Mauro Ferreira no G1

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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ao vivo, a (bela) presença de Paula Fernandes valoriza seu pop ruralista

Resenha de CD, DVD e blu-ray
Título: Paula Fernandes ao Vivo
Artista: Paula Fernandes
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

As mais de 90 mil cópias vendidas do quinto CD de Paula Fernandes, Pássaro de Fogo (2008),  atestam que a cantora mineira já estava em ascensão no mercado fonográfico antes de ficar em evidência na mídia  nacional por conta dos elogios sedutores feitos publicamente por Roberto Carlos durante a gravação ao vivo do especial natalino do Rei, em 25 de dezembro de 2010. Paula aproveitou tal exposição para popularizar sua imagem e aliar seu (belo) visual à voz já ouvida desde 2005 em trilhas sonoras de novelas da TV Globo. O lançamento do primeiro registro de show da cantora neste início de 2011 acabou sendo providencial para propagar sua imagem fora do meio sertanejo. Lançado simultaneamente nos formatos de CD, DVD e blu-ray, Paula Fernandes ao Vivo perpetua a gravação feita em 5 de outubro de 2010 em show no estúdio Quanta, em São Paulo (SP). Envolta em ambiente bucólico tão belo quanto artificial, criado pela cenógrafa Gigi Barreto, a cantora põe sua voz grave em sucessos do universo sertanejo, em temas inéditos e nas músicas que mais se destacaram em Pássaro de Fogo, disco que marcou o ingresso de Paula no mainstream após quatro álbuns feitos por vias independentes. De sua própria lavra, a cantora entoa baladas como Sensações e Pra Você (sua primeira parceria com Zezé Di Camargo). Navegar em mim, outra inédita, ganha levada pop que tangencia o universo roqueiro, mas, a rigor, Paula Fernandes ao Vivo situa a artista no terreno do sertanejo pop romântico. Sem desrespeitar as leis imutáveis do mercado fonográfico, a cantora transita entre esse romantismo trivial e a canção ruralista de boa estirpe. Neste gênero, Jeito de Mato (Maurício Santini e Paula Fernandes) reitera sua nobreza em registro ao vivo acústico que tem partes cantadas somente pelo público, a capella. E o fato é que Paula canta de forma elegante e é dona de timbre marcante, tendo tudo para se impor, bela e feminina, no masculino e machista reino sertanejo. Sua bela presença cênica valoriza seu pop de leve tom rural. Mas é preciso critério na escolha do repertório. Ao mesmo tempo em que se mostra à vontade ao reviver com Leonardo a toada Tocando em Frente (Renato Teixeira e Almir Sater) e a guarânia Índia (sucesso de Cascatinha & Inhana que Gal Costa tomou para si nos anos 70), Paula Fernandes ainda não traz na voz uma carga emocional suficiente para encarar uma música mais densa como Costumes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1979), inserida no roteiro em gratidão ao Rei pelo convite para integrar o elenco do show Emoções Sertanejas, realizado em março de 2010. Em contrapartida, a canção Não Precisa - inédita fornecida por Victor Chaves e apresentada pela cantora na companhia da dupla Victor & Leo - se ajusta bem à voz da intérprete, como já tinha acontecido com a balada Quando a Chuva Passar (Ramón Cruz), sucesso radiofônico de Ivete Sangalo que Paula regravou para a abertura da novela Escrito nas Estrelas (2010) e que rebobina em seu DVD com o violino de Marcus Viana, o talentoso músico mineiro com quem a cantora já havia cruzado em trilhas independentes. Enfim, Paula Fernandes ao Vivo tem cacife para ampliar o público da nova musa sertaneja. Contudo, vai ser preciso adotar maior rigor na seleção do repertório do próximo álbum de estúdio para não seguir a trilha populista do sertanejo banal.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

As mais de 90 mil cópias vendidas do quinto CD de Paula Fernandes, Pássaro de Fogo (2008), atestam que a cantora mineira já estava em ascensão no mercado fonográfico antes de ficar em evidência na mídia nacional por conta dos elogios sedutores feitos publicamente por Roberto Carlos durante a gravação ao vivo do especial natalino do Rei, em 25 de dezembro de 2010. Paula aproveitou tal exposição para popularizar sua imagem e aliar seu (belo) visual à voz já ouvida desde 2005 em trilhas sonoras de novelas da TV Globo. O lançamento do primeiro registro de show da cantora neste início de 2011 acabou sendo providencial para propagar sua imagem fora do meio sertanejo. Lançado simultaneamente nos formatos de CD, DVD e blu-ray, Paula Fernandes ao Vivo perpetua a gravação feita em 5 de outubro de 2010 em show no estúdio Quanta, em São Paulo (SP). Envolta em ambiente bucólico tão belo quanto artificial, criado pela cenógrafa Gigi Barreto, a cantora põe sua voz grave em sucessos do universo sertanejo, em temas inéditos e nas músicas que mais se destacaram em Pássaro de Fogo, disco que marcou o ingresso de Paula no mainstream após álbuns feitos por vias independentes. De sua própria lavra, a cantora entoa baladas como Sensações e Pra Você (sua primeira parceria com Zezé Di Camargo). Navegar em mim, outra inédita, ganha levada pop que tangencia o universo roqueiro, mas, a rigor, Paula Fernandes ao Vivo situa a artista no terreno do sertanejo pop romântico. Sem desrespeitar as leis do mercado fonográfico, a cantora transita entre esse romantismo trivial e a canção ruralista de boa estirpe. Neste gênero, Jeito de Mato (Maurício Santini e Paula Fernandes) reitera sua nobreza em registro ao vivo acústico que tem partes cantadas somente pelo público, a capella. E o fato é que Paula canta de forma elegante e é dona de timbre marcante, tendo tudo para se impor, bela e feminina, no masculino e machista reino sertanejo. Sua bela presença cênica valoriza seu pop de leve tom rural. Mas é preciso critério na escolha do repertório. Ao mesmo tempo em que se mostra à vontade ao reviver com Leonardo a toada Tocando em Frente (Renato Teixeira e Almir Sater) e a guarânia Índia (sucesso de Cascatinha & Inhana que Gal Costa tomou para si nos anos 70), Paula Fernandes ainda não traz na voz uma carga emocional suficiente para encarar uma música mais densa como Costumes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1979), inserida no roteiro em gratidão ao Rei pelo convite para integrar o elenco do show Emoções Sertanejas, realizado em março de 2010. Em contrapartida, a canção Não Precisa - inédita fornecida por Victor Chaves e apresentada pela cantora na companhia da dupla Victor & Leo - se ajusta bem à voz da intérprete, como já tinha acontecido com a balada Quando a Chuva Passar (Ramón Cruz), sucesso radiofônico de Ivete Sangalo que Paula regravou para a abertura da novela Escrito nas Estrelas (2010) e que rebobina em seu DVD com o violino de Marcus Viana, o talentoso músico mineiro com quem a cantora já havia cruzado em trilhas independentes. Enfim, Paula Fernandes ao Vivo tem cacife para ampliar o público da nova musa sertaneja. Contudo, vai ser preciso adotar maior rigor na seleção do repertório do próximo álbum de estúdio para não seguir a trilha populista do sertanejo banal.

Pedro Progresso disse...

gente, mas ela é horrível.

Anônimo disse...

Pergunta que não quer calar:
O que esse desgraçado desse violão faz na capa?!
Faria com ele o que Sérgio Ricardo fez com o seu no festival.

PS: Engraçado como tem gêneros musicais machistas e feministas.
O axé, por exemplo, é feminista.

Diogo Santos disse...

Merece o investimento da Universal Music pois Paula tem uma bela voz, bela presença além de ser uma compositora inspirada. Não precisa entrar na trilha populista do sertanejo banal nem gravar Edu Krieger,Lula Queiroga,Rodrigo Maranhão,Pedro Luis, Marcelo Camelo e Cia só pra agradar!

Márcio disse...

Não conheço o trabalho da moça, mas sei que o violão que aparece na capa ela tocou quando cantou (bem) com Dominguinhos no especial "sertanejo" em homenagem a Roberto Carlos.

Curiosa essa sua tese dos gêneros musicais machistas e feministas, Zé Henrique. O Mangue Bit seria um gênero machista?

Anônimo disse...

A tese não é bem minha, Márcio.
Pensei nessa questão quando o Mauro colocou no texto "masculino e machista reino sertanejo".
Aí pensei nos gêneros musicais sob esse aspecto. Veja o samba, tão masculino e machista quanto o sertanejo.
O Mangue Beat não foi bem um gênero musical, assim como a Tropicália tb não foi.
Mas, sim, não diria que o Mangue Beat foi machista, e sim, masculino.
Aliás, Recife e Pernambuco "nunca na história desse país" teve uma cantora de destaque nacional.
Acho isso incrível.
Retifico, o axé não é feminista, e sim, feminino. São coisas bem diferentes. Talvez não haja um gênero musical feminista, mas machista há.

PS: Pra não dizer que não falei das flores. Sucesso pra mocinha do post. Não sei bem quanto a ouvir, mas é bem melhor ver esse shortinho curto do que aquelas calças apertadas. rsrsrrs

Abraço

Márcio disse...

Acho bem idiossincráticas suas definições, Zé Henrique. Quer dizer que o samba é machista e o Mangue Bit é masculino? Difícil de entender ... O que sei é que no samba a presença feminina, desde a época de tia Ciata, é essencial. Estranho a ausência de mulheres em movimentos importantes como o Clube da Esquina e o Mangue Bit. E vejo com muito bons olhos a divulgação para todo o Brasil de nomes como Karina Buhr e Isaar. Quem sabe uma delas não consegue real destaque nacional?

Anônimo disse...

Grande Márcio, eu sou totalmente idiossincrático, cara.
Gosto disso e tomei como elogio.
Mas em relação a esse post considero que não fui nem um pouco.
Pô, é óbvio ululante que o samba é machista.
Sim, teve a tia Ciata, Ivone lara, Beth Carvalho e tantas outras.
Não é só a presença ou a quantidade delas que faz um ritmo ser machista.
Conta tb, e muito, o teor das letras e os valores éticos e moraes de tal grupo.
Enfim, adoro samba, mas é machista até o talo.
Nada é perfeito.

PS: Aguardo coisa melhor que Karina e Isaar.

Abraço