Mauro Ferreira no G1

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domingo, 19 de janeiro de 2014

'Praia' aprofunda mergulho 'cool' de Mariano Marovatto em dias nublados

Resenha de CD
Título: Praia
Artista: Mariano Marovatto
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * *

Em seu primeiro álbum, Aquele amor não me fale (2010), Mariano Marovatto mergulhou em águas plácidas num mix cool de Bossa Nova, samba e pop indie. Praia (2013) aprofunda o mergulho, nublando o som do cantor, compositor e poeta carioca em clima ainda mais cool. A atmosfera minimalista é evidenciada já no tom sussurrado de If, a canção de Maurício Pacheco que abre o disco, dando a pista certeira deste disco invernal. Por ora lançado somente em edição digital, o CD foi produzido e arranjado pelo próprio Marovatto com Ricardo Dias Gomes, com a adesão da guitarra de Pedro Sá em A mutante (Jonas Sá), declaração de amor em tons menores. "Minha namorada faz do seu olhar uma canção", poetiza Marovatto, cuja musa, a poeta Alice Sant'Anna, é presença recorrente em Praia, dando voz miúda a capella aos versos da música-vinheta de 39 segundos que batiza o disco. Praia, a música, é da lavra de Alice, que também canta os versos e pilota os teclados de Botões, parceria de Marovatto com Jonas Sá. "Podem estrategizar um ataque ao coração / Mas não podem nunca me encontrar", prega Botões. Dias Gomes pilota quase todos os instrumentos, mas muito é pouco na equação sonora do disco. O som de Praia, o CD, é nublado como o romantismo que pauta as letras e que cruza o oceano em Afim - ligando Marovatto ao pintor e músico português Tomás Cunha Ferreira (do duo Os Quais), parceiro do artista carioca neste tema que destila poesia em tom robótico - e Pavane (Gabriel Fauré e Robert de Montesquiou), tema francês de 1887 que tem seus versos finais reproduzidos em faixa-vinheta. Traço herdado do antecessor Aquele amor não me fale, tal romantismo habita recantos escuros. "Sai dessa banda / Derruba o rádio / Desliga o rádio / Me dá rádio / Deságua logo essa constirpação", ordena sequencialmente Maravotato através dos versos de Vidraça, parceria com Romulo Fróes. Em Praia, o ser amado é uma ilha cercada de águas turvas, profundas. Eu tenho casa (Mario Cascardo) até insinua que qualquer limite - ou atenção - faça não: pode ser a gota d'água existencial que vai fazer a praia transbordar. Nesse mergulho fundo em sonoridade vazia, plena de significado, Mariano Marovatto emerge em Praia com um dos grandes nomes da fluida cena indie carioca.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Em seu primeiro álbum, Aquele amor não me fale (2010), Mariano Marovatto mergulhou em águas plácidas num mix cool de Bossa Nova, samba e pop indie. Praia (2013) aprofunda o mergulho, nublando o som do cantor, compositor e poeta carioca em clima ainda mais cool. A atmosfera minimalista é evidenciada já no tom sussurrado de If, a canção de Maurício Pacheco que abre o disco, dando a pista certeira deste disco invernal. Por ora lançado somente em edição digital, o CD foi produzido e arranjado pelo próprio Marovatto com Ricardo Dias Gomes, com a adesão da guitarra de Pedro Sá em A mutante (Jonas Sá), declaração de amor em tons menores. "Minha namorada faz do seu olhar uma canção", poetiza Marovatto, cuja musa, a poeta Alice Sant'Anna, é presença recorrente em Praia, dando voz miúda a capella aos versos da música-vinheta de 39 segundos que batiza o disco. Praia, a música, é da lavra de Alice, que também canta os versos e pilota os teclados de Botões, parceria de Marovatto com Jonas Sá. "Podem estrategizar um ataque ao coração / Mas não podem nunca me encontrar", prega Botões. Dias Gomes pilota quase todos os instrumentos, mas muito é pouco na equação sonora do disco. O som de Praia, o CD, é nublado como o romantismo que pauta as letras e que cruza o oceano em Afim - ligando Marovatto ao pintor e músico português Tomás Cunha Ferreira (do duo Os Quais), parceiro do artista carioca neste tema que destila poesia em tom robótico - e Pavane (Gabriel Fauré e Robert de Montesquiou), tema francês de 1887 que tem seus versos finais reproduzidos em faixa-vinheta. Traço herdado do antecessor Aquele amor não me fale, tal romantismo habita recantos escuros. "Sai dessa banda / Derruba o rádio / Desliga o rádio / Me dá rádio / Deságua logo essa constirpação", ordena sequencialmente Maravotato através dos versos de Vidraça, parceria com Romulo Fróes. Em Praia, o ser amado é uma ilha cercada de águas turvas, profundas. Eu tenho casa (Mario Cascardo) até insinua que qualquer limite - ou atenção - faça não: pode ser a gota d'água existencial que vai fazer a praia transbordar. Nesse mergulho fundo em sonoridade vazia, plena de significado, Mariano Marovatto emerge em Praia com um dos grandes nomes da fluida cena indie carioca.