Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Show com holograma de Cazuza dá a impressão de que o poeta está vivo

Resenha de show
Título: GVT music live show - Cazuza
Artista: vários
Local: Praia de Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de janeiro de 2014
Cotação: * * * 

Foi preciso esperar uma hora e 15 minutos para que a atração principal da noite, Cazuza (1958 - 1990), entrasse em cena. E ele entrou, na forma de holograma que deu a impressão - para a multidão carioca que lotou a Praia de Ipanema na noite de domingo, 19 de janeiro de 2014 - que o poeta estava vivo, a impulsionar a grande roda da história, como dizem os versos de Dulce Quental, parceira de Roberto Frejat na música O poeta está vivo, sucesso do grupo Barão Vermelho em 1990. Na indústria da música, hábil na exumação de seus mortos rentáveis, a roda da história gira atualmente em torno dos hologramas, tecnologia que forja a permanência no palco de artistas que se já saíram de cena. No caso do cantor e compositor carioca Cazuza, cuja obra é um dos pilares que sustentou o rock brasileiro projetado nos anos 1980, os ajustes feitos no holograma - apresentado pela primeira vez em show feito em São Paulo (SP), em dezembro de 2013 - alimentaram a sensação de que, sim, era Cazuza quem dividia com músicos como o saxofonista George Israel o palco armado nas areias em que o artista viveu parte de sua vida louca vida. Foram somente cinco músicas - Exagerado (Leoni, Ezequiel Neves e Cazuza, 1985), Faz parte do meu show (Renato Ladeira e Cazuza, 1988), Amor, amor (Roberto Frejat, George Israel e Cazuza, 1992), O tempo não para (Arnaldo Brandão e Cazuza, 1989) e Brasil (George Israel, Nilo Romero e Cazuza, 1988) - e uma sensação estranha no ar. Animada, a imagem em movimento de Cazuza sentou no banquinho quando se ouviu a voz do cantor na bossa-novista Faz parte do meu show - como mostra uma das fotos de divulgação - e se enrolou na Bandeira do Brasil ao som do indignado samba roqueiro Brasil. Não era Cazuza, as feições do rosto eram distintas, mas parecia ser Cazuza. E esse parecer bastou para resolver a equação poesia + tecnologia = magia de que falou o apresentador Otaviano Costa no início do espetáculo. Show que nunca chegou a empolgar, diga-se. Tensões na plateia - provocadas por grupo que gritava palavras de ordem em protesto isolado, mas barulhento - pontuaram toda a apresentação. Inflados pelas réplicas vãs de artistas como Arnaldo Brandão e George Israel (condutor da parte musical do show), os protestos abafaram especialmente a interpretação de Codinome Beija-flor (Reinaldo Arias, Ezequiel Neves e Cazuza, 1985) por Gal Costa, convidada que já tinha aberto o roteiro, após uma overture, com o já citado Brasil. O outro convidado da banda, Paulo Ricardo, fez o que pode, mas todos os números anteriores ao holograma soaram como anticlímax. Mera espera para a entrada em cena de Cazuza, a grande atração da noite. Se o poeta foi ao inferno e voltou na forma de um controvertido holograma, a indústria da música parece estar no paraíso.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Foi preciso esperar uma hora e 15 minutos para que a atração principal da noite, Cazuza (1958 - 1990), entrasse em cena. E ele entrou, na forma de holograma que deu a impressão - para a multidão carioca que lotou a Praia de Ipanema na noite de domingo, 19 de janeiro de 2014 - que o poeta estava vivo, a impulsionar a grande roda da história, como dizem os versos de Dulce Quental, parceira de Roberto Frejat na música O poeta está vivo, sucesso do grupo Barão Vermelho em 1990. Na indústria da música, hábil na exumação de seus mortos rentáveis, a roda da história gira atualmente em torno dos hologramas, tecnologia que forja a permanência no palco de artistas que se já saíram de cena. No caso do cantor e compositor carioca Cazuza, cuja obra é um dos pilares que sustentou o rock brasileiro projetado nos anos 1980, os ajustes feitos no holograma - apresentado pela primeira vez em show feito em São Paulo (SP), em dezembro de 2013 - alimentaram a sensação de que, sim, era Cazuza quem dividia com músicos como o saxofonista George Israel o palco armado nas areias em que o artista viveu parte de sua vida louca vida. Foram somente cinco músicas - Exagerado (Leoni, Ezequiel Neves e Cazuza, 1985), Faz parte do meu show (Renato Ladeira e Cazuza, 1988), Amor, amor (Roberto Frejat, George Israel e Cazuza, 1992), O tempo não para (Arnaldo Brandão e Cazuza, 1989) e Brasil (George Israel, Nilo Romero e Cazuza, 1988) - e uma sensação estranha no ar. Animada, a imagem em movimento de Cazuza sentou no banquinho quando se ouviu a voz do cantor na bossa-novista Faz parte do meu show - como mostra a foto de Mauro Ferreira - e se enrolou na Bandeira do Brasil ao som do indignado samba roqueiro Brasil. Não era Cazuza, as feições do rosto eram distintas, mas parecia ser Cazuza. E esse parecer bastou para resolver a equação poesia + tecnologia = magia de que falou o apresentador Otaviano Costa no início do espetáculo. Show que nunca chegou a empolgar, diga-se. Tensões na plateia - provocadas por grupo que gritava palavras de ordem em protesto isolado, mas barulhento - pontuaram toda a apresentação. Inflados pelas réplicas vãs de artistas como Arnaldo Brandão e George Israel (condutor da parte musical do show), os protestos abafaram especialmente a interpretação de Codinome Beija-flor (Reinaldo Arias, Ezequiel Neves e Cazuza, 1985) por Gal Costa, convidada que já tinha aberto o roteiro, após uma overture, com o citado Brasil. O outro convidado da banda, Paulo Ricardo, fez o que pode, mas todos os números anteriores ao holograma soaram como anticlímax. Mera espera para a entrada em cena de Cazuza, a grande atração da noite. Se o poeta foi ao inferno e voltou na forma de um controvertido holograma, a indústria da música parece estar no paraíso.

rafael h. disse...

Assisti em São Paulo, achei corajoso e audacioso ao mesmo tempo; não sei até onde a homenagem é válida. Nunca tinha visto nada parecido, e nem sabia que reação eu teria... Fiquei um pouco longe, e a projeção mais longe ainda.. Foi interessante, mas no meu caso, valeu mais pela Gal Costa.