Mauro Ferreira no G1

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domingo, 7 de setembro de 2014

Cordas refinadas de 'Caymmi centenário' avivam brilho de solos de Nana

Resenha de CD
Título: Caymmi - Dorival Caymmi centenário
Artistas: Caetano Veloso, Chico Buarque, Danilo Caymmi, Dori Caymmi, Gilberto Gil,
              Mario Adnet e Nana Caymmi
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

A bissexta reunião de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil no álbum Caymmi - Dorival Caymmi centenário está longe de arrebatar ou justificar a compra do disco em que os maestros Dori Caymmi e Mario Adnet orquestram 15 conhecidos títulos do cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em tributo ao centenário do compositor baiano. O trio está reunido na faixa que abre o CD, O que é que a baiana tem? (1939), mas não vai no Bonfim com os balangandãs exigidos pelo samba buliçoso de Caymmi. Como já ensinou o mestre João Gilberto, um violão pode ser suficiente para cair no samba de Caymmi. O atual tributo transita na trilha inversa, optando pela opulência em caminho que - justiça seja feita - também se depara diversas vezes com a beleza. Invariavelmente refinadas, as cordas orquestradas por Adnet e Dori no CD caem bem nos sambas-canção - e aí é preciso ressaltar a maestria da interpretação de Danilo Caymmi e do arranjo de Dori em Nem eu (1952) - e roçam o sublime nos dois solos de Nana Caymmi, destaques absolutos do álbum. Sargaço mar (1985) ganha sua melhor gravação. A orquestração de Adnet acentua a profundidade dessa doída e desesperada canção de fim de som. Nana arrebenta no tom exato do tema. Da mesma forma, Dori ilumina os tons sombrios da lagoa escura que emerge n'A lenda do Abaeté (1948). Como intérprete, Dori alcança seu melhor momento com João Valentão (1953) enquanto a escolha de Danilo para dar mais uma vez a receita do Vatapá (1942) peca pela previsibilidade. Sem comprometer, Adnet dá voz opaca ao samba A vizinha do lado (1946). Quanto a Caetano, Chico e Gil, os três cantam Caymmi em tons baixos, graves. Chico se desvia dos tons mais altos de Dora (1945) e delineia os contornos de Marina (1947) com precisão. Caetano realça toda a beleza de Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951) e expressa Saudade da Bahia (1957) com mera correção. Já Gil cai no suingue de Rosa morena (1942) e do Samba da minha terra (1940) com seu apurado sem rítmico. Enfim, Caymmi - Dorival Caymmi centenário tem seus méritos pela sofisticação imprimida ao cancioneiro do mestre. Mas, com exceções dos solos de Nana e de Nem eu na voz de Danilo, a maioria das gravações não se impõe entre os melhores registros das músicas desse compositor genial cuja existência honra a música do Brasil. Como disse Caymmi, quem não tem balangandãs não vai no Bonfim.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A bissexta reunião de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil no álbum Caymmi - Dorival Caymmi centenário está longe de arrebatar ou justificar a compra do disco em que os maestros Dori Caymmi e Mario Adnet orquestram 15 conhecidos títulos do cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em tributo ao centenário do compositor baiano. O trio está reunido na faixa que abre o CD, O que é que a baiana tem? (1939), mas não vai no Bonfim com os balangandãs exigidos pelo samba buliçoso de Caymmi. Como já ensinou o mestre João Gilberto, um violão pode ser suficiente para cair no samba de Caymmi. O atual tributo transita na trilha inversa, optando pela opulência em caminho que - justiça seja feita - também se depara muitas vezes com a beleza. Invariavelmente refinadas, as cordas orquestradas por Adnet e Dori no CD caem bem nos sambas-canção - e aí é preciso ressaltar a maestria da interpretação de Danilo Caymmi e do arranjo de Dori em Nem eu (1952) - e roçam o sublime nos dois solos de Nana Caymmi, destaques absolutos do álbum. Sargaço mar (1985) ganha sua melhor gravação. A orquestração de Adnet acentua a profundidade dessa doída e desesperada canção de fim de som. Nana arrebenta no tom exato do tema. Da mesma forma, Dori ilumina os tons sombrios da lagoa escura que emerge n'A lenda do Abaeté (1948). Como intérprete, Dori alcança seu melhor momento com João Valentão (1953) enquanto a escolha de Danilo para dar mais uma vez a receita do Vatapá (1942) peca pela previsibilidade. Sem comprometer, Adnet dá voz opaca ao samba A vizinha do lado (1946). Quanto a Caetano, Chico e Gil, os três cantam Caymmi em tons baixos, graves. Chico se desvia dos tons mais altos de Dora (1945) e delineia os contornos de Marina (1947) com precisão. Caetano realça toda a beleza de Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951) e expressa Saudade da Bahia (1957) com mera correção. Já Gil cai no suingue de Rosa morena (1942) e do Samba da minha terra (1940) com seu apurado sem rítmico. Enfim, Caymmi - Dorival Caymmi centenário tem seus méritos pela sofisticação imprimida ao cancioneiro do mestre. Mas, com exceções dos solos de Nana e de Nem eu na voz de Danilo, a maioria das gravações não se impõe entre os melhores registros das músicas desse compositor genial cuja existência honra a música do Brasil. Como disse Caymmi, quem não tem balangandãs não vai no Bonfim.

noca disse...

Mais uma vez ela rouba a cena e é de arrepiar.Poucos artistas no mundo ainda tem essa capacidade de nos emocionar,nos elevar das trevas para o divino.A rara voz de raro olíbano,continua soberana.Obrigado Nana Caymmi!

Pedro Progresso disse...

Nana colocou os tiozões no bolso e saiu rainha. Acho que ela faz de propósito, não é possível. "Vou ali rapidinho pra deixar todo mundo ciente que eu sou a maior e já volto". E ficamos aqui querendo saber o que ela fará depois das homenagens do centenário do pai. E querendo mais, sempre, pq a voz está inteira, toda ali.