueto Menezes, João Vieira Filho e Nilo Chagas) soa interessante pela citação (não creditada) de Retirantes, o tema de Dorival Caymmi (1914 - 2008) e Jorge Amado (1912 - 2001) definitivamente associado à novela A Escrava Isaura (1976). Hábil na garimpagem de repertório do passado, a artista também revive Mal de Amor, samba de Benil Santos e Raul Sampaio que jazia esquecido após as gravações de Elza Soares (em 1967, em suingante disco dividido com Miltinho) e Paulinho da Viola (em 1971). Fora do terreiro e do quintal, Nilze saúda no xote autoral Nordestino o mesmo Recife celebrado na pisada do maracatu por Gonzaguinha (1945 - 1991) em Festa, outra inusitada regravação do disco. Em tema também autoral, a cantora saúda mulheres emblemáticas na cultura brasileira. Trata-se do samba lento Ela Sabe Quem É, composto em parceria com Camila Costa, colega de Nilze no grupo Sururu na Roda. Enfim, produção, arranjos e repertório valorizam o canto leve de Nilze Carvalho em seu oportuno segundo disco.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Primeira das bissextas parcerias de Chico Buarque com Toquinho, Lua Cheia - composta em 1965 e lançada em disco por Chico em 1967 - ganha seu registro mais belo no segundo CD de Nilze Carvalho como cantora, O Que É Meu, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino. O arranjo do pianista Cristóvão Bastos realça a melancolia dos versos de Chico em tom eventualmente seresteiro. Já em Barracão (Luiz Antonio e Oldemar Magalhães), faixa arranjada pela própria Nilze, a artista se lembra dos tempos de menina e conduz o samba para uma roda de choro com seu bandolim. Mesmo sem ser cantora de voz e interpretações marcantes, Nilze reitera em O Que É Meu a boa impressão deixada por seu primeiro álbum fora do universo instrumental, Estava Faltando Você (2005). Com produção assinada pela própria Nilze em parceria com Edu Krieger, O Que É Meu tem alguns momentos triviais - como a regravação do samba Chorei (Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte) - e outros bem surpreendentes. O samba de roda que dá título ao disco, O Que É Meu, da lavra de Toninho Geraes e Toninho Nascimento, é bacana. Na mesma praia baiana em que são recorrentes as evocações aos deuses e santos, Nilze também surpreende positivamente ao cantar o ijexá Santa Cecília, título da profícua parceria de Tuninho Galante com Marceu Vieira. Já a abordagem do samba Banho de Manjericão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) - apropriadamente ambientado em clima de terreiro pelo arranjo do cavaquinista Alessandro Cardozo - se ressente da comparação inevitável com o registro original de Clara Nunes (1942 - 1983) e com a recente regravação de Selma Reis, que deu banho de interpretação ao reviver o samba em disco dedicado à obra de Paulo César Pinheiro. O canto suave de Nilze se ajusta mais a um delicado lado B da obra de Ivone Lara e Délcio Carvalho, Doces Recordações. Já Lamento da Lavadeira (Monsueto Menezes, João Vieira Filho e Nilo Chagas) soa interessante pela citação (não creditada) de Retirantes, o tema de Dorival Caymmi (1914 - 2008) e Jorge Amado (1912 - 2001) definitivamente associado à novela A Escrava Isaura (1976). Hábil na garimpagem de repertório do passado, a artista também revive Mal de Amor, samba de Benil Santos e Raul Sampaio que jazia esquecido após as gravações de Elza Soares (em 1967, em suingante disco dividido com Miltinho) e Paulinho da Viola (em 1971). Fora do terreiro e do quintal, Nilze saúda no xote autoral Nordestino o mesmo Recife celebrado na pisada do maracatu por Gonzaguinha (1945 - 1991) em Festa, outra inusitada regravação do disco. Em tema também autoral, a cantora saúda mulheres emblemáticas na cultura brasileira. Trata-se do samba lento Ela Sabe Quem É, composto em parceria com Camila Costa, colega de Nilze no grupo Sururu na Roda. Enfim, produção, arranjos e repertório valorizam o canto leve de Nilze Carvalho em seu oportuno segundo disco.