Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Para quem preza a excelência técnica, o CD 'AOR' põe Ed no céu com Manuel

Resenha de CD
Título: AOR
Artista: Ed Motta
Gravadora: Dwitza Music / Lab 344
Cotação: * * * 1/2

 Já faz 25 anos que Manuel foi pro céu e que Ed Motta dominou os bailes da terra com o funk dançante que deu o tom de seu primeiro disco, gravado e assinado em 1988 com a banda carioca Conexão Japeri. De lá para cá, o cantor e compositor carioca - sobrinho do soulman carioca Tim Maia (1942 - 1998) - foi refinando progressivamente seu pop black em discos de maior ou menor apelo popular. AOR - o 11º álbum de estúdio de Ed - não chega a ser radical como o instrumental Dwitza (2002) e o jazzístico Aystelum (2005). Mas tampouco acena para os bailes como seu antecessor Piquenique (2009), frustrada tentativa do artista de se recolocar nas paradas com repertório pop embebido em alta dose de eletrônica. Pautado pela excelência técnica do som conhecido como Adult Oriented Rock, rótulo aliás que lhe dá título, AOR fica no meio do caminho. Não é hermético, só que temas como S.O.S amor e Ondas sonoras - letrados por Rita Lee e Adriana Calcanhotto, respectivamente - não seguem à risca o manual prático para festas, bailes e afins que já rendeu hits dançantes como Fora da lei (primeira parceria de Ed com Rita). Não há o refrão-chiclete, a melodia que gruda no ouvido. AOR refina o piquenique pop de Ed com a sofisticação dos arranjos. Há todo um requinte harmônico que valoriza repertório que, no todo, tem fraco poder de sedução para quem busca somente a dança, a festa (mesmo a festa íntima a dois). Há, sim, suingue, geralmente ditado pelo naipe de metais que pulsam em músicas como Flores da vida real (Ed Motta e Chico Amaral) e Episódio (Ed Motta e Edna Lopes). Mas a festa é outra. AOR vai fazer a festa íntima de ouvintes que apreciam requintes de arranjos executados por músicos de primeiríssimo time - como convém a um disco que busca a perfeição técnica. Time reforçado por feras estrangeiras como Jean Paul Bluey Maunik (músico do grupo britânico de acid jazz Incognito), cuja guitarra é peça-chave que faz decolar Marta (Ed Motta e Edna Lopes), música com letra repleta de imagens e ação que renderia história em quadrinhos (Edna Lopes, mulher de Ed e letrista de temas como o já previamente divulgado 1978, não por acaso é quadrinista). Com versos em espanhol do argentino Dante Spinetta, que diz o rap do fim da faixa, Latido segue a rota Brasil-Argentina sem alterar o idioma do pop soul de Ed Motta. Que pilota vozes e teclados da vinheta que dá nome ao disco, AOR, uma das duas faixas em que Ed assina música e letra. A outra é A engrenagem, em cujos versos de inspiração autoral o compositor alude implicitamente ao bullying que sofreu por atacar colegas no Facebook. Usando o título da música que fecha o disco (a edição à venda no iTunes tem faixa adicional, Mais do que eu sei, parceria de Ed com Dudu Falcão), AOR é disco que funciona como engrenagem. No caso, todas as peças estão devidamente encaixadas em seus devidos lugares para produzir o som ambicionado por Ed Motta. Nesse sentido estético e cerebral, AOR é álbum perfeito. Só que aparentemente o artista ignorou regra crucial do manual pop: fazer música mais convidativa à dança, não necessariamente com refrão-chiclete, mas com um algo a mais que toque de forma emocional o ouvinte e que não o arrebate somente pela perfeição técnica do registro do disco. Manuel foi pro céu, e, não, Ed Motta já não está na terra...

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Já faz 25 anos que Manuel foi pro céu e Ed Motta dominou os bailes da terra com o funk dançante que deu o tom de seu primeiro disco, gravado e assinado em 1988 com a banda carioca Conexão Japeri. De lá para cá, o cantor e compositor carioca - sobrinho de Tim Maia (1942 - 1998) - foi refinando progressivamente seu pop black em discos de maior ou menor apelo popular. AOR - o 11º álbum de estúdio de Ed - não chega a ser radical como o instrumental Dwitza (2002) e o jazzístico Aystelum (2005). Mas tampouco acena para os bailes como seu antecessor Piquenique (2009), frustrada tentativa do artista se recolocar nas paradas com repertório pop embebido em alta dose de eletrônica. Pautado pela excelência técnica do som conhecido como Adult Orient Rock, rótulo aliás que lhe dá título, AOR fica no meio do caminho. Não é hermético, só que temas como S.O.S amor e Ondas sonoras - letrados por Rita Lee e Adriana Calcanhotto - não seguem à risca o manual prático para festas, bailes e afins que já rendeu hits dançantes como Fora da lei (primeira parceria de Ed com Rita). Não há o refrão-chiclete, a melodia que gruda no ouvido. AOR refina o piquenique pop de Ed com a sofisticação dos arranjos. Há todo um requinte harmônico que valoriza repertório que, no todo, tem fraco poder de sedução para quem busca somente a dança, a festa (mesmo a festa íntima a dois). Há, sim, suingue, geralmente ditado pelo naipe de metais que pulsam em músicas como Flores da vida real (Ed Motta e Chico Amaral) e Episódio (Ed Motta e Edna Lopes). Mas a festa é outra. AOR vai fazer a festa íntima de ouvintes que apreciam requintes de arranjos executados por músicos de primeiríssimo time - como convém a um disco que busca a perfeição técnica. Time reforçado por feras estrangeiras como Jean Paul Bluey Maunik (músico do grupo britânico de acid jazz Incognito), cuja guitarra é peça-chave que faz decolar Marta (Ed Motta e Edna Lopes), música com letra repleta de imagens e ação que renderia história em quadrinhos (Edna Lopes, mulher de Ed e letrista de temas como o já previamente divulgado 1978, não por acaso é quadrinista). Com versos em espanhol do argentino Dante Spinetta, que diz o rap do fim da faixa, Latido segue a rota Brasil-Argentina sem alterar o idioma do pop soul de Ed Motta. Que pilota vozes e teclados da vinheta que dá nome ao disco, AOR, uma das duas faixas em que Ed assina música e letra. A outra é A engrenagem, em cujos versos de inspiração autoral o compositor alude implicitamente ao bullying que sofreu por atacar colegas no Facebook. Usando o título da música que fecha o disco (a edição à venda no iTunes tem faixa adicional, Mais do que eu sei, parceria de Ed com Dudu Falcão), AOR é disco que funciona como engrenagem. No caso, todas as peças estão devidamente encaixadas em seus devidos lugares para produzir o som ambicionado por Ed Motta. Nesse sentido estético e cerebral, AOR é álbum perfeito. Só que aparentemente o artista ignorou regra crucial do manual pop: fazer música mais convidativa à dança, não necessariamente com refrão-chiclete, mas com um algo a mais que toque de forma emocional o ouvinte e que não arrebate somente pela perfeição técnica do registro do disco. Manuel foi pro céu, mas Ed já não está na terra...

Marcelo Donati disse...

Bela resenha, como sempre, mas uma observação: música pop não tem a obrigatoriedade de ser sempre dançante.

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito boa a resenha.

Gabriel Silveira disse...

Ed Motta lança mais um excelente álbum com participação de grandes músicos. Ed Motta é um gênio da música que vem desde seus 17 anos de idade mostrando composições e perfomances musicais de alto nível.