Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

'Dias de luta' volta ao 'front' no posto de melhor livro sobre o pop dos 80

Resenha de livro
Título: Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80
Autor: Ricardo Alexandre
Editora: Arquipélago Editorial
Cotação: * * * * *

Lançado originalmente em 2002, Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 volta ao front editorial e - onze anos depois - ainda permanece no posto de melhor livro sobre os (des)caminhos da geração que deu uma cara pop ao Brasil ao longo da década de 80. Com nova capa que alude aos videogames de 8-bits, uma das marcas daqueles anos de revoluções por minuto na cultura pop nativa, o livro foi atualizado, mas preserva a arquitetura do texto original do jornalista Ricardo Alexandre. Num estilo informativo, que jamais perde de vista a objetividade jornalística, o autor narra a ascensão, o apogeu e a queda dos grupos mais importantes do pop rock brasileiro dos anos 80 - bem como as tentativas dos que se perderam pelo caminho sem chegar a ocupar a linha de frente. O que fascina na leitura é o tom realista, sem firulas.  Alexandre jamais se porta como fã de determinada banda ou intérprete. A invasão da praia da MPB pelo geração pop é contada com aguçada visão analítica e com todos seus deliciosos causos de bastidores sem que o texto saia do tom jornalístico. Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 expõe a vida pop como ela é. Ou pelo menos como ela foi nos dias em que a juvenília brasileira teve uma ideologia - perceptível na gênese de bandas como Legião Urbana e Plebe Rude, originadas do universo punk de Brasília (DF) - e teve heróis que morreram, não de overdose, mas vítimas dos efeitos do vírus da Aids, praga da década. O subtítulo O rock e o Brasil dos anos 80 traduz com precisão o conteúdo do livro, pois Alexandre situa o aparecimento da geração pop no contexto sócio-político do inflacionado país daquela década. A rigor, a luta começa uma década antes e, por isso, o primeiro capítulo, Os primórdios, foca nomes que militaram no front do rock nacional ao longo dos anos 70, como Rita Lee e o trio Vímana, formado por Lobão, Lulu Santos e Ritchie, artistas que ganhariam fama na década seguinte, já em suas respectivas carreiras individuais. Mas o supra-sumo do livro reside sobretudo na história e nas estórias das bandas que emergiram nos anos 80. Barão Vermelho, Blitz, Kid Abelha, RPM e Titãs - para citar somente alguns nomes mais relevantes - são grupos perfilados pelo autor à medida em que a narrativa avança. Mas sem tom professoral ou panfletário. Embora conte com depoimentos dos nomes mais relevantes da geração, Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 foge da armadilha de contar a história oficial da geração pop tupiniquim da década. Os acidentes de percurso - acontecidos sobretudo na virada dos anos 80 para os 90, quando as egotrips e as ambições já haviam dissolvido os seminais traços de união entre a geração - também são narrados com a clareza que pontua o texto. É quando sexo e drogas eventualmente se juntam ao rock'n'roll. Como o pop não poupa ninguém, o autor também expõe os vícios e virtudes dos críticos da década, personagens às vezes importantes de uma época em que a crítica de um disco ainda podia ter (real) relevância no universo pop. O grande mérito de Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 é montar um painel bem completo daqueles tempos de danceterias, remixes e revista Bizz. Ao longo dos onze anos que separam a edição original do livro desta oportuna reedição, as bandas mais importantes da década já foram biografadas em livros e/ou filmes. Mas nenhum livro exibe com tanta lucidez o panorama musical daqueles anos 80. Como novidade, a reedição de Dias de luta oferece, como apêndice, uma lista com 50 músicas emblemáticas da geração 80, com direito a uma breve descrição de cada tema. Enfim, trata-se de livro essencial para quem quer ter uma visão mais analítica do universo pop dos anos 80 - década em que o rock deu uma blitz na MPB, como disse Gilberto Gil com trocadilho e espirituosidade, e passou a ditar as regras do jogo até perder progressivamente seu posto, sua influência e suas vendas na década de 90. Mas isso já é assunto para outro livro. Que ainda não foi escrito.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Lançado originalmente em 2002, Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 volta ao front editorial e - onze anos depois - ainda permanece no posto de melhor livro sobre os (des)caminhos da geração que deu uma cara pop ao Brasil ao longo da década de 80. Com nova capa que alude aos videogames de 8-bits, uma das marcas daqueles anos de revoluções por minuto na cultura pop nativa, o livro foi atualizado, mas preserva a arquitetura do texto original do jornalista Ricardo Alexandre. Num estilo informativo, que jamais perde de vista a objetividade jornalística, o autor narra a ascensão, o apogeu e a queda dos grupos mais importantes do pop rock brasileiro dos anos 80 - bem como as tentativas dos que se perderam pelo caminho sem chegar a ocupar a linha de frente. O que fascina na leitura é o tom realista, sem firulas. Alexandre jamais se porta como fã de determinada banda ou intérprete. A invasão da praia da MPB pelo geração pop é contada com aguçada visão analítica e com todos seus deliciosos causos de bastidores sem que o texto saia do tom jornalístico. Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 expõe a vida pop como ela é. Ou pelo menos como ela foi nos dias em que a juvenília brasileira teve uma ideologia - perceptível na gênese de bandas como Legião Urbana e Plebe Rude, originadas do universo punk de Brasília (DF) - e teve heróis que morreram, não de overdose, mas vítimas dos efeitos do vírus da Aids, praga da década. O subtítulo O rock e o Brasil dos anos 80 traduz com precisão o conteúdo do livro, pois Alexandre situa o aparecimento da geração pop no contexto sócio-político do inflacionado país daquela década. A rigor, a luta começa uma década antes e, por isso, o primeiro capítulo, Os primórdios, foca nomes que militaram no front do rock nacional ao longo dos anos 70, como Rita Lee e o trio Vímana, formado por Lobão, Lulu Santos e Ritchie, artistas que ganhariam fama na década seguinte, já em suas respectivas carreiras individuais. Mas o supra-sumo do livro reside sobretudo na história e nas estórias das bandas que emergiram nos anos 80. Barão Vermelho, Blitz, Kid Abelha, RPM e Titãs - para citar somente alguns nomes mais relevantes - são grupos perfilados pelo autor à medida em que a narrativa avança. Mas sem tom professoral ou panfletário. Embora conte com depoimentos dos nomes mais relevantes da geração, Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 foge da armadilha de contar a história oficial da geração pop tupiniquim da década. Os acidentes de percurso - acontecidos sobretudo na virada dos anos 80 para os 90, quando as egotrips e as ambições já haviam dissolvido os seminais traços de união entre a geração - também são narrados com a clareza que pontua o texto. É quando sexo e drogas eventualmente se juntam ao rock'n'roll. Como o pop não poupa ninguém, o autor também expõe os vícios e virtudes dos críticos da década, personagens às vezes importantes de uma época em que a crítica de um disco ainda podia ter (real) relevância no universo pop. O grande mérito de Dias de luta - O rock e o Brasil dos anos 80 é montar um painel bem completo daqueles tempos de danceterias, remixes e revista Bizz. Ao longo dos onze anos que separam a edição original do livro desta oportuna reedição, as bandas mais importantes da década já foram biografadas em livros e/ou filmes. Mas nenhum livro exibe com tanta lucidez o panorama musical daqueles anos 80. Como novidade, a reedição de Dias de luta oferece, como apêndice, uma lista com 50 músicas emblemáticas da geração 80, com direito a uma breve descrição de cada tema. Enfim, trata-se de livro essencial para quem quer ter uma visão mais analítica do universo pop dos anos 80 - década em que o rock deu uma blitz na MPB, como disse Gilberto Gil com trocadilho e espirituosidade, e passou a ditar as regras do jogo até perder progressivamente seu posto, sua influência e suas vendas na década de 90. Mas isso já é assunto para outro livro. Que ainda não foi escrito.

Anônimo disse...

Meu amigo Felipe, que aqui comenta, vive tecendo loas a esse livro.
Acho que vou lê-lo no lugar do livro do Lobão.
Perdi a vontade depois da guinada à direita(reaça) do cara.
Elogiar milico, meu filho?!
Ficou parecendo parente do Edson Lobão. :-)

Felipe dos Santos disse...

Leia, Zé Henrique - e todos que aqui passaram.

Indispensável. Ponto. Como Mauro disse, analisa a importância da geração sem ser saudosista nem baba-ovo.

Ah, sim: como ele diz no prefácio, uma das publicações que lhe deu o impulso para "Dias de luta" foi "Titãs - do underground ao acústico", revista então publicada pela editora Acme, no fim de 1997, pegando o vácuo do estouro do "Acústico MTV".

Outra publicação indispensável, que me iniciou nas hostes do então septeto. Infelizmente, eu a perdi numa das mudanças da vida.

Felipe dos Santos Souza

Anônimo disse...

Vou ler sim.
Apesar dos pesares foi uma geração importante, cumpriu sua sina.
Essa capa ficou bem legal.
Olha a Paula Toller toda toda em um tubinho vermelho. :-)

PS: A frase do Gil "o rock deu uma blitz na MPB" faz o Kl e seus birutas(ops! batutas) tremerem só de ouvir. hehhee

Miyage disse...

Os "bonequinhos" da capa devem ser, de cima para baixo: Titãs, RPM, Legião, Paralamas e Kid Abelha.

Ficaram legais os suspensórios do Renato Rocha e o estilo megalomaníaco do RPM!

KL disse...

Ricardo Alexandre escreve maravilhosamente bem, e isso para mim é motivo suficiente para querer ler esse livro. E, mesmo que a geração 1980 não chegue nem ao cocô do solado do sapato das gerações 50-60-70, nem por isso deve ser ignorada. Ao contrário dos idiotas (sempre) de plantão, que levam sua histeria às últimas consequências, derrapam orgulhosamente na Gramática, citam-se a si mesmos sem o menor pudor e - o pior - não se conformam com a previsibilidade e insignificância de suas opiniões, que beiram ao discurso quaquaquá de um reality show. Como já escreveu a filósofa e sábia Angela Rorô, "não é pra rir, mas nem sério seria".

Anônimo disse...

Mas é para rir QUASE sempre, cara!
Caso contrário, vira hospício.
E Deus me livre ser seu colega de quarto.

PS: Foi mal, Mauro. O cara é mesmo um Joselito - não sabe brincar.