Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 30 de junho de 2015

Poesia quente impede que Lira se perca no solo 'O labirinto e o desmantelo'

Resenha de CD
Título: O labirinto e o desmantelo
Artista: Lira
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 

Aos primeiros acordes de Desamar (Lira e Guri Assis Brasil), primeira música do segundo álbum solo de José Paes Lira, o ouvinte fica com a sensação de que vai ouvir um rock. Essa sensação até permanece ao longo da faixa. Contudo, O labirinto e o desmantelo jamais pode ser caracterizado como um disco de rock. É, sim, um disco que transita por caminhos cada vez mais universais e menos regionais, afastando Lira, o o pernambucano Lirinha, do som do grupo que o projetou, Cordel do Fogo Encantado. Apesar de eventuais referências regionais como a montanha que dá nome à bela Jabitacá (Lira, Junio Barreto e Bactéria), última das 11 músicas autorais do álbum, o cordel de Lira está cada vez mais urbano, quase pop. A propósito, a gravação de Jabitacá com Gal Costa - lançada no álbum Estratosférica (Sony Music, 2015) - é superior ao registro do autor, simplesmente porque a voz da cantora tem mais brilho para encarar a canção que remove montanhas psicodélicas para fazer uma declaração de amor. Aviso aos (intérpretes) navegantes: há outras boas músicas em O labirinto e o desmantelo à espera de cantores com artilharia vocal mais viçosa. Uma das seis parcerias de Lira com Pupillo, produtor do disco, Pra fora da terra é a mais bonita. O labirinto e o desmantelo destila poesia. Tanto que as melodias nem sempre acompanham as forças dos versos imagéticos de músicas como Odin (Lira e Pupillo), Nuvem (Lira e Vítor Araújo) e Mergulho (Lira). Versos como "Transformei a ferida / Numa orquídea de luz mineral" (de Ser, uma das parcerias de Lira e Pupillo) ou "Entra no espelho do meu quarto / Eu moro dentro de um relógio / Na torre do alto" (de Vasto, outra música de Lira e Pupillo) indicam combinações de referências como a poesia armorial, a prosa rimada dos cordelistas nordestinos e o discurso sentimental da canção popular. A poesia de O labirinto e o desmantelo é quente, como mostra a alta temperatura erótica de Filtre-me (Céu, Lira e Pupillo), música cantada por Pupillo em dueto com a cantora e compositora paulistana Céu, parceira no tema. Mas o som e o canto do artista soam amenos em contraste que alimenta o disco, mas, ao mesmo tempo indica que Lira parecia mais à vontade no ponto de fervura do Cordel do Fogo Encantado, algo que já detectado no anterior Lira (Independente,  2014), ligeiramente superior pelo tom mais melodioso e harmonioso.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Aos primeiros acordes de Desamar (Lira e Guri Assis Brasil), primeira música do segundo álbum solo de José Paes Lira, o ouvinte fica com a sensação de que vai ouvir um rock. Essa sensação até permanece ao longo da faixa. Contudo, O labirinto e o desmantelo jamais pode ser caracterizado como um disco de rock. É, sim, um disco que transita por caminhos cada vez mais universais e menos regionais, afastando Lira, o o pernambucano Lirinha, do som do grupo que o projetou, Cordel do Fogo Encantado. Apesar de eventuais referências regionais como a montanha que dá nome à bela Jabitacá (Lira, Junio Barreto e Bactéria), última das 11 músicas autorais do álbum, o cordel de Lira está cada vez mais urbano, quase pop. A propósito, a gravação de Jabitacá com Gal Costa - lançada no álbum Estratosférica (Sony Music, 2015) - é superior ao registro do autor, simplesmente porque a voz da cantora tem mais brilho para encarar a canção que remove montanhas psicodélicas para fazer uma declaração de amor. Aviso aos (intérpretes) navegantes: há outras boas músicas em O labirinto e o desmantelo à espera de cantores com artilharia vocal mais viçosa. Uma das seis parcerias de Lira com Pupillo, produtor do disco, Pra fora da terra é a mais bonita. O labirinto e o desmantelo destila poesia. Tanto que as melodias nem sempre acompanham as forças dos versos imagéticos de músicas como Odin (Lira e Pupillo), Nuvem (Lira e Vítor Araújo) e Mergulho (Lira). Versos como "Transformei a ferida / Numa orquídea de luz mineral" (de Ser, uma das parcerias de Lira e Pupillo) ou "Entra no espelho do meu quarto / Eu moro dentro de um relógio / Na torre do alto" (de Vasto, outra música de Lira e Pupillo) indicam combinações de referências como a poesia armorial, a prosa rimada dos cordelistas nordestinos e o discurso sentimental da canção popular. A poesia de O labirinto e o desmantelo é quente, como mostra a alta temperatura erótica de Filtre-me (Céu, Lira e Pupillo), música cantada por Pupillo em dueto com a cantora e compositora paulistana Céu, parceira no tema. Mas o som e o canto do artista soam amenos em contraste que alimenta o disco, mas, ao mesmo tempo indica que Lira parecia mais à vontade no ponto de fervura do Cordel do Fogo Encantado, algo que já detectado no anterior Lira (Independente, 2014), ligeiramente superior pelo tom mais melodioso e harmonioso.

Luca disse...

a gravação do Lira tem mais a ver, é que o Mauro só tem ouvido pra cantoras, aí fica dificil ser imparcial