Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Saulo engrossa o caldeirão ralo do axé e consolida carreira solo com 'Baiuno'

Resenha de CD
Título: Baiuno
Artista: Saulo Fernandes
Gravadora: Rua 15 Produções
Cotação: * * * 1/2

"A Bahia é fonte que jorra o tempo todo". A frase de Saulo Fernandes mostra a confiança que o artista baiano deposita na musicalidade sua terra. Primeiro álbum de estúdio gravado pelo cantor e compositor após a saída do posto de vocalista da Banda Eva, efetivada no Carnaval de 2013, Baiuno engrossa o caldeirão hoje ralo da axé music ao mesmo tempo em que extrapola as fronteiras do afro-pop-baiano, saudando os rincões do sertão brasileiro em Mokhtar (Saulo Fernandes), tema gravado com o acordeom de Mestrinho. Sim, no período em que foi a voz da Banda Eva, entre 2002 e 2013, Saulo também seguiu a cartilha mercadológica do axé, sem evitar os vícios do gênero. Mas Baiuno - sucessor do bom CD e DVD Saulo ao vivo (Universal Music, 2013) - não vai chegar a surpreender quem ouviu sem pré-conceito o álbum duplo CNRT - Conexão Nagô Rede Tambor (Som Livre, 2012), último disco gravado por Saulo com a Eva. Ali, naquele ambicioso projeto duplo, já havia a intenção de se libertar das fórmulas comerciais do axé. Missão que Baiuno leva adiante, celebrando sem clichês a baianidade nagô da terra de Dorival Caymmi (1914-2008) sem renegá-la. Ao contrário. Música alocada na abertura do disco produzido por Munir Hossn com Marcelus Leone, Tambor menino (Munir Hossn) - faixa gravada com a voz da cantora africana Julia Sarr - já sinaliza que o suingue percussivo da Bahia se perpetua a cada geração. A letra se afina com os versos de Erê de dois (Saulo Fernandes, Paulinho Rocha e Munir Hossn). Baiuno jamais despreza o universo e a terra que tem dado pão e poesia ao artista. Música gravada com a voz de Dom Chicla, Veloso cidade (Saulo Fernandes) saúda Salvador, capital do axé e da indústria da carnavalizante música pop baiana. Indústria legitimada pela população soteropolitana, alvo do tributo de Povoesia (Saulo Fernandes, Ênio Taquari, Rudson Almeida, Munir Hossn), música gravada com a voz do recorrente Munir Hossn e o piano do músico congolês Ray Lema. A propósito, toques sutis de sons de países africanos - como Angola, Camarões, Cabo Verde, Moçambique e Senegal - estão entranhados em Baiuno, podendo ser ouvidos em Perudá (Saulo Fernandes, Ênio Taquari, Alcione Rocha e Ronaldo Cavalcante), faixa gravada com a voz de Ray Lema e o baixo do músico camaronês Etienne Mbappe. De toda forma, Baiuno é disco de tom pop que dialoga com artistas de outras terras como o paulistano Tó Brandileone - integrante do grupo paulistano 5 a Seco e cantor convidado de Leve-me ao mar (Saulo Fernandes, João Lucas e Lau Fernandes) - sem perder a tal baianidade nagô. Compositor habitualmente inspirado, o baiano Márcio Mello dá boa contribuição ao repertório de Baiuno com Prece ao coração. Uma das referências máximas da música da Bahia, Roberto Mendes, compositor de Santo Amaro (BA), põe voz e aval em Floresça (Saulo Fernandes e Gigi), canção pop de vocação popular, potencial hit do cancioneiro inédito. De autoria da mesma dupla criadora de Floresça, formada por Saulo com o compositor Gigi (parceiro de Ivete Sangalo), Nosso amor é xote - gravado com a voz e com o acordeom de Mestrinho - que remete às canções românticas do compositor pernambucano Dominguinhos (1941 - 2013). Enfim, Baiuno consolida a carreira solo de Saulo, iniciada timidamente em 1991 com a gravação do adolescente LP Falando de esperança (Independente, 1992) antes de formar bandas como Mukeka e Chica Fé. A conexão nagô está boa.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ "A Bahia é fonte que jorra o tempo todo". A frase de Saulo Fernandes mostra a confiança que o artista baiano deposita na musicalidade sua terra. Primeiro álbum de estúdio gravado pelo cantor e compositor após a saída do posto de vocalista da Banda Eva, efetivada no Carnaval de 2013, Baiuno engrossa o caldeirão hoje ralo da axé music ao mesmo tempo em que extrapola as fronteiras do afro-pop-baiano, saudando os rincões do sertão brasileiro em Mokhtar (Saulo Fernandes), tema gravado com o acordeom de Mestrinho. Sim, no período em que foi a voz da Banda Eva, entre 2002 e 2013, Saulo também seguiu a cartilha mercadológica do axé, sem evitar os vícios do gênero. Mas Baiuno - sucessor do bom CD e DVD Saulo ao vivo (Universal Music, 2013) - não vai chegar a surpreender quem ouviu sem pré-conceito o álbum duplo CNRT - Conexão Nagô Rede Tambor (Som Livre, 2012), último disco gravado por Saulo com a Eva. Ali, naquele ambicioso projeto duplo, já havia a intenção de se libertar das fórmulas comerciais do axé. Missão que Baiuno leva adiante, celebrando sem clichês a baianidade nagô da terra de Dorival Caymmi (1914-2008) sem renegá-la. Ao contrário. Música alocada na abertura do disco produzido por Munir Hossn com Marcelus Leone, Tambor menino (Munir Hossn) - faixa gravada com a voz da cantora africana Julia Sarr - já sinaliza que o suingue percussivo da Bahia se perpetua a cada geração. A letra se afina com os versos de Erê de dois (Saulo Fernandes, Paulinho Rocha e Munir Hossn). Baiuno jamais despreza o universo e a terra que tem dado pão e poesia ao artista. Música gravada com a voz de Dom Chicla, Veloso cidade (Saulo Fernandes) saúda Salvador, capital do axé e da indústria da carnavalizante música pop baiana. Indústria legitimada pela população soteropolitana, alvo do tributo de Povoesia (Saulo Fernandes, Ênio Taquari, Rudson Almeida, Munir Hossn), música gravada com a voz do recorrente Munir Hossn e o piano do músico congolês Ray Lema. A propósito, toques sutis de sons de países africanos - como Angola, Camarões, Cabo Verde, Moçambique e Senegal - estão entranhados em Baiuno, podendo ser ouvidos em Perudá (Saulo Fernandes, Ênio Taquari, Alcione Rocha e Ronaldo Cavalcante), faixa gravada com a voz de Ray Lema e o baixo do músico camaronês Etienne Mbappe. De toda forma, Baiuno é disco de tom pop que dialoga com artistas de outras terras como o paulistano Tó Brandileone - integrante do grupo paulistano 5 a Seco e cantor convidado de Leve-me ao mar (Saulo Fernandes, João Lucas e Lau Fernandes) - sem perder a tal baianidade nagô. Compositor habitualmente inspirado, o baiano Márcio Mello dá boa contribuição ao repertório de Baiuno com Prece ao coração. Uma das referências máximas da música da Bahia, Roberto Mendes, compositor de Santo Amaro (BA), põe voz e aval em Floresça (Saulo Fernandes e Gigi), canção pop de vocação popular, potencial hit do cancioneiro inédito. De autoria da mesma dupla criadora de Floresça, formada por Saulo com o compositor Gigi (parceiro de Ivete Sangalo), Nosso amor é xote - gravado com a voz e com o acordeom de Mestrinho - que remete às canções românticas do compositor pernambucano Dominguinhos (1941 - 2013). Enfim, Baiuno consolida a carreira solo de Saulo, iniciada timidamente em 1991 com a gravação do adolescente LP Falando de esperança (Independente, 1992) antes de formar bandas como Mukeka e Chica Fé. A conexão nagô está boa.

Unknown disse...

Eu já tinha escutado umas duas faixas do álbum no YouTube e gostei demais agora e ouvir o disco por completo uma vez falei aqui que Saulo é uma das melhores artistas da música da Bahia atualmente te e vários riram coitados nada sabem. A quem interessar no you tube tem a estreia do show Baiunu, irei assistir hj

Unknown disse...

Sua saída do Eva foi boa para ele realmente botar pra fora toda sua alma coisa que veio aparecer como.Mauro disse no CNRT, o bom do Eva foi que ele conseguiu uma visibilidade e sucesso nacional merecidos.. Salve salve Saulo