Mauro Ferreira no G1

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sábado, 9 de julho de 2011

Adnet reverbera 'cantigas de tempos atrás' no autoral CD 'Alma do Brasil'

Resenha de CD
Título: Alma do Brasil
Artista: Chico Adnet
Gravadora: Repique Brasil
Cotação: * * * 1/2

Nome pouco conhecido da família musical Adnet, tendo debutado no ramo como integrante do conjunto vocal Céu da Boca, o carioca Chico Adnet busca reconhecimento como solista e compositor com o lançamento de seu autoral CD Alma do Brasil. Com arranjo grandioso que ecoa os sons épicos das florestas e trilhas pisadas por Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), a faixa-título exemplifica o culto ao passado da música brasileira que norteia Alma do Brasil. Em essência, como diz verso da bela canção de amor Um Minuto Apenas, Adnet reverbera cantigas de tempos atrás. Um Minuto Apenas (bissexta parceria do compositor com seu tio Luiz Fernando Gonçalves), Tema de Evita e Por Que? - outra doída canção de amor - mostram que o melodista habitualmente inspirado descende da linhagem nobre de nomes como Francis Hime, influência nítida também em Arquiteto, tema letrado por Pedro Caetano. E são nessas canções que a voz do solista soa mais à vontade. Nos sambas como De Qualquer Maneira e Olha Só (arranjado em clima de gafieira com a intervenção vocal de Maúcha Adnet), a voz de Chico nem sempre exibe molho e viço suficientes para encarar temas cheios de ginga. Aliás, salta aos ouvidos em Alma do Brasil a supremacia do compositor sobre o cantor. Seja no instrumental e rebuscado Choro para Luiz Eça, seja na Última Valsa (solada solitariamente ao piano no fecho do CD), o compositor se mostra sempre sofisticado, ainda que sempre situado em algum lugar do passado da MPB. Dessa antologia autoral, arranjada com requinte pelo próprio Adnet (com exceção do samba Olha Só, formatado pelo cavaquinista Jayme Vignolli), vale destacar também Navegante, tema que abre Alma do Brasil em clima onírico. Contudo, pelo fluente diálogo com o passado da música brasileira, o álbum transita sempre por trilhas antigas, soando deslocado de seu tempo, mas ainda a tempo de projetar seu bom compositor.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Nome pouco conhecido da família musical Adnet, tendo debutado no ramo como integrante do conjunto vocal Céu da Boca, o carioca Chico Adnet busca reconhecimento como solista e compositor com o lançamento de seu autoral CD Alma do Brasil. Com arranjo grandioso que ecoa os sons épicos das florestas e trilhas pisadas por Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), a faixa-título exemplifica o culto ao passado da música brasileira que norteia Alma do Brasil. Em essência, como diz verso da bela canção de amor Um Minuto Apenas, Adnet reverbera cantigas de tempos atrás. Um Minuto Apenas (bissexta parceria do compositor com seu tio Luiz Fernando Gonçalves), Tema de Evita e Por Que? - outra doída canção de amor - mostram que o melodista habitualmente inspirado descende da linhagem nobre de nomes como Francis Hime, influência nítida também em Arquiteto, tema letrado por Pedro Caetano. E são nessas canções que a voz do solista soa mais à vontade. Nos sambas como De Qualquer Maneira e Olha Só (arranjado em clima de gafieira com a intervenção vocal de Maúcha Adnet), a voz de Chico nem sempre exibe molho e viço suficientes para encarar temas cheios de ginga. Aliás, salta aos ouvidos em Alma do Brasil a supremacia do compositor sobre o cantor. Seja no instrumental e rebuscado Choro para Luiz Eça, seja na Última Valsa (solada solitariamente ao piano no fecho do CD), o compositor se mostra sempre sofisticado, ainda que sempre situado em algum lugar do passado da MPB. Dessa antologia autoral, arranjada com requinte pelo próprio Adnet (com exceção do samba Olha Só, formatado pelo cavaquinista Jayme Vignolli), vale destacar também Navegante, tema que abre Alma do Brasil em clima onírico. Contudo, pelo fluente diálogo com o passado da música brasileira, o álbum transita sempre por trilhas antigas, soando deslocado de seu tempo, mas ainda a tempo de projetar seu bom compositor.

Luca disse...

Um disco com som do passado não é algo necessariamente ruim, Mauro,. Sua crítica me deu a impressão de desdenhar um pouco do disco por isso, como se todo disco tivesse que ter som atual, sejá lá o que isso for

O Andarilho disse...

Dá vontade de rir com essa "crítica" :-)))))). Esse disco é simplesmente IRRETOCÁVEL, de lindo.

Maurício Gouvêa disse...

Achei a crítica honesta, não é depreciativa. Acho que o Chico, apesar de ter sido um dos integrantes do Céu da Boca, não teve a intenção de se apresentar como cantor ou intérprete, e sim um "cantautor", defendendo sua lavra. Talvez isso pudesse ter ficada mais evidente no texto do Mauro, mas acredito que tenha sido esta sua intenção. E o fato de ser "deslocado no tempo" também dá a impressão de que trata-se de um disco datado, o que não é verdade, e também acredito que não tenha sido a intenção do crítico. As referências são as já comentadas no texto, na qual eu incluiria tb o Jobim (há inclusive referências explícitas a arranjos do maestro).