Mauro Ferreira no G1

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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sonoridade do Almaz ganha peso, pegada e pressão em show eletrizante

Resenha de Show
Evento: Sonoridades
Título: Seu Jorge e Almaz
Artista: Seu Jorge e Almaz (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 4 de fevereiro de 2011
Cotação: * * * *
Em cartaz até sábado, 5 de fevereiro de 2011, no Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro

Em sua estreia em palcos brasileiros, o Almaz mostrou que a sonoridade do grupo ganha peso, pegada e pressão em cena. Difícil não se deixar seduzir pelo show que estreou no Brasil na noite de sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011, na sede de Ipanema do centro cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro (RJ), dentro da programação do Sonoridades, festival que tem curadoria de Nelson Motta. Diante de plateia basicamente de convidados que destacava nomes como a cantora Marisa Monte e a atriz Camila Pitanga, Seu Jorge e os músicos da Nação Zumbi -  Lúcio Maia (guitarra), Pupillo (bateria), Dengue (baixo, substituto temporário de Antonio Pinto, integrante original do Almaz) e Gustavo da Lua (percussão) - justificaram os elogios entusiásticos recebidos nos Estados Unidos e na Europa. Se o disco lançado pelo grupo em 2010 resulta estranho e por vezes apático, o show do Almaz é quase sempre eletrizante. Em essência, o Almaz envolve em densas camadas eletropsicodélicas ritmos como samba, rock e soul - com direito às distorções da guitarra fenomenal de Lúcio Maia. Já no número de abertura, Errare Humanum Est (Jorge Ben Jor, 1974), percebe-se que o canto de Seu Jorge em cena está mais exteriorizado. Aliada à precisão dos ousados arranjos, a presença elétrica de Seu Jorge no palco garante a pulsação do show. Seja cantando samba (Saudosa Bahia, Noriel Vilela e Sidney Martins, 1968), ciranda que gira alavancada por doses fartas de dub (Cirandar, Martinho da Vila e João Donato, 1982) ou temas de sua própria lavra (Carolina e Tive Razão, Jorge se porta em cena com a energia e a atitude de um cantor de rock. E, às vezes, o Almaz toca rock mesmo, como na pesada Água Viva (introduzida por solo de flauta em que Jorge toca A Rã, de João Donato) e como em Girl You Move me (F. Thompson), tema que acaba em samba, disfarçando a pronúncia e a emissão ruins do inglês de Jorge. Entre registros vocais mais interiorizados (Everybody Loves the Sunshine) e mais extrovertidos (Cristina, hit seminal de Tim Maia, muito mais interessante no show do que no disco do Almaz), Jorge não deixa a pressão do show cair. Destaque do roteiro, a ponto de voltar no bis, Pai João baixa no terreiro lisérgico do Almaz, que tira do baú esta pérola do psicodélico disco Estrelando Embaixador, lançado em 1972 pela hoje obscura Tribo Massahi. Ainda na linha afro-samba, Tempo de Amor (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) é outra música que soa mais envolvente no show do que no disco. Já Rock with You - hit do primeiro álbum adulto de Michael Jackson (1958 - 2009), Off the Wall (1979) - resulta tão decepcionante como no disco apesar da sonoridade esperta da turma da Nação. Entre números psicodélicos pautados por reverbs e distorções, o Almaz experimenta até convencional levada pop na infeliz versão em português de Ziggy Stardust (David Bowie, 1972). Mas eis que a banda se chega novamente para o suingue do Zé Pretinho - revivendo Mas que Nada (1963) e Xica da Silva (1976) - e repõe o show no trilho. Em cena, Seu Jorge emerge forte da lama do Mangue Beat.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em sua estreia em palcos brasileiros, o Almaz mostrou que a sonoridade do grupo ganha peso, pegada e pressão em cena. Difícil não se deixar seduzir pelo show que estreou no Brasil na noite de sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011, na sede de Ipanema do centro cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro (RJ), dentro da programação do Sonoridades, festival que tem curadoria de Nelson Motta. Diante de plateia basicamente de convidados que destacava nomes como a cantora Marisa Monte e a atriz Camila Pitanga, Seu Jorge e os músicos da Nação Zumbi - Lúcio Maia (guitarra), Pupillo (bateria), Dengue (baixo, substituto temporário de Antonio Pinto, integrante original do Almaz) e Gustavo da Lua (percussão) - justificaram os elogios entusiásticos recebidos nos Estados Unidos e na Europa. Se o disco lançado pelo grupo em 2010 resulta estranho e por vezes apático, o show do Almaz é quase sempre eletrizante. Em essência, o Almaz envolve em densas camadas eletropsicodélicas ritmos como samba, rock e soul - com direito às distorções da guitarra fenomenal de Lúcio Maia. Já no número de abertura, Errare Humanum Est (Jorge Ben Jor, 1974), percebe-se que o canto de Seu Jorge em cena está mais exteriorizado. Aliada à precisão dos ousados arranjos, a presença elétrica de Seu Jorge no palco garante a pulsação do show. Seja cantando samba (Saudosa Bahia, Noriel Vilela e Sidney Martins, 1968), ciranda que gira alavancada por doses fartas de dub (Cirandar, Martinho da Vila e João Donato, 1982) ou temas de sua própria lavra (Carolina e Tive Razão, Jorge se porta em cena com a energia e a atitude de um cantor de rock. E, às vezes, o Almaz toca rock mesmo, como na pesada Água Viva (introduzida por solo de flauta em que Jorge toca A Rã, de João Donato) e como em Girl You Move me (F. Thompson), tema que acaba em samba, disfarçando a pronúncia e a emissão ruins do inglês de Jorge. Entre registros vocais mais interiorizados (Everybody Loves the Sunshine) e mais extrovertidos (Cristina, hit seminal de Tim Maia, muito mais interessante no show do que no disco do Almaz), Jorge não deixa a pressão do show cair. Destaque do roteiro, a ponto de voltar no bis, Pai João baixa no terreiro lisérgico do Almaz, que tira do baú esta pérola do psicodélico disco Estrelando Embaixador, lançado em 1972 pela hoje obscura Tribo Massáhi. Ainda na linha afro-samba, Tempo de Amor (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) é outra música que soa mais envolvente no show do que no disco. Já Rock with You - hit do primeiro álbum adulto de Michael Jackson (1958 - 2009), Off the Wall (1979) - resulta tão decepcionante como no disco apesar da sonoridade esperta da turma da Nação. Entre números psicodélicos pautados por reverbs e distorções, o Almaz experimenta até convencional levada pop na infeliz versão em português de Ziggy Stardust (David Bowie, 1972). Mas eis que a banda se chega novamente para o suingue do Zé Pretinho - revivendo Mas que Nada (1963) e Xica da Silva (1976) - e repõe o show no trilho. Em cena, Seu Jorge emerge forte da lama do Mangue Beat.

Anônimo disse...

Como grande fã da Nação Zumbi e seus tentáculos, concordo com o Mauro que esse cd do Almaz foi pra lá de decepcionante. Coisa pra gringo.
Menos mal que o show ganha um tempero especial.
Tb, com essa cozinha, ao vivo, é difícil o prato não sair caprichado.