Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Há algo fora da ordem mundial no tributo internacional aos 70 de Caetano

Resenha de CD
Título: A Tribute to Caetano Veloso
Artista: Vários
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 1/2

Chega a ser irônico que uma fadista de sotaque tradicional, Ana Moura, seja o maior destaque do elenco multinacional recrutado para o disco idealizado pelo produtor Paul Ralphes para festejar os 70 anos completados por Caetano Veloso neste mês de agosto de 2012. Com 16 gravações inéditas, A Tribute to Caetano Veloso resulta irregular, aquém da importância do projeto. A opção parece ter sido por um tributo globalizado, formatado em vários idiomas dentro de atmosfera indie já sinalizada pela já previamente divulgada regravação de You Don't Know me (1972) pelo grupo inglês The Magic Numbers  Longe desse universo descolado, Ana Moura transforma Janelas Abertas nº 2 (1971) em fado à moda tradicional e paira acima dos altos e baixos. Se Seu Jorge brilha com sua voz aveludada em Peter Gast (1983), em gravação minimalista urdida com a guitarra de Toninho Horta e o baixo de Arismar Espírito Santo, Qinho faz qualquer coisa de Qualquer Coisa (1975). Se o catalão Miguel Poveda gasta seu espanhol para cantar Força Estranha /  Fuerza Extraña (1978) em registro intenso que dilui a poesia dos versos de canção já tão bem gravada por intérpretes como Roberto Carlos e Gal Costa, Marcelo Camelo põe o samba De Manhã (1965) dentro de seu universo particular. Se Céu esconde o suingue de Eclipse Oculto (1983) em abordagem tão insossa quanto reverente arranjada pelo guitarrista Fernando Catatau, Tulipa Ruiz reproduz no estúdio o já aplaudido registro de Da Maior Importância (1973) que apresentou nos palcos ao longo da turnê do disco Efêmera (2010). Se Devendra Banhart e Rodrigo Amarante constrangem com uma pretensiosa releitura de Quem me Dera (1966), turbinada com trechos de várias músicas de Caetano, Mariana Aydar reitera sua forte personalidade em climático registro blue de Araçá Azul (1973). Se Beck também aposta em gravação climática ao revestir Michelangelo Antonioni (2000) de aura quase sagrada, em faixa cantada em inglês, Chrissie Hynde se deixa levar pelas águas do trio + 2 (Moreno Veloso, Kassin e Domenico Lancellotti) ao embarcar em The Empty Boat (1969). Se Sérgio Dias viaja feliz por London London (1970) com o nome de seu grupo Mutantes (em bela combinação de piano, sintetizadores e sitar), Luisa Maita transita indecisa por Trilhos Urbanos (1979) em percurso que soaria mais inventivo se a cantora não tivesse medo de seguir pelo caminho psicodélico sugerido pelo arranjo ao fim da faixa. Se o uruguaio Jorge Drexler mistura versos em espanhol e em português ao cantar Fora da Ordem (1992) em tom apático, MoMo dá sedutor clima (quase) épico a Alguém Cantando (1977) em gravação orquestrada com cordas e o vocal de Karina Zeviani. Enfim, A Tribute to Caetano Veloso soa irregular - traço até comum em discos do gênero - enquanto globaliza a obra do compositor. Entre erros e acertos, paira a sensação de que alguma coisa está fora da ordem mundial no CD.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Chega a ser irônico que uma fadista de sotaque tradicional, Ana Moura, seja o maior destaque do elenco multinacional recrutado para o disco idealizado pelo produtor Paul Ralphes para festejar os 70 anos completados por Caetano Veloso neste mês de agosto de 2012. Com 16 gravações inéditas, A Tribute to Caetano Veloso resulta irregular, aquém da importância do projeto. A opção parece ter sido por um tributo globalizado, formatado em vários idiomas dentro de atmosfera indie já sinalizada pela já previamente divulgada regravação de You Don't Know me (1972) pelo grupo inglês The Magic Numbers Longe desse universo descolado, Ana Moura transforma Janelas Abertas nº 2 (1971) em fado à moda tradicional e paira acima dos altos e baixos. Se Seu Jorge brilha com sua voz aveludada em Peter Gast (1983), em gravação minimalista urdida com a guitarra de Toninho Horta e o baixo de Arismar Espírito Santo, Qinho faz qualquer coisa de Qualquer Coisa (1975). Se o catalão Miguel Poveda gasta seu espanhol para cantar Força Estranha / Fuerza Extraña (1978) em registro intenso que dilui a poesia dos versos de canção já tão bem gravada por intérpretes como Roberto Carlos e Gal Costa, Marcelo Camelo põe o samba De Manhã (1965) dentro de seu universo particular. Se Céu esconde o suingue de Eclipse Oculto (1983) em abordagem tão insossa quanto reverente arranjada pelo guitarrista Fernando Catatau, Tulipa Ruiz reproduz no estúdio o já aplaudido registro de Da Maior Importância (1973) que apresentou nos palcos ao longo da turnê do disco Efêmera (2010). Se Devendra Banhart e Rodrigo Amarante constrangem com pretensiosa leitura de Quem me Dera (1966), turbinada com trechos de várias músicas de Caetano, Mariana Aydar reitera sua forte personalidade em climático registro blue de Araçá Azul (1973). Se Beck também aposta em gravação climática ao revestir Michelangelo Antonioni (2000) de aura quase sagrada, em faixa cantada em inglês, Chrissie Hynde se deixa levar pelas águas do trio + 2 (Moreno Veloso, Kassin e Domenico Lancellotti) ao embarcar em The Empty Boat (1969). Se Sérgio Dias viaja feliz por London London (1970) com o nome de seu grupo Mutantes (em bela combinação de piano, sintetizadores e sitar), Luisa Maita transita indecisa por Trilhos Urbanos (1979) em percurso que soaria mais inventivo se a cantora não tivesse medo de seguir pelo caminho psicodélico sugerido pelo arranjo ao fim da faixa. Se o uruguaio Jorge Drexler mistura versos em espanhol e em português ao cantar Fora da Ordem (1992) em tom apático, MoMo dá sedutor clima épico a Alguém Cantando (1977) em gravação orquestrada com cordas e o vocal de Karina Zeviani. Enfim, A Tribute to Caetano Veloso soa irregular - traço até comum em discos do gênero - enquanto globaliza a obra do compositor. Entre erros e acertos, paira a sensação de que alguma coisa está fora da ordem mundial no CD.

Diogo Santos disse...

Mick Jagger e eu somos apaixonados por Ana Moura. Não me surpreenda que ela tenha se destacado!

Claudio disse...

Tb adoro Ana Moura..cantora maravilhosa..!!!

Eulalia Moreno disse...

Eu considerava antológica a interpretação de Maria Bethânia para essa música no seu " Maria Bethânia Vianna Telles Veloso" de 1969( se não me falha a memória) mas, confesso, essa de Ana Moura é fantástica!! A letra hermética de Caetano, as guitarras, a voz " para dentro". Linda produção de José Mario Branco, um dos meus ídolos da música de intervenção portuguesa. Obrigada Mauro por ter observado , no meio de tantas " feras", a excelente Ana Moura que a cada dia mais se engrandece no universo do Fado.

Maria disse...

A versão de Marcelo Camelo ficou muito linda!

Diogo Santos disse...

Que bom ver Eulália Moreno por aqui

lurian disse...

Gostei de quase nada...

Ana Moura é boa sim, mas superar aquele clima assustador do arranjo hitchcokiano genial dado por Maria Bethânia em plena ditadura militar, anda longe!!! É uma nova proposta para ouvis a música. Muito já se disse que Gal Costa é insuperável e definitiva, mas está na hora de reconhecer que muitas interpretações da abelha rainha também são eternas!

No mais... Muita pretensão em se indie. Ser 'indie' é isso mesmo produção?

...

Luca disse...

essa gente se acha,mas esse tributo ficou a cara do Caetano, ele adora essa turma, deve tá achando o máximo

Pedro Progresso disse...

me senti da mesma forma quando ouvi, Mauro. mas gostei bastante de Céu, Tulipa, Seu Jorge, Ana Moura e Beck. mas todo mundo deixou bastante a desejar, esse climinha indie funcionaria se fosse uma faixa do disco. ele inteiro, destoou.