Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O Terno nem sempre cai bem com sua costura de rock com canção popular

Resenha de CD
Título: O Terno
Artista: O Terno
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * 
Disco disponível para download gratuito e legalizado no site oficial do grupo

 Trio paulistano que despontou no mercado fonográfico independente em 2012 com 66, álbum de som e vibe retrôs distribuído pela Tratore, O Terno está sendo incensado na mídia por conta de seu segundo álbum, recém-lançado por vias independentes e já disponibilizado para download gratuito no site oficial do grupo. Contudo, o CD O Terno mostra que o trio está longe de ser o salvador da pátria musical brasileira. Tim Bernardes (voz e guitarra), Guilherme Peixe d'Almeida (baixo) e Victor Chaves (bateria) ainda continuam imersos na sua onda retrô, evocando sons do rock dos anos 1960 e 1970. Mas o repertório, irregular, mostra que O Terno nem sempre cai bem nesse mergulho mais fundo em seu cancioneiro autoral (o anterior 66 tinha várias músicas de Maurício Pereira, pai de Tim Bernardes). Cantada em inglês, Brazil destila certa ironia neste disco que parece tirar onda do hype e de quem cultua o hype na experimental Vanguarda?, uma das faixas mais pesadas, distorcidas e roqueiras do disco. Com alta dose de pretensão, O Terno alterna rocks psicodélicos à moda paulistana - como O Cinza, faixa já previamente divulgada - com baladas como Ai, ai, como eu me iludo. A influência da canção sentimental de cunho mais popular - brega, para alguns - é nítida em Bote o contrário, faixa que alterna batidas de rock e levadas do cancioneiro kitsch na abertura do disco. Aliás, Eu vou ter saudades soa como envergonhada canção de amor. Nem tudo é experimento em O Terno, no entanto. Uma música como Pela metade soa quase palatável ao extremo, denotando falta de unidade e coerência na condução do disco. Quando estamos dormindo também parece tentar se encaixar - em vão - em moldura mais pop. Artista afinado com as experimentações musicais, Tom Zé avaliza Medo do medo com seus vocais. No fim do álbum, a canção Desaparecido - que narra uma história de tom surreal e desfecho abrupto - reitera a sensação de que as letras sagazes d'O Terno são bem mais inspiradas do que as melodias. A costura de O Terno, o disco, precisa de ajustes. Por ora, O Terno - o trio - é nuvem passageira.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Trio paulistano que despontou no mercado fonográfico independente em 2012 com 66, álbum de som e vibe retrôs distribuído pela Tratore, O Terno está sendo incensado na mídia por conta de seu segundo álbum, recém-lançado por vias independentes e já disponibilizado para download gratuito no site oficial do grupo. Contudo, o CD O Terno mostra que o trio está longe de ser o salvador da pátria musical brasileira. Tim Bernardes (voz e guitarra), Guilherme Peixe d'Almeida (baixo) e Victor Chaves (bateria) ainda continuam imersos na sua onda retrô, evocando sons do rock dos anos 1960 e 1970. Mas o repertório, irregular, mostra que O Terno nem sempre cai bem nesse mergulho mais fundo em seu cancioneiro autoral (o anterior 66 tinha várias músicas de Maurício Pereira, pai de Tim Bernardes). Cantada em inglês, Brazil destila certa ironia neste disco que parece tirar onda do hype e de quem cultua o hype na experimental Vanguarda?, uma das faixas mais pesadas, distorcidas e roqueiras do disco. Com alta dose de pretensão, O Terno alterna rocks psicodélicos à moda paulistana - como O Cinza, faixa já previamente divulgada - com baladas como Ai, ai, como eu me iludo. A influência da canção sentimental de cunho mais popular - brega, para alguns - é nítida em Bote o contrário, faixa que alterna batidas de rock e levadas do cancioneiro kitsch na abertura do disco. Aliás, Eu vou ter saudades soa como envergonhada canção de amor. Nem tudo é experimento em O Terno, no entanto. Uma música como Pela metade soa quase palatável ao extremo, denotando falta de unidade e coerência na condução do disco. Quando estamos dormindo também parece tentar se encaixar - em vão - em moldura mais pop. Artista afinado com as experimentações musicais, Tom Zé avaliza Medo do medo com seus vocais. No fim do álbum, a canção Desaparecido - que narra história de tom surreal e desfecho abrupto - reitera a sensação de que as letras sagazes d'O Terno são bem mais inspiradas do que as melodias. A costura de O Terno, o disco, precisa de ajustes. Por ora, O Terno, o trio, é nuvem passageira.