Mauro Ferreira no G1

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sábado, 1 de dezembro de 2012

Nasi destila sua ira em álbum cru, 'Perigoso' entre o rock, o country e o blues

Resenha de CD
Título: Perigoso
Artista: Nasi
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2

 "Agora que eu sobrevi a tanta dor / Pra ser feliz eu cavo até um outro poço", adverte Nasi em versos do country rock que dá título ao seu terceiro disco solo, Perigoso. Composto por Nasi em parceria com Johnny Boy, Perigoso exemplifica o tom cru e direto do álbum idealizado e arranjado pelo vocalista do extinto grupo Ira! ao lado de Boy. Na foto da capa do CD, clicada por Fabiana Figueiredo, Nasi aparece como quem espreita o inimigo pela fresta, à espera da hora do ataque. De certa forma, o cantor manda seus recados através das letras deste disco que transita por rock, country e blues. Seu corpo parece fechado, como insinuam com maior ou menor clareza o rock Ori e o country rock Amuleto, mais duas parcerias de Nasi com Johnny Boy que evocam nas letras o poder das religiões afro-brasileiras. Assim como outras músicas do disco, o blues Feitiço da Rua 23 (Nasi e Nivaldo Campopiano) parece até ecoar passagens da vida louca vida do artista, contada em primeira pessoa na recente autobiografia A ira de Nasi. (Belas Letras, 2012). De certa forma, é como se Perigoso fosse a trilha sonora revista e atualizada do livro. O discurso autobiográfico é recorrente em músicas como Não vejo mais nada de você (Nasi, Johnny Boy e Carlos Careqa), faixa em que Nasi amarga a sensação de não reconhecer a sua São Paulo (SP) de tempos idos na volta à cidade hoje tão blasé na percepção do artista. "Estão tão perto e tão longe de mim", conclui, decepcionado. A essas cinco inéditas, juntam-se cinco covers que se ajustam ao espírito cru do disco. Nasi acentua a pulsação roqueira de Não há dinheiro que pague (Renato Barros, 1968) - sucesso na voz de Roberto Carlos no início de sua fase pós-Jovem Guarda - e flerta com o soul em Tudo bem (Guilherme Saldanha e Tomaz Paoliello, 2010), do repertório da banda indie paulista Garotas Suecas. Uma das sacações da seleção de covers é Como é que eu vou poder viver tão triste, balada de Demétrius (o cantor do sucesso pré-Jovem Guarda O ritmo da chuva), gravada em 1972 pelo melancólico e popular cantor capixaba Paulo Sérgio (1944 - 1980) e abordada por Nasi dentro do universo do blues, gênero com o qual tem intimidade. Outra sacada - esta menos surpreendente, pois também tida pelo DJ Zé Pedro ao garimpar repertório para o recente segundo álbum do cantor pernambucano Paulo Neto - é Dois animais na selva suja da rua, música de Taiguara (1945 - 1996), revivida por Nasi no espírito roqueiro deste álbum urgente e direto. Completa o repertório uma abordagem em tom country de sucesso de Raul Seixas (1945 - 1989), As minas do Rei Salomão (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1973). "Se me chamarem /Diga que eu saí", avisa Nasi sorrateiro, despistando o inimigo que o espreita, sem medo do perigo. Nasi está salvo...

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Agora que eu sobrevi a tanta dor / Pra ser feliz eu cavo até um outro poço", adverte Nasi em versos do country rock que dá título ao seu terceiro disco solo, Perigoso. Composto por Nasi em parceria com Johnny Boy, Perigoso exemplifica o tom cru e direto do álbum idealizado e arranjado pelo vocalista do extinto grupo Ira! ao lado de Boy. Na foto da capa do CD, clicada por Fabiana Figueiredo, Nasi aparece como quem espreita o inimigo pela fresta, à espera da hora do ataque. De certa forma, o cantor manda seus recados através das letras deste disco que transita por rock, country e blues. Seu corpo parece fechado, como insinuam com maior ou menor clareza o rock Ori e o country rock Amuleto, mais duas parcerias de Nasi com Johnny Boy que evocam nas letras o poder das religiões afro-brasileiras. Assim como outras músicas do disco, o blues Feitiço da Rua 23 (Nasi e Nivaldo Campopiano) parece até ecoar passagens da vida louca vida do artista, contada em primeira pessoa na recente autobiografia A Ira de Nasi. (Belas Letras, 2012). De certa forma, é como se Perigoso fosse a trilha sonora revista e atualizada do livro. O discurso autobiográfico é recorrente em músicas como Não Vejo Mais Nada de Você (Nasi, Johnny Boy e Carlos Careqa), faixa em que Nasi amarga a sensação de não reconhecer a sua São Paulo (SP) de tempos idos na volta à cidade hoje tão blasé na percepção do artista. "Estão tão perto e tão longe de mim", conclui, decepcionado. A essas cinco inéditas, juntam-se cinco covers que se ajustam ao espírito cru do disco. Nasi acentua a pulsação roqueira de Não Há Dinheiro que Pague (Renato Barros, 1968) - sucesso na voz de Roberto Carlos no início de sua fase pós-Jovem Guarda - e flerta com o soul em Tudo Bem (Guilherme Saldanha e Tomaz Paoliello, 2010), do repertório da banda indie paulista Garotas Suecas. Uma das sacações da seleção de covers é Como É Que Eu Vou Poder Viver Tão Triste, balada de Demétrius (o cantor do sucesso pré-Jovem Guarda O Ritmo da Chuva), gravada em 1972 pelo melancólico e popular cantor capixaba Paulo Sérgio (1944 - 1980) e abordada por Nasi dentro do universo do blues, gênero com o qual tem intimidade. Outra sacada - esta menos surpreendente, pois também tida pelo DJ Zé Pedro ao garimpar repertório para o recente segundo álbum do cantor pernambucano Paulo Neto - é Dois Animais na Selva Suja da Rua, música de Taiguara (1945 - 1996), revivida por Nasi no espírito roqueiro deste álbum urgente e direto. Completa o repertório a abordagem country de sucesso de Raul Seixas (1945 - 1989), As Minas do Rei Salomão (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1973). "Se me chamarem/Diga que eu saí", avisa Nasi sorrateiro, despistando o inimigo, sem medo do perigo.

Anônimo disse...

Perigoso pro meu ouvido, ele não percebeu que perdeu a voz pra nicotina...

Anônimo disse...

É sempre um alento ver caras como o Nasi - nesses terríveis tempos de bom mocismo, de politicamente correto - na música, na vida.
Gente que ao envelhecer não perde sua verve, seu senso crítico...
Porém, e não menos importante, sem perder a ternura.

Rafael disse...

Não ouvi o resultado final do disco, porém não gostei da versão que ele fez de "O Tempo Não Pára". Realmente ele perdeu o brilho e o visgo da voz como cantor. Ele era bem mais interessante e relevante ainda integrava o Ira!. Depois disso perdeu-se na carreira.

Daทilo disse...

O problema é a voz do cara. Feia demais.

Rafael disse...

Não ouvi o resultado final do disco, porém não gostei da versão que ele fez de "O Tempo Não Pára". Realmente ele perdeu o brilho e o vigor da voz como cantor. Ele era bem mais interessante e relevante ainda integrava o Ira!. Depois disso perdeu-se na carreira.

Anônimo disse...

Rapaziada do The Voice, a dita cuja do Nasi combina com ele e com o som dele.
Assim como a de Nelson Cavaquinho, Celso Blues Boy e Bob Dylan... Com suas respectivas músicas/estilos.
Uma voz bonita é ótimo, ainda mais em se tratando de música, mas está longe de ser fator primordial para artistas como os citados acima.
A voz assim ou assado nunca será problema para o Nasi.

PS: Mil vezes vozes roufenhas, porém com veracidade e conteúdo, à belas vozes articiais e vazias.

Daniel disse...

Quero muito ouvir,mas a Trama não disponibiliza o download remunerado...tá fazendo doce!

Daทilo disse...

No quesito timbre gosto até dos (des)afinados Bebel Gilberto, Herbet Vianna, Tom Jobim, Nando Reis cantando, e tantos outros que não lembro agora. Mas o Nasi não desce, meus ouvidos não gostam, simples assim. Piora quando vejo as interpretações canastronas com cara de "malvado" cantando versos como "meu cachorro vênus foi roubado fiquei um pouco preocupado".

Rafael disse...

Daniel,

O disco do Nasi já está liberado para download através do site da Trama. Uma pena que as demais gravadoras não sigam esses estilo de música livre que há anos a Trama faz com tanto empenho e determinação.