Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DVD 'Iluminante' joga luz sobre a via-crúcis de Áurea Martins em cena

Resenha de CD e DVD
Título: Iluminante
Artista: Áurea Martins
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Cantora carioca revelada em 1969 no programa de calouros A Grande Chance, comandado pelo apresentador Flávio Cavalcanti (1923 - 1986) na TV Tupi, Áurea Martins iniciou em 1972 carreira fonográfica que somente se tornaria regular a partir de 2008 com a edição pela gravadora Biscoito Fino de Até Sangrar, o terceiro álbum da intérprete, mas o primeiro a obter alguma visibilidade. Quarenta anos depois de sua estreia em disco, Áurea Martins - senhora cantora que se impôs pela categoria vocal na noite carioca enquanto as portas da indústria fonográfica estavam fechadas - tem lançado aos 72 anos, enfim, seu primeiro e merecido registro audiovisual em DVD, Iluminante. Editada também em CD pela gravadora Biscoito Fino neste mês de agosto de 2012, a gravação - feita em abril de 2011 como se fosse ao vivo, mas captada em estúdio, longe dos burburinhos das plateias de shows - se desvia da usual rota retrospectiva dos DVDs. Revisão que, no caso de Áurea, seria até oportuna pelo fato de os dois primeiros álbuns da cantora (O Amor em Paz e Áurea Martins, de 1972 e 2004, respectivamente) permanecerem desconhecidos do público. Contudo, o roteiro de Iluminante rebobina as mesmas músicas amarguradas da obra de Hermínio Bello de Carvalho às quais Áurea já dera voz em seu anterior projeto fonográfico, De Ponta Cabeça (2010). Neste disco, a cantora suportou com classe o calvário amoroso de Hermínio, amparada pelos vigorosos arranjos do violonista Lucas Porto. Em Iluminante, DVD que abre com texto narrado pela atriz Fernanda Montenegro sobre o canto da artista, Áurea refaz essa via-crúcis na solidão do estúdio - novamente conduzida pela firme direção musical de Lucas Porto - em roteiro que reitera a técnica e a categoria da intérprete. Os 10 primeiros números dos 15 que formam o roteiro expõem de novo o calvário romântico de Hermínio. Sintomaticamente, é quando que se desprega da cruz lhe imposta pelo cancioneiro do produtor que Áurea Martins mais se ilumina. A cantora percorre Pela Rua (J. Ribamar e Dolores Duran) a capella, se garante na velocidade do tiroteio verbal de Bala com Bala (João Bosco e Aldir Blanc), engata fraternal dueto com Chico Buarque em Maninha (Chico Buarque) e se ilumina com a luz de Janelas Abertas (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) no registro que une sua voz somente ao piano de Gabriel Geszti. Na costura de Ilusão à Toa (Johnny Alf) com Pensando em Ti (Herivelto Martins e David Nasser) e de Nada Por Mim (Herbert Vianna e Paula Toller) com Baralho da Vida (Ulisses de Oliveira), feitas originalmente no CD Até Sangrar, a banda de Áurea dá vez ao Terra Trio, o conjunto de Zé Maria Rocha (piano), Fernando Costa (contrabaixo) e Ricardo Costa (bateria) que tocou muito com Áurea nos bares, boates e bailes da vida. Nos extras, o registro de Embarcação (Chico Buarque e Francis Hime) - feito com o violão de Domingos Teixeira em tom mais informal, porém com o rigor estilístico que pauta as interpretações da cantora - mostra a bravura vocal de Áurea Martins, valente ao enfrentar há 40 anos a via-crúcis de todo artista que desafia as leis implacáveis do mercado fonográfico para defender sua integridade artística.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Cantora carioca revelada em 1969 no programa de calouros A Grande Chance, comandado pelo apresentador Flávio Cavalcanti (1923 - 1986) na TV Tupi, Áurea Martins iniciou em 1972 carreira fonográfica que somente se tornaria regular a partir de 2008 com a edição pela gravadora Biscoito Fino de Até Sangrar, o terceiro álbum da intérprete, mas o primeiro a obter alguma visibilidade. Quarenta anos depois de sua estreia em disco, Áurea Martins - senhora cantora que se impôs pela categoria vocal na noite carioca enquanto as portas da indústria fonográfica estavam fechadas - tem lançado aos 71 anos, enfim, seu primeiro e merecido registro audiovisual em DVD, Iluminante. Editada também em CD pela gravadora Biscoito Fino neste mês de agosto de 2012, a gravação - feita em abril de 2011 como se fosse ao vivo, mas captada em estúdio, longe dos burburinhos das plateias de shows - se desvia da usual rota retrospectiva dos DVDs. Revisão que, no caso de Áurea, seria até oportuna pelo fato de os dois primeiros álbuns da cantora (O Amor em Paz e Áurea Martins, de 1972 e 2004, respectivamente) permanecerem desconhecidos do público. Contudo, o roteiro de Iluminante rebobina as mesmas músicas amarguradas da obra de Hermínio Bello de Carvalho às quais Áurea já dera voz em seu anterior projeto fonográfico, De Ponta Cabeça (2010). Neste disco, a cantora suportou com classe o calvário amoroso de Hermínio, amparada pelos vigorosos arranjos do violonista Lucas Porto. Em Iluminante, DVD que abre com texto narrado pela atriz Fernanda Montenegro sobre o canto da artista, Áurea refaz essa via-crúcis na solidão do estúdio - novamente conduzida pela firme direção musical de Lucas Porto - em roteiro que reitera a técnica e a categoria da intérprete. Os 10 primeiros números dos 15 que formam o roteiro expõem de novo o calvário romântico de Hermínio. Sintomaticamente, é quando que se desprega da cruz lhe imposta pelo cancioneiro do produtor que Áurea Martins mais se ilumina. A cantora percorre Pela Rua (J. Ribamar e Dolores Duran) a capella, se garante na velocidade do tiroteio verbal de Bala com Bala (João Bosco e Aldir Blanc), engata fraternal dueto com Chico Buarque em Maninha (Chico Buarque) e se ilumina com a luz de Janelas Abertas (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) no registro que une sua voz somente ao piano de Gabriel Geszti. Na costura de Ilusão à Toa (Johnny Alf) com Pensando em Ti (Herivelto Martins e David Nasser) e de Nada Por Mim (Herbert Vianna e Paula Toller) com Baralho da Vida (Ulisses de Oliveira), feitas originalmente no CD Até Sangrar, a banda de Áurea dá vez ao Terra Trio, o conjunto de Zé Maria Rocha (piano), Fernando Costa (contrabaixo) e Ricardo Costa (bateria) que tocou muito com Áurea nos bares, boates e bailes da vida. Nos extras, o registro de Embarcação (Chico Buarque e Francis Hime) - feito com o violão de Domingos Teixeira em tom mais informal, porém com o rigor estilístico que pauta as interpretações da cantora - mostra a bravura vocal de Áurea Martins, valente ao enfrentar há 40 anos a via-crúcis de todo artista que desafia as leis implacáveis do mercado fonográfico para defender sua integridade artística.

Anônimo disse...

Gosto do CD do Hermínio, mas acho até sangrar superior e tem mais a cara de cantora da noite.

Rafael disse...

Grande cantora, que infelizmente só teve o seu talento reconhecido tardiamente. Porém como já diz aquela máxima, "antes tarde do que nunca!".

Flávio Lages disse...

Não conhecia Áurea até semana passada quando assisti a seu DVD no Canal Brasil (se não me engano). Além do inegável talento da interprete, os elaborados arranjos e a consistente execução dos mesmos pelo conjunto de músicos que fazem parte de Iluminante ressaltam a enorme complexidade musical que tem a nossa MPB, equiparável ao mais elaborado Jazz, porém com a dificuldade técnica que somente o choro pode apresentar. Excepcional.