Mauro Ferreira no G1

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domingo, 17 de julho de 2011

Timoneiro firme, Paulinho seduz em cena ao pescar pérolas de seu mar

Resenha de show
Título: Paulinho da Viola
Artista: Paulinho da Viola (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de julho de 2011
Cotação: * * * *

Timoneiro que conduz o leme de seu barco com a firmeza e elegância habituais, Paulinho da Viola encarna o pescador de pérolas no show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) - em apresentação única que lotou a casa Vivo Rio na noite de 15 de julho de 2011 - após ter rodado por São Paulo (SP) desde outubro de 2010. Raras no sentido de pouco badaladas, as pérolas são pescadas no mar de referências que moldam o rico universo musical deste artista ligado ao samba e ao choro. E é sintomático que o cantor, a sós com seu cavaquinho, abra o show com o samba Portela Feliz (Zé Kéti), pois é nítida a felicidade com que o artista se apresenta em cena. É com prazer que Paulinho - falante como poucas vezes foi visto em show - conceitua para o público a maioria dos sambas do roteiro. Com atuação precisa, a banda entra em cena a partir do segundo número, Botafogo, Chão de Estrelas (Paulinho da Viola e Aldir Blanc), samba que celebra tanto o time do futebol do Rio de Janeiro quanto o bairro carioca, celeiro de bambas como Walter Alfaiate (1930 - 2010). Alternando-se no violão e no cavaquinho, em pé ou sentado, Paulinho da Viola se porta em cena como o Príncipe do Samba, epíteto normalmente lhe outorgado pela nobreza que irmana em sua voz samba lançado por Dalva de Oliveira (1917 - 1972) - Tudo Foi Surpresa (Valzinho e Peter Pan), um dos números em que o canto do artista soa mais interiorizado -  e  parceria de tom filosófico feita por Paulinho com o poeta Sérgio Natureza, Brancas e Pretas, número em que se destaca a flauta de Mário Sève. Hábil, o pescador de pérolas se joga no mar de cinzas e memórias vagas que emergem em Cidade Submersa (Paulinho da Viola) com a mesma maestria com se exercita na leveza de Pintou um Bode (Paulinho da Viola), samba composto à moda sincopada do repertório do cantor Cyro Monteiro (1913 - 1973). Na sequência, Paulinho apresenta Um Cara Bacana, tema ainda inédito, composto em tributo a Elton Medeiros, parceiro presente na plateia e na coautoria de Ame, o número seguinte. Vem então a pérola mais rara, a bela Canção para Maria, parceria antiga com o poeta baiano José Carlos Capinam, defendida por Jair Rodrigues em festival de 1966 e gravada por Paulinho da Viola em obscuro compacto antes de cair em esquecimento. A letra de Capinam é pura poesia - assim como os versos reacendidos de Vela no Breu, outra colaboração de Paulinho com Sérgio Natureza. Após estratégica saída de cena para que o pianista Cristovão Bastos e o flautista Mário Sève solem Inesquecível, lírico choro composto por Paulinho em tributo a Jacob do Bandolim (1918 - 1969), o pescador volta introspectivo à cena para ruminar as inquietações de Orgulho, outra poética parceria com Capinam. O narrador da letra bem poderia ser o protagonista de O Tímido e a Manequim (Paulinho da Viola), mais um lado B com jeito de lado A, embora a rigor o tema tenha sido mesmo lançado no lado A de Eu Canto Samba (1989), um dos últimos discos de inéditas de Paulinho, álbum do qual ele pesca também no show uma pérola menos rara, Quando Bate uma Saudade.  Na sequência, trilogia de sambas de ilustres portelenses - Lenço (Monarco e Chico Santana), Peregrino (Noca da Portela) e Chega de Padecer (Mijinha) - encaminha para o final o belo show que mostra que o canto de Paulinho da Viola continua evocando a mesma profundeza de sentimentos, alguns mais expostos, outros submersos no mar de pérolas raras que emergem ao longo da apresentação. Mar que conduz o príncipe pescador - timoneiro seguro de seu barco musical desde meados da década de 60 - por águas sempre nobres e vivas.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Timoneiro que conduz o leme de seu barco com a firmeza e elegância habituais, Paulinho da Viola encarna o pescador de pérolas no show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) - em apresentação única que lotou a casa Vivo Rio na noite de 15 de julho de 2011 - após ter rodado por São Paulo (SP) desde outubro de 2010. Raras no sentido de pouco badaladas, as pérolas são pescadas no mar de referências que moldam o rico universo musical deste artista ligado ao samba e ao choro. E é sintomático que o cantor, a sós com seu cavaquinho, abra o show com o samba Portela Feliz (Zé Kéti), pois é nítida a felicidade com que o artista se apresenta em cena. É com prazer que Paulinho - falante como poucas vezes foi visto em show - conceitua para o público a maioria dos sambas do roteiro. Com atuação precisa, a banda entra em cena a partir do segundo número, Botafogo, Chão de Estrelas (Paulinho da Viola e Aldir Blanc), samba que celebra tanto o time do futebol do Rio de Janeiro quanto o bairro carioca, celeiro de bambas como Walter Alfaiate (1930 - 2010). Alternando-se no violão e no cavaquinho, em pé ou sentado, Paulinho da Viola se porta em cena como o Príncipe do Samba, epíteto normalmente lhe outorgado pela nobreza que irmana em sua voz samba lançado por Dalva de Oliveira (1917 - 1972) - Tudo Foi Surpresa (Valzinho e Peter Pan), um dos números em que o canto do artista soa mais interiorizado - e parceria de tom filosófico feita por Paulinho com o poeta Sérgio Natureza, Brancas e Pretas, número em que se destaca a flauta de Mário Sève. Hábil, o pescador de pérolas se joga no mar de cinzas e memórias vagas que emergem em Cidade Submersa (Paulinho da Viola) com a mesma maestria com se exercita na leveza de Pintou um Bode (Paulinho da Viola), samba composto à moda sincopada do repertório do cantor Cyro Monteiro (1913 - 1973). Na sequência, Paulinho apresenta Um Cara Bacana, tema ainda inédito, composto em tributo a Elton Medeiros, parceiro presente na plateia e na coautoria de Ame, o número seguinte. Vem então a pérola mais rara, a bela Canção para Maria, parceria antiga com o poeta baiano José Carlos Capinam, defendida por Jair Rodrigues em festival de 1966 e gravada por Paulinho da Viola em obscuro compacto antes de cair em esquecimento. A letra de Capinam é pura poesia - assim como os versos reacendidos de Vela no Breu, outra colaboração de Paulinho com Sérgio Natureza. Após estratégica saída de cena para que o pianista Cristovão Bastos e o flautista Mário Sève solem Inesquecível, lírico choro composto por Paulinho em tributo a Jacob do Bandolim (1918 - 1969), o pescador volta introspectivo à cena para ruminar as inquietações de Orgulho, outra poética parceria com Capinam. O narrador da letra bem poderia ser o protagonista de O Tímido e a Manequim (Paulinho da Viola), mais um lado B com jeito de lado A, embora a rigor o tema tenha sido mesmo lançado no lado A de Eu Canto Samba (1989), um dos últimos discos de inéditas de Paulinho, álbum do qual ele pesca também no show uma pérola menos rara, Quando Bate uma Saudade. Na sequência, trilogia de sambas de ilustres portelenses - Lenço (Monarco e Chico Santana), Peregrino (Noca da Portela) e Chega de Padecer (Mijinha) - encaminha para o final o belo show que mostra que o canto de Paulinho da Viola continua evocando a mesma profundeza de sentimentos, alguns mais expostos, outros submersos no mar de pérolas raras que emergem ao longo da apresentação. Mar que conduz o príncipe pescador - timoneiro seguro de seu barco musical desde meados da década de 60 - por águas sempre nobres e vivas.

Santana Filho disse...

`o aristocrata que nos resta', nas palavras de bethania, paulinho é silêncio e som...

Denilson Santos disse...

A pergunta que não quer calar e que não precisa ser respondida:

Por que não cinco estrelas?

abração,
Denilson