Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Álbum 'Reencontro' irmana Ângela & Cauby no outono de paixões recicladas

Resenha de CD
Título: Reencontro
Artista: Ângela Maria & Cauby Peixoto
Gravadora: Nova Estação / Eldorado
Cotação: * * *

 "Somos iguais", concluem Ângela Maria e Cauby Peixoto, em uníssono, no verso que gerou o título do samba-canção de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. Composição de 1964, Somos iguais é uma das 18 músicas distribuídas nas 12 faixas de Reencontro, terceiro álbum gravado em dupla pelos já octagenários cantores fluminenses, ambos egressos dos dourados anos 1950 e da era áurea do rádio brasileiro. É significativo que haja no disco produzido por Thiago Marques Luiz um samba-canção intitulado Somos iguais, pois Ângela & Cauby Peixoto se irmanam no outono das paixões recicladas no CD Reencontro, título inaugural do selo fonográfico Nova Estação, aberto por Marques Luiz para dar vazão às suas produções. Nas lojas a partir deste mês de janeiro de 2014 com distribuição da reativada Eldorado, mas já posto à venda nos shows da dupla desde dezembro de 2013, o disco conduz os já octagenários intérpretes a um ponto de convergência em suas discografias. Diferenças estilísticas são anuladas para nivelar duas vozes emblemáticas da música brasileira em tradicionalista universo popular romântico. Reencontro reverencia o passado de glórias deste dois ícones que atravessaram décadas, gerações e modismos sem perder o apreço de seu público. Sob a conservadora direção musical do pianista Daniel Bondaczuk, Ângela e Cauby reabrem a cortina desse passado nos tons crepusculares de seu momento presente. O encadeamento do repertório é feito de tal forma que as músicas se sucedem como num diálogo romântico entre um casal às voltas com juras e mágoas de amor. Sambas-canção e boleros passionais fazem a exposição das dores e delícias do amor. Se Cauby lamenta a ausência e a saudade do ser amado em Chove lá fora (Tito Madi, 1957), Ângela dá voz na mesma faixa aos versos de Franqueza (Denis Brean e Osvaldo Guilherme, 1957) - sucesso da cantora paulista Maysa (1936 - 1977) - para lembrar que o desprezo desse ser amado é uma forma de disfarçar a saudade. Dentro da atmosfera classicista do disco, o sambão joia do compositor fluminense Benito Di Paula - lembrado com Se não for amor, sucesso retumbante de 1973 - adquire o mesmo quilate de pérola valiosa de Cartola (1908 - 1980), O mundo é um moinho. Nessa rota nostálgica, Reencontro junta dois boleros do compositor cubano Osvaldo Farrés (1902 - 1985) - Tres palavras (1946) e Quizás, quizás, quizás (1947), sendo o primeiro ouvido na voz aveludada do barítono Cauby e o segundo cantado pela Sapoti com sua voz de mezzo-soprano - e embute umas das canções mais apaixonadas do repertório de Roberto Carlos, Como é grande o meu amor por você (1967). Entre melodias facilmente identificáveis pelo público dos cantores, Bronzes e cristais (Nazareno de Brito e Alcyr Pires Vermelho, 1958) se diferenciar por ser a música (atualmente) menos conhecida, embora gerações passadas saibam que a composição foi sucesso nas vozes da já mencionada Maysa e do cantor carioca Pery Ribeiro (1937 - 2012). Enfim, Reencontro - disco que sucede LP de 1982 e CD ao vivo de 1992 na discografia conjunta de Ângela e Cauby - oferece o que pede a plateia dos cantores e o que querem os próprios artistas. A caminho dos 85 anos, a serem festejados em 13 de maio, Ângela Maria já nada precisa provar a ninguém. Prestes a fazer 83 anos, em 10 de fevereiro, Cauby Peixoto tampouco vai ter alterada a sua posição de um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Crepúsculo desses deuses da canção brasileira, Reencontro sela afinidades e irmana duas vozes que sempre caminharam em rotas paralelas, mas nunca divergentes. Por isso, faz todo o sentido quando Ângela e Cauby juntam suas belas vozes para cantar em uníssono o verso do antigo samba-canção que diz "somos iguais"...

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Somos iguais", concluem Ângela Maria e Cauby Peixoto, em uníssono, no verso que gerou o título do samba-canção de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. Composição de 1964, Somos iguais é uma das 18 músicas distribuídas nas 12 faixas de Reencontro, terceiro álbum gravado em dupla pelos já octagenários cantores fluminenses, ambos egressos dos dourados anos 1950 e da era áurea do rádio brasileiro. É significativo que haja no disco produzido por Thiago Marques Luiz um samba-canção intitulado Somos iguais, pois Ângela & Cauby Peixoto se irmanam no outono das paixões recicladas em Reencontro, título inaugural do selo fonográfico Nova Estação, aberto por Marques Luiz para dar vazão às suas produções. Nas lojas a partir deste mês de janeiro de 2014 com distribuição da reativada Eldorado, mas já posto à venda nos shows da dupla desde dezembro de 2013, o disco conduz os já octagenários intérpretes a um ponto de convergência em suas discografias. Diferenças estilísticas são anuladas para nivelar duas vozes emblemáticas da música brasileira em tradicionalista universo popular romântico. Reencontro reverencia o passado de glórias deste dois ícones que atravessaram décadas, gerações e modismos sem perder o apreço de seu público. Sob a conservadora direção musical do pianista Daniel Bondaczuk, Ângela e Cauby reabrem a cortina desse passado nos tons crepusculares de seu momento presente. O encadeamento do repertório é feito de tal forma que as músicas se sucedem como num diálogo romântico entre um casal às voltas com juras e mágoas de amor. Sambas-canção e boleros passionais fazem a exposição das dores e delícias do amor. Se Cauby lamenta a ausência e a saudade do ser amado em Chove lá fora (Tito Madi, 1957), Ângela dá voz na mesma faixa aos versos de Franqueza (Denis Brean e Osvaldo Guilherme, 1957) - sucesso da cantora paulista Maysa (1936 - 1977) - para lembrar que o desprezo desse ser amado é uma forma de disfarçar a saudade. Dentro da atmosfera classicista do disco, o sambão joia do compositor fluminense Benito Di Paula - lembrado com Se não for amor, sucesso retumbante de 1973 - adquire o mesmo quilate de pérola valiosa de Cartola (1908 - 1980), O mundo é um moinho. Nessa rota nostálgica, Reencontro junta dois boleros do compositor cubano Osvaldo Ferrés (1902 - 1985) - Tres palavras (1946) e Quizás, quizás, quizás (1947), sendo o primeiro ouvido na voz aveludada do barítono Cauby e o segundo cantado pela Sapoti com sua voz de mezzo-soprano - e embute umas das canções mais apaixonadas do repertório de Roberto Carlos, Como é grande o meu amor por você (1967). Entre melodias facilmente identificáveis pelo público dos cantores, Bronzes e cristais (Nazareno de Brito e Alcyr Pires Vermelho, 1958) se diferenciar por ser a música (atualmente) menos conhecida, embora gerações passadas saibam que a composição foi sucesso nas vozes da já mencionada Maysa e do cantor carioca Pery Ribeiro (1937 - 2012). Enfim, Reencontro - disco que sucede LP de 1982 e CD ao vivo de 1992 na discografia conjunta de Ângela e Cauby - oferece o que pede a plateia dos cantores e o que querem os próprios artistas. A caminho dos 85 anos, a serem festejados em 13 de maio, Ângela Maria já nada precisa provar a ninguém. Prestes a fazer 83 anos, em 10 de fevereiro, Cauby Peixoto tampouco vai ter alterada a sua posição de um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Crepúsculo desses deuses da canção brasileira, Reencontro sela afinidades e irmana duas vozes que sempre caminharam em rotas paralelas, mas nunca divergentes. Por isso, faz todo o sentido quando Ângela e Cauby juntam vozes para cantar em uníssono o verso do antigo samba-canção que diz "somos iguais".

Marcelo disse...

O cd é uma maravilha!! Thiago acertou em cheio. E o repertório é da maior qualidade! Prova que música boa é sempre bem vinda!!

colaia disse...

Maravilha de crítica! É isso!

Saulo Melo disse...

Disco maravilhoso. A crítica mais ainda. Muito gostoso de ouvir cada faixa.