Mauro Ferreira no G1

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sábado, 4 de janeiro de 2014

Alice carnavaliza obra de Caymmi em 'Dorivália' com espírito tropicalista

Resenha (de prévia) de show 
Título: Dorivália
Artista: Alice Caymmi (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 3 de janeiro de 2014
Cotação: * * * *
Estreia do show programada para 17 de janeiro de 2014, no Studio RJ, no Rio de Janeiro

Todo mundo estava (bem) acordado na pista e na arquibancada do Circo Voador, na noite de 3 de janeiro de 2014, quando Alice Caymmi entoou o Acalanto (1960) de seu centenário avô Dorival Caymmi (1914 - 2008) na batida do samba-reggae. Mesmo se alguém estivesse com sono, ia ser difícil dormir com o barulhão bom feito pela cantora e compositora carioca na prévia do show Dorivália. O sufixo agregado ao nome do compositor baiano no título do show tem razão de ser, pois no show - que vai estrear de forma completa no Rio de Janeiro (RJ) na apresentação agendada para 17 de janeiro de 2014 na casa Studio RJ - - a neta de Dorival carnavaliza o cancioneiro do avô com presença de espírito tropicalista. Foi com as liberdades estéticas herdadas da Tropicália - o movimento pop de 1967 capitaneado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, sintomaticamente os compositores de Iansã (1972), única das dez músicas do roteiro pescada além do mar de Caymmi - que Alice pôs seu bloco na rua em show vibrante e tão quente quanto a noite carioca da primeira sexta-feira de 2014. Até a Modinha para Gabriela (1975) caiu no samba em clima carnavalesco. O acessório acoplado ao figurino informal da artista no início do show - aberto com a Canção da partida (1957), tema inicial da Suíte dos pescadores - já traduziu visualmente o tom folião do espetáculo. Com sua voz encorpada e forte presença cênica, a cantora fez o público - na espera por Mart'nália, atração principal da noite - ir atrás de seu bloco com entusiasmo, inclusive no pique veloz do samba Maracangalha (1956), alocado após 365 igrejas (1946). A releitura da obra de Caymmi exige ousadias estilísticas, mas tudo pareceu dentro do tom. Em Oração de Mãe Menininha (1972), por exemplo, o baticum afro dos tambores do Candomblé foi evocado já na introdução sustentada pelo toque do baterista Thiago Silva e do percussionista Pacato, destaques da banda afiada (completada por Gabriel Mayall na guitarra, Gustavo Benjão no baixo e pelo argentino Marcelo Lupis no frenético violino) que também pôs pressão em Retirantes (1975), o tema do lerê lerê associado à abertura da novela Escrava Isaura (TV Globo, 1975), e que criou os arranjos com a cantora. A ideia foi brincar o Carnaval ao som de Caymmi, mas artista e banda levaram a sério o tom solene, quase épico, d'A preta do acarajé (1939), sem diluir o clima contagiante do show, reiterado pelo samba Adalgisa (1967). Assim como a Bahia, a obra de Dorival Caymmi está viva ainda lá, na sua forma original e também na alegre subversão feita por Alice com conhecimento de causa e com  autoridade de pertencer à família regida pelo patriarca buda nagô. Dorivália abre alas para a voz e o som contemporâneo da cantora, que vai lançar o segundo álbum, Rainha dos raios, neste nascente ano de 2014. Senhora da (sua) cena, e de tudo dentro de si, no ponto para ampliar seu público, Alice Caymmi pede passagem.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Todo mundo estava (bem) acordado na pista e na arquibancada do Circo Voador, na noite de 3 de janeiro de 2014, quando Alice Caymmi entoou o Acalanto (1960) de seu centenário avô Dorival Caymmi (1914 - 2008) na batida do samba-reggae. Mesmo se alguém estivesse com sono, ia ser difícil dormir com o barulhão bom feito pela cantora e compositora carioca na prévia do show Dorivália. O sufixo agregado ao nome do compositor baiano no título do show tem razão de ser, pois no show - que vai estrear de forma completa no Rio de Janeiro (RJ) na apresentação agendada para 17 de janeiro de 2014 na casa Studio RJ - - a neta de Dorival carnavaliza o cancioneiro do avô com presença de espírito tropicalista. Foi com as liberdades estéticas herdadas da Tropicália - o movimento pop de 1967 capitaneado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, sintomaticamente os compositores de Iansã (1972), única das dez músicas do roteiro pescada além do mar de Caymmi - que Alice pôs seu bloco na rua em show vibrante e tão quente quanto a noite carioca da primeira sexta-feira de 2014. Até a Modinha para Gabriela (1975) caiu no samba em clima carnavalesco. O acessório acoplado ao figurino informal da artista no início do show - aberto com a Canção da partida (1957), tema inicial da Suíte dos pescadores - já traduziu visualmente o tom folião do espetáculo. Com sua voz encorpada e forte presença cênica, a cantora fez o público - na espera por Mart'nália, atração principal da noite - ir atrás de seu bloco com entusiasmo, inclusive no pique veloz do samba Maracangalha (1956), alocado após 365 igrejas (1946). A releitura da obra de Caymmi exige ousadias estilísticas, mas tudo pareceu dentro do tom. Em Oração de Mãe Menininha (1972), por exemplo, o baticum afro dos tambores do Candomblé foi evocado já na introdução sustentada pelo toque do baterista e do percussionista da banda que também pôs pressão em Retirantes (1975), o tema do lerê lerê associado à abertura da novela Escrava Isaura (TV Globo, 1975). A ideia podia ser brincar o Carnaval ao som de Caymmi, mas artista e banda levaram a sério o tom solene, quase épico, d'A preta do acarajé (1939), sem diluir o clima contagiante do show, reiterado pelo samba Adalgisa (1967). Assim como a Bahia, a obra de Dorival Caymmi está viva ainda lá, na sua forma original e também na alegre subversão feita por Alice com conhecimento de causa e com autoridade de pertencer à família regida pelo patriarca buda nagô. Dorivália abre alas para a voz e o som contemporâneo da cantora, que vai lançar o segundo álbum, Rainha dos raios, neste nascente ano de 2014. Senhora da (sua) cena, e de tudo dentro de si, no ponto para ampliar seu público, Alice Caymmi pede passagem.

highschool lover disse...

Quando é que sai um CD registro ou com o repertório desse show? rsrs