Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Bethânia reconta bem sua história com Chico na presença do compositor

Resenha de show - Segunda visão
Evento: Circuito Cultural Banco do Brasil
Título: Maria Bethânia Interpreta Chico Buarque
Artista: Maria Bethânia (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de agosto de 2012
Cotação: * * * *

Como diz o título do samba lançado por Chico Buarque em 1966 e revivido por Maria Bethânia no show em que canta somente músicas do compositor, quem te viu, quem te vê... Talvez estimulada (e desafiada) pela presença na plateia do próprio Chico, instalado com discrição num dos camarotes da casa Vivo Rio, Bethânia fez para os cariocas na noite de 19 de agosto de 2012 a que possivelmente foi a melhor apresentação do espetáculo dirigido por Monique Gardenberg para o Circuito Cultural Banco do Brasil. Sem as hesitações e os erros de apresentações anteriores, Bethânia se portou segura e feliz em cena. Dona do dom que Deus lhe deu, a cantora alterou o roteiro - com a inclusão de músicas como o samba Ela Desatinou (Chico Buarque, 1968) e a modinha Até Pensei (Chico Buarque, 1968), entoada com um sorriso nos lábios que diluiu a melancolia impressa no tema - e fez um show redondo, coeso. Sim, a rigor, Bethânia recicla ênfases, gestos e músicas de Chico neste espetáculo que reconta e resume sua história com o compositor. Mas a intérprete estava em seus melhores dias dentro de seu padrão atual de interpretação, mais comedido, de serenidade condizente com seus 66 anos. Já no primeiro número - Sonho Impossível (The Impossible Dream) (J. Darion e M. Leigh em versão de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1975) - ficou evidente que a dramaticidade de outrora já repousa no glorioso passado da intérprete. Mas nem por isso Bethânia deixa de ser Bethânia. A gana com que sorveu Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) foi digna da ovação recebida pela cantora ao fim do número. Feita com força adicional, a habitual mise-en-scène em Olhos nos Olhos (Chico Buarque, 1976) também surtiu grande efeito na plateia. Sim, no teatro da canção, Maria Bethânia domina como nenhuma outra cantora os dramas contidos na obra do compositor. É por isso que, mesmo apresentando show a rigor preguiçoso, com roteiro que costura os pontos em que sua trajetória cruzou com a de Chico com algumas poucas novidades como De Volta ao Samba (Chico Buarque, 1993), Bethânia se confirmou dona do dom. "Chico Buarque de Holanda está presente", disse a cantora ao informar o público que o compositor estava na plateia. Foi com a voz de uma pessoa vitoriosa que a intérprete deu essa informação ao voltar para o bis, iniciado com A Banda (Chico Buarque, 1966) - número em que Bethânia lembra que Nara Leão (1942 - 1989) foi a "primeira grande intérprete de Chico Buarque" - e finalizado com a carnavalizante Não Existe Pecado ao Sul do Equador (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973). Naquela altura, Maria Bethânia já era senhora absoluta da cena.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Como diz o título do samba lançado por Chico Buarque em 1966 e revivido por Maria Bethânia no show em que canta somente músicas do compositor, quem te viu, quem te vê... Talvez estimulada (e desafiada) pela presença na plateia do próprio Chico, instalado com discrição num dos camarotes da casa Vivo Rio, Bethânia fez para os cariocas na noite de 19 de agosto de 2012 a que possivelmente foi a melhor apresentação do espetáculo dirigido por Monique Gardenberg para o Circuito Cultural Banco do Brasil. Sem as hesitações e os erros de apresentações anteriores, Bethânia se portou segura e feliz em cena. Dona do dom que Deus lhe deu, a cantora alterou o roteiro - com a inclusão de músicas como o samba Ela Desatinou (Chico Buarque, 1968) e a modinha Até Pensei (Chico Buarque, 1968), entoada com um sorriso nos lábios que diluiu a melancolia impressa no tema - e fez um show redondo, coeso. Sim, a rigor, Bethânia recicla ênfases, gestos e músicas de Chico neste espetáculo que reconta e resume sua história com o compositor. Mas a intérprete estava em seus melhores dias dentro de seu padrão atual de interpretação, mais comedido, de serenidade condizente com seus 66 anos. Já no primeiro número - Sonho Impossível (The Impossible Dream) (J. Darion e M. Leigh em versão de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1975) - ficou evidente que a dramaticidade de outrora já repousa no glorioso passado da intérprete. Mas nem por isso Bethânia deixa de ser Bethânia. A gana com que sorveu Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) foi digna da ovação recebida pela cantora ao fim do número. Feita com força adicional, a habitual mise-en-scène em Olhos nos Olhos (Chico Buarque, 1976) também surtiu grande efeito na plateia. Sim, no teatro da canção, Maria Bethânia domina como nenhuma outra cantora os dramas contidos na obra do compositor. É por isso que, mesmo apresentando show a rigor preguiçoso, com roteiro que costura os pontos em que sua trajetória cruzou com a de Chico com algumas poucas novidades como De Volta ao Samba (Chico Buarque, 1993), Bethânia se confirmou dona do dom. "Chico Buarque de Holanda está presente", disse a cantora ao informar o público que o compositor estava na plateia. Foi com a voz de uma pessoa vitoriosa que a intérprete deu essa informação ao voltar para o bis, iniciado com A Banda (Chico Buarque, 1966) - número em que Bethânia lembra que Nara Leão (1942 - 1989) foi a "primeira grande intérprete de Chico Buarque" - e finalizado com a carnavalizante Não Existe Pecado ao Sul do Equador (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973). Naquela altura, Maria Bethânia já era senhora absoluta da cena.

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) disse...

Bethânia, a grande dama do "drama em música" da Música Popular Brasileira...
Sou fã de ser fã, e fã de quem é fã...

Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.

rafael disse...

Vale lembrar que a banda estava afiadíssima,sob a batuta do nosso maestro Jaime Alem, o arranjo pra 'brejo da cruz' foi de uma beleza infinita.