Mauro Ferreira no G1

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sábado, 11 de janeiro de 2014

'Tudo pra você', 15º CD de Guilherme & Santiago, reflete o sertanejo atual

Resenha de CD
Título: Tudo pra você
Artista: Guilherme & Santiago
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *

Embora nunca tenha chegado na linha de frente do mercado sertanejo, a dupla goiana Guilherme & Santiago pavimenta há 20 anos trilha fonográfica construída com regularidade. Tanto que Tudo pra você (2013) - nono disco de estúdio dos irmãos Herickson Cardoso Rosa (o Guilherme) e Henzzo Cardoso Rosa (o Santiago), posto recentemente nas lojas pela gravadora Som Livre - já é o 15º CD da discografia da dupla. Primeiro álbum de estúdio de Guilherme & Santiago desde ABCDE (HRP Music, 2006), Tudo pra você radiografa com exatidão o mercado sertanejo atual, refletindo mudanças contínuas que fazem com que o este disco nada tenha a ver com o CD Guilherme & Santiago vol. 1 lançado pela Warner Music em 1994. Até o visual e os figurinos dos cantores são outros, sendo atualmente mais urbanos e mais contemporâneos, para entrar em sintonia com o som dito sertanejo que vem dominando as paradas brasileiras nos últimos anos com pegada pop que se mistura eventualmente com levadas de outros ritmos como arrocha, funk e os ritmos nordestinos genericamente rotulados de forró. As 16 músicas de Tudo pra você acenam para essas paradas populistas, seguindo com fidelidade a receita comercial já testada e aprovada. Tal receita tem como principal ingrediente uma animação artificial que direciona várias músicas para as baladas, com direito a doses fartas de álcool. Beijar e beber (Giuliano Matheus e Thiago Matheus), Quando bebe (Gerson Mendes e Santanna) - música de levada embriagante - e Noitada de prazer (Murillo Guerra e Daniel) representam no repertório essa tendência festiva do sertanejo atual. Há também no disco músicas para quem quem curte baladas. Não os agitos noturnos, mas as baladas lacrimosas que sempre foram uma das matérias-primas da música sertaneja com chororô romântico de tom sentimental. Nessa vertente, A cura (Lucas Lucco e Filipe Labret) e Eu vou te procurar (Bigair dy Jaime e Wenio Martins) se revelam triviais. Por fim, há os modões, gêneros em que as duplas desencavam raízes sertanejas cada vez mais soterradas pela pegada pop imposta atualmente ao gênero pelo mercado. Nessa seara, Jogado na rua (Marco Aurélio, Valéria Costa e Samuel Deolli) e Seu amor sou eu (Eduardo Dias e Sergio Porto) se impõem como boas músicas de um gênero que nada tem a ver com o som ruralista de compositores como Renato Teixeira e com a música genuinamente caipira de duplas anteriores à eletrificação do sertanejo, acontecida na virada dos anos 1960 para os 1970, em movimento capitaneado pela dupla goiana Leo Canhotto & Robertinho. Enfim, o mundo é outro, o mercado é outro e a música sertaneja ouvida em Tudo pra você também é outra se comparada com a feita pelos próprios Guilherme & Santiago há 20 anos. É provavelmente pior, mas é certamente diferente.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Embora nunca tenha chegado na linha de frente do mercado sertanejo, a dupla goiana Guilherme & Santiago pavimenta há 20 anos trilha fonográfica construída com regularidade. Tanto que Tudo pra você (2013) - nono disco de estúdio dos irmãos Herickson Cardoso Rosa (o Guilherme) e Henzzo Cardoso Rosa (o Santiago), posto recentemente nas lojas pela gravadora Som Livre - já é o 15º CD da discografia da dupla. Primeiro álbum de estúdio de Guilherme & Santiago desde ABCDE (HRP Music, 2006), Tudo pra você radiografa com exatidão o mercado sertanejo atual, refletindo mudanças contínuas que fazem com que o este disco nada tenha a ver com o CD Guilherme & Santiago vol. 1 lançado pela Warner Music em 1994. Até o visual e os figurinos dos cantores são outros, sendo atualmente mais urbanos e mais contemporâneos, para entrar em sintonia com o som dito sertanejo que vem dominando as paradas brasileiras nos últimos anos com pegada pop que se mistura eventualmente com levadas de outros ritmos como arrocha, funk e os ritmos nordestinos genericamente rotulados de forró. As 16 músicas de Tudo pra você acenam para essas paradas populistas, seguindo com fidelidade a receita comercial já testada e aprovada. Tal receita tem como principal ingrediente uma animação artificial que direciona várias músicas para as baladas, com direito a doses fartas de álcool. Beijar e beber (Giuliano Matheus e Thiago Matheus), Quando bebe (Gerson Mendes e Santanna) - música de levada embriagante - e Noitada de prazer (Murillo Guerra e Daniel) representam no repertório essa tendência festiva do sertanejo atual. Há também no disco músicas para quem quem curte baladas. Não os agitos noturnos, mas as baladas lacrimosas que sempre foram uma das matérias-primas da música sertaneja com chororô romântico de tom sentimental. Nessa vertente, A cura (Lucas Lucco e Filipe Labret) e Eu vou te procurar (Bigair dy Jaime e Wenio Martins) se revelam triviais. Por fim, há os modões, gêneros em que as duplas desencavam raízes sertanejas cada vez mais soterradas pela pegada pop imposta atualmente ao gênero pelo mercado. Nessa seara, Jogado na rua (Marco Aurélio, Valéria Costa e Samuel Deolli) e Seu amor sou eu (Eduardo Dias e Sergio Porto) se impõem como boas músicas de um gênero que nada tem a ver com o som ruralista de compositores como Renato Teixeira e com a música genuinamente caipira de duplas anteriores à eletrificação do sertanejo, acontecida na virada dos anos 1960 para os 1970, em movimento capitaneado pela dupla goiana Leo Canhotto & Robertinho. Enfim, o mundo é outro, o mercado é outro e a música sertaneja ouvida em Tudo pra você também é outra se comparada com a feita pelos próprios Guilherme & Santiago há 20 anos. É provavelmente pior, mas é certamente diferente.

Alan disse...

O pior que poderiam ter feito é ser "universitalizar" em 2011, com um disco deprimente. Mas recuperaram sua pegada mais "natural" nesse álbum, que apesar de que pra todo mundo parecer uma música "rala", no gênero não traz nada de novo, e se fosse de um blog especializado em música sertaneja ganharia umas 3 estrelas e meia ou uma nota "8,0". Mas uma coisa é certa, originalidade é o que talvez falte no gênero atualmente.