Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 7 de maio de 2013

'The blue room' confina Peyroux ao mundo country sem perda da classe

Resenha de CD
Título: The blue room
Artista: Madeleine Peyroux
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

É impossível resistir à pungência da abordagem de Born to lose (Frankie Brown) por Madeleine Peyroux. Embalada por cordas orquestradas pelo maestro Vince Mendoza, a cantora norte-americana de pop jazz refina o sentimento derrotista que pontua o tema - gravado por Ray Charles (1930 - 2004) no emblemático  Modern sounds in country and western music, álbum que gerou dois volumes lançados em 1962 - sem perder sua classe. Mas também sem deixar de transmitir no canto introspectivo - resultado de voz posta sem vibratos - toda a dor e desilusão contida em Born to lose. A faixa dá o tom do sétimo álbum de estúdio de Peyroux, The blue room, produzido por Larry Klein, lançado em março nos Estados Unidos e recém-editado no Brasil pela Universal Music. Com liberdades estilísticas, o disco celebra a investida de Ray - então o rei do soul e do blues - no terreno da country music. Das dez músicas do álbum, cinco foram pinçadas dos repertórios dos dois volumes do Modern sounds in country and western music. Dessas cinco músicas, a única que desaponta é justamente o hit do disco, I can't stop loving you (Don Gibson), envolta por Peyroux em suave atmosfera bluesy e imbatível na interpretação sublime e aclamada de Ray. Em contrapartida, em temas como Bye bye love (Felice e Boudleaux Bryant), a cantora consegue a proeza de evocar a atmosfera country - sugerida sobretudo pelo toque da guitarra eletroacústica de Dean Parks e pelo órgão hammond b-3 de Larry Goldings - sem sair de seu estilo. Quando sai da seara de Ray, nas outras cinco (boas) músicas, The blue room preserva todo seu poder de sedução. Também embaladas pelas recorrentes cordas arranjadas por Vince Mendonza, Guilty (Randy Newman) ganha registro envolvente que reitera a personalidade de Peyroux como intérprete - qualidade fundamental, pois, ao contrário do antecessor Standing on the rooftop (2011), disco que expandiu a obra autoral da cantora que também é compositora, The blue room é álbum de intérprete. Um disco que prioriza o pop de arquitetura orquestral em detrimento do jazz, como sinaliza a releitura de You don't know me (Cindy Walker e Eddy Arnold), faixa pontuada em sua metade final pelo sopro chique do trompete de John Scrapper Sneider. E o fato é que a intérprete brilha como nunca ao abordar músicas interiorizadas do quilate de Bird on the wire (Leonard Cohen) e da depressiva Desperadoes under the eaves (Warren Zevon), belo fecho para CD que figura em lugar de honra na fina discografia de Madeleine Peyroux, ora mais distante do jazz.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É impossível resistir à pungência da abordagem de Born to lose (Frankie Brown) por Madeleine Peyroux. Embalada por cordas orquestradas pelo maestro Vince Mendoza, a cantora norte-americana de pop jazz refina o sentimento derrotista que pontua o tema - gravado por Ray Charles (1930 - 2004) no emblemático Modern sounds in country and western music, álbum que gerou dois volumes lançados em 1962 - sem perder sua classe. Mas também sem deixar de transmitir no canto introspectivo - resultado de voz posta sem vibratos - toda a dor e desilusão contida em Born to lose. A faixa dá o tom do sétimo álbum de estúdio de Peyroux, The blue room, produzido por Larry Klein, lançado em março nos Estados Unidos e recém-editado no Brasil pela Universal Music. Com liberdades estilísticas, o disco celebra a investida de Ray - então o rei do soul e do blues - no terreno da country music. Das dez músicas do álbum, cinco foram pinçadas dos repertórios dos dois volumes do Modern sounds in country and western music. Dessas cinco músicas, a única que desaponta é justamente o hit do disco, I can't stop loving you (Don Gibson), envolta por Peyroux em suave atmosfera bluesy e imbatível na interpretação sublime e aclamada de Ray. Em contrapartida, em temas como Bye bye love (Felice e Boudleaux Bryant), a cantora consegue a proeza de evocar a atmosfera country - sugerida sobretudo pelo toque da guitarra eletroacústica de Dean Parks e pelo órgão hammond b-3 de Larry Goldings - sem sair de seu estilo. Quando sai da seara de Ray, nas outras cinco (boas) músicas, The blue room preserva todo seu poder de sedução. Também embaladas pelas recorrentes cordas arranjadas por Vince Mendonza, Guilty (Randy Newman) ganha registro envolvente que reitera a personalidade de Peyroux como intérprete - qualidade fundamental, pois, ao contrário do antecessor Standing on the rooftop (2011), disco que expandiu a obra autoral da cantora que também é compositora, The blue room é álbum de intérprete. Um disco que prioriza o pop de arquitetura orquestral em detrimento do jazz, como sinaliza a releitura de You don't know me (Cindy Walker e Eddy Arnold), faixa pontuada em sua metade final pelo sopro chique do trompete de John Scrapper Sneider. E o fato é que a intérprete brilha como nunca ao abordar músicas interiorizadas do quilate de Bird on the wire (Leonard Cohen) e da depressiva Desperadoes under the eaves (Warren Zevon), belo fecho para CD que figura em lugar de honra na fina discografia de Madeleine Peyroux, ora mais distante do jazz.

Rafael M. disse...

Adoro essa cantora. Para mim uma das melhores da sua geração. Tem uma voz quente e sensual, que dá um charme todo especial as canções que canta. Adoro a versão dela para "Dance Me To The End Of Love". :-)