Mauro Ferreira no G1

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domingo, 24 de julho de 2011

Em 'Nó na Orelha', Criolo vai além do horizonte do rap dos guetos de SP

Resenha de CD
Título: Nó na Orelha
Artista: Criolo
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * * *

Em seu segundo álbum, Nó na Orelha, Kleber Cavalcante Gomes, vulgo Criolo, vai (muito) além do horizonte rítmico do rap produzido nos guetos periféricos de São Paulo (SP), dos quais o artista emergiu no mercado fonográfico em 2006 com o lançamento de seu primeiro álbum, Ainda Há Tempo. Se este foi urdido nos moldes mais tradicionais do hip hop, numa época em que o rapper ainda se apresentava com o nome de Criolo Doido, Nó na Orelha extrapola rótulos e clichês a ponto de incluir abolerada canção brega, Freguês da Meia Noite, entre os temas autorais do repertório formatado com inventividade por Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman (do coletivo Instituto). Nó na Orelha é um disco de rap mais pela atitude e pela temática afiada das letras do que pelo som em si, embora haja rap entre os afrobeats de Mariô, única música não assinada solitariamente por Criolo, parceiro de Kiko Dinucci no tema. E o fato é que o álbum surpreende a cada faixa. Em Bogotá, metais e batida à moda do Funk Como Le Gusta emolduram letra que expõe a indignação do artista com a escancarada rota do tráfico de drogas. Em Subirusdoiztiozin, ele subverte as normas gramaticais e cria linguajar próprio que remete ao idioma particular dos sambas de Adoniran Barbosa (1911 - 1982), como se o Poeta do Bixiga estivesse imerso no cotidiano violento da Zona Leste de São Paulo (SP), lugar onde "filho chora e mãe não vê", como diz  verso da letra. Belíssima balada de alma soul, adornada com cordas, Não Existe Amor em SP destila fina poesia ao retratar a automação dos relacionamentos sociais e afetivos na maior metrópole do Brasil. Com título que alude ao bairro (Grajaú) da periferia paulista onde vive o artista, Grajauex é a faixa que mais se aproxima do que se espera de um disco de hip hop, tanto na letra como na batida do rap. Apesar do nome, Samba Sambei mergulha na praia jamaicana do reggae e do dub. Samba mesmo é Linha de Frente, de cuja letra saiu o título Nó na Orelha. A letra versa sobre personagens da Turma da Mônica sob a ótica de quem sempre teve que driblar a violência cotidiana da periferia. "Cascão é rei do morro e a chapa esquenta fácil", canta Criolo, fazendo jus aos elogios unânimes colhidos por esse disco tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante do universo do rap. Álbum é capaz de dar nó na cabeça de quem nivela o rap brasileiro por baixo.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em seu segundo álbum, Nó na Orelha, Kleber Cavalcante Gomes, vulgo Criolo, vai (muito) além do horizonte rítmico do rap produzido nos guetos periféricos de São Paulo (SP), dos quais o artista emergiu no mercado fonográfico em 2006 com o lançamento de seu primeiro álbum, Ainda Há Tempo. Se este foi urdido nos moldes mais tradicionais do hip hop, numa época em que o rapper ainda se apresentava com o nome de Criolo Doido, Nó na Orelha extrapola rótulos e clichês a ponto de incluir abolerada canção brega, Freguês da Meia Noite, entre os temas autorais do repertório formatado com inventividade por Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman (do coletivo Instituto). Nó na Orelha é um disco de rap mais pela atitude e pela temática afiada das letras do que pelo som em si, embora haja rap entre os afrobeats de Mariô, única música não assinada solitariamente por Criolo, parceiro de Kiko Dinucci no tema. E o fato é que o álbum surpreende a cada faixa. Em Bogotá, metais e batida à moda do Funk Como Le Gusta emolduram letra que expõe a indignação do artista com a escancarada rota do tráfico de drogas. Em Subirusdoiztiozin, ele subverte as normas gramaticais e cria linguajar próprio que remete ao idioma particular dos sambas de Adoniran Barbosa (1911 - 1982), como se o Poeta do Bixiga estivesse imerso no cotidiano violento da Zona Leste de São Paulo (SP), lugar onde "filho chora e mãe não vê", como diz verso da letra. Belíssima balada de alma soul, adornada com cordas, Não Existe Amor em SP destila fina poesia ao retratar a automação dos relacionamentos sociais e afetivos na maior metrópole do Brasil. Com título que alude ao bairro (Grajaú) da periferia paulista onde vive o artista, Grajauex é a faixa que mais se aproxima do que se espera de um disco de hip hop, tanto na letra como na batida do rap. Apesar do nome, Samba Sambei mergulha na praia jamaicana do reggae e do dub. Samba mesmo é Linha de Frente, de cuja letra saiu o título Nó na Orelha. A letra versa sobre personagens da Turma da Mônica sob a ótica de quem sempre teve que driblar a violência cotidiana da periferia. "Cascão é rei do morro e a chapa esquenta fácil", canta Criolo, fazendo jus aos elogios unânimes colhidos por esse disco tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante do universo do rap. Álbum é capaz de dar nó na cabeça de quem nivela o rap brasileiro por baixo.

Luca disse...

Ouvi falar,muito pouco de Criolo (não seria Crioulo?), muito menos ouvi esse disco, pode ser que ele seja realmente bom, só não entendo essa mania que a mídia tem de elegar um nome como a bola da vez, já senti que vai dar Criolo nas listas de melhores de 2011, não importa o que aconteça até o fim do ano, ele vai estar na lista... crítico não pensa sozinho, ele vai na onda. né Mauro?

Anônimo disse...

Se vc for tão esperto quanto se acha, Luca, vai correndo ouvir o disco. Aliás, fazer beicinho para o que a crítica aponta tb é ser pautado por ela.
Portanto, vá ouvindo as coisas e decida por seu próprio nariz, ou melhor, ouvido.

PS: Nunca tinha ouvido falar desse cara até 2/3 meses atrás(pra quem não sabe ele já está na ativa há 20 anos), gratíssima surpresa!
Melhor disco do ano, disparado, até agora. Cinco estrelas!

lurian disse...

Gostei muito do disco, aborda temas contemporâneos das metrópoles, dos subúrbios, das almas vazias, das drogas, sem cair no falso moralismo, muito menos na apologia... a vida cotidiana! É isso ai. Criolo está está também na Bravo desse mês, mostrando que se alfabetizou tardiamente estudando junto com a mãe (que se tornou Filósofa e Pedagoga) e hoje tem um café filosófico no subúrbio carioca. Com histórias dessas, pra lá de interessantes a música brasileira se renova Luca, para muito além da mídia e dos críticos.

Pedro Progresso disse...

nunca tinha ouvido falar. Vi um link no twitter pro video, vi aqui que o disco saiu, baixei no site dele e estou boquiaberto. disco excelente! adorei a surpresa.

Anônimo disse...

O rap brasileiro precisava de novos ares, Criolo é o cara. Ouça agora !