Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Groove de Simoninha valoriza acariocada safra autoral de 'Alta fidelidade'

Resenha de CD
Título: Alta fidelidade
Artista: Simoninha
Gravadora: S de Samba / Som Livre
Cotação: * * *

Em seu quarto álbum, Melhor (2008), Simoninha aprimorou seu mix de samba, soul e funk com grooves azeitados e repertório coeso. Em Alta fidelidade, o recém-lançado quinto álbum do filho de Wilson Simonal (1938 - 2000), o repertório é - no todo - ligeiramente menos inspirado, apesar de conter belezas como a arejada canção Versos fáceis (Simoninha). Mas o groove black - desta vez, formatado em estúdio pelo artista com Alex Moreira e Bruno Bona, coprodutores do disco - continua azeitado e valoriza inédita safra autoral de clima acariocado. Embora Alta fidelidade tenha sido gravado na ponte Rio de Janeiro (RJ) - São Paulo (SP), o dna da cidade natal da Bossa Nova está impresso nos sulcos deste disco que foca amores e mar sob ótica feliz. Por essa ótica, o amor pode ser uma onda nas pedras do Arpoador, como poetiza verso de Nós dois (Mu Chebabi e Simoninha), refinada canção romântica (Distraído, música composta por Simoninha sem parceiros, também bate na tecla do romantismo no único instante que quase nubla o ensolarado cancioneiro do disco). Em sintonia com o espírito do disco o perfil da personagem-título do samba Morena rara (Edu Krieger e Simoninha) também se encaixa na geografia carioca. Mas está mais para a suburbana Zona Norte do Rio enquanto Meninas do Leblon (João Sabiá e Simoninha) - samba menos sedutor cantado por Simoninha com João Sabiá, seu parceiro no tema - está mais para a Zona Sul. Assim como Quando (Simoninha, João Marcello Bôscoli e Marcelo Lima), boa lembrança do repertório da Suíte Combo - banda formada por Simoninha com João Marcello Bôscoli nos anos 80 - que tem sua força atenuada no álbum pelo fato de Simoninha estar cantando mal na faixa. Ambiências cariocas à parte, Alta fidelidade perde fôlego em faixas como Quebra, de groove black menos contagiante e mais déjà vu. Ecos distantes do suingue irreproduzível de Jorge Ben Jor se fazem ouvir em alguns pontos do disco - evocação já perceptível nos dois pretensiosos primeiros álbuns individuais do artista, Volume 2 (2000) e Sambaland Club (2002) - e, nesse sentido, Simoninha soa por vezes como mero diluidor do balanço da Música Preta Brasileira em faixas como Qual é o meu lugar (Menina) (Simoninha). Tal diluição, contudo, não diminui a beleza de Paixão (Meu time) (Simoninha e Carlos Rennó), tema que exalta o espetáculo do futebol sem cair nos clichês festivos que irmanam músicas que versam sobre o esporte. No fim, o samba Pois é, poeira (Simoninha e Bernardo Vilhena) pede passagem com certo artificialismo na abordagem do espetáculo dado pelas escolas de samba ao desfilar no Carnaval. Simoninha fica mais à vontade na sua praia, embora, a rigor, o artista nem tenha praia só sua.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em seu quarto álbum, Melhor (2008), Simoninha aprimorou seu mix de samba, soul e funk com grooves azeitados e repertório coeso. Em Alta fidelidade, o recém-lançado quinto álbum do filho de Wilson Simonal (1938 - 2000), o repertório é - no todo - ligeiramente menos inspirado, apesar de conter belezas como a arejada canção Versos fáceis (Simoninha). Mas o groove black - desta vez, formatado em estúdio pelo artista com Alex Moreira e Bruno Bona, coprodutores do disco - continua azeitado e valoriza inédita safra autoral de clima acariocado. Embora Alta fidelidade tenha sido gravado na ponte Rio de Janeiro (RJ) - São Paulo (SP), o dna da cidade natal da Bossa Nova está impresso nos sulcos deste disco que foca amores e mar sob ótica feliz. Por essa ótica, o amor pode ser uma onda nas pedras do Arpoador, como poetiza verso de Nós dois (Mu Chebabi e Simoninha), refinada canção romântica (Distraído, música composta por Simoninha sem parceiros, também bate na tecla do romantismo no único instante que quase nubla o ensolarado cancioneiro do disco). Em sintonia com o espírito do disco o perfil da personagem-título do samba Morena rara (Edu Krieger e Simoninha) também se encaixa na geografia carioca. Mas está mais para a suburbana Zona Norte do Rio enquanto Meninas do Leblon (João Sabiá e Simoninha) - samba menos sedutor cantado por Simoninha com João Sabiá, seu parceiro no tema - está mais para a Zona Sul. Assim como Quando (Simoninha, João Marcello Bôscoli e Marcelo Lima), boa lembrança do repertório da Suíte Combo - banda formada por Simoninha com João Marcello Bôscoli nos anos 80 - que tem sua força atenuada no álbum pelo fato de Simoninha estar cantando mal na faixa. Ambiências cariocas à parte, Alta fidelidade perde fôlego em faixas como Quebra, de groove black menos contagiante e mais déjà vu. Ecos distantes do suingue irreproduzível de Jorge Ben Jor se fazem ouvir em alguns pontos do disco - evocação já perceptível nos dois pretensiosos primeiros álbuns individuais do artista, Volume 2 (2000) e Sambaland Club (2002) - e, nesse sentido, Simoninha soa por vezes como mero diluidor do balanço da Música Preta Brasileira em faixas como Qual é o meu lugar (Menina) (Simoninha). Tal diluição, contudo, não diminui a beleza de Paixão (Meu time) (Simoninha e Carlos Rennó), tema que exalta o espetáculo do futebol sem cair nos clichês festivos que irmanam músicas que versam sobre o esporte. No fim, o samba Pois é, poeira (Simoninha e Bernardo Vilhena) pede passagem com certo artificialismo na abordagem do espetáculo dado pelas escolas de samba ao desfilar no Carnaval. Simoninha fica mais à vontade na sua praia, embora, a rigor, o artista nem tenha praia só sua.

Fabio disse...

Preguiça do simulacro do Simonal.