Mauro Ferreira no G1

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domingo, 10 de julho de 2011

Discípulo do soul, Zé Ricardo cai bem no samba no disco 'Vários em Um'

Resenha de CD
Título: Vários em Um
Artista: Zé Ricardo
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Historicamente, cantores e compositores brasileiros ligados ao funk e ao soul norte-americano sempre encontraram dificuldades para manter uma carreira fonográfica regular e coerente com seus princípios artísticos. Uns - como Tim Maia (1942 - 1998) e Sandra de Sá - acabaram direcionados mais cedo ou mais tarde para o brega. Outros mais apegados ao conceito original de sua música - como Hyldon e Cassiano - acabaram batendo de frente com a indústria do disco e foram jogados à margem do mercado fonográfico. Possível exceção dessa regra, Ed Motta encontrou abrigo na indie Trama. Cantor e compositor carioca descendente dessa linhagem soul, Zé Ricardo integrou o grupo Fibra e lançou três álbuns - Zé Ricardo (1998), Tempero (2002) e Zé Ricardo e Convidados ao Vivo (2005) - sem consolidar de fato uma carreira fonográfica. Hoje com 40 anos, o artista apresenta seu quarto álbum, Vários em Um, produzido por Plínio Profeta com bom uso de programações eletrônicas. A novidade é que o repertório autoral cai no samba. Há grooves de funk e soul em temas suingantes como Encanto de Fada (Zé Ricardo e Edu Krieger), Vários em Um (Zé Ricardo e Jorge Salomão) - faixa que tem também algo de samba e do balanço de Lenine - e Arranhar o Céu (Zé Ricardo e Davi Moraes). Contudo, A Filha da Sorte (Zé Ricardo) e A Corda Bamba (Zé Ricardo e Régis Faria) são bons sambas à moda tradicional - prováveis reminiscências da memória afetiva de Zé Ricardo, cujo pai armava rodas de samba e choro. Sim, justiça seja feita, o samba desce bem em Vários em Um. Ouça Chibata (Zé Ricardo e Mauro Ribas) e comprove que Zé não parece um estranho no ninho do samba carioca. E o fato é que Vários em Um é seu melhor e mais coeso disco. Com levada de samba-rock e ecos do som de Seu Jorge, Me Deixa (Zé Ricardo e Gabriel Moura) é hit em potencial se a faixa for trabalhada nas rádios e TVs pela Warner Music. Exato Momento (Zé Ricardo) é outra música com chance de fazer sucesso se entrar na trilha sonora de uma novela. A bela balada aparece no álbum em duas versões. Na primeira, Exato Momento é ouvida somente na voz de seu autor. Na segunda, alocada ao fim do disco, a balada é interpretada por Zé Ricardo em dueto com TIM, vocalista da banda Xutos e Pontapés, ícone do rock português. Aliás, mais duas baladas de bom nível - Um Beijo que Atravessa a Madrugada (Zé Ricardo) e Qualquer Palavra (Zé Ricardo e Dudu Falcão) - encorpam o repertório de Vários em Um. A rigor, a única faixa realmente dispensável é a regravação modernosa de Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos e Anastácia) - até porque este xote lançado por Gilberto Gil em 1973 já vem sendo muito revisitado ao longo dos anos. Enfim, caindo no samba ou nos grooves que evocam o suingue do funk e do soul, Vários em Um deixa ótima impressão, se firmando como o melhor título da pouco ouvida discografia de Zé Ricardo.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Historicamente, cantores e compositores brasileiros ligados ao funk e ao soul norte-americano sempre encontraram dificuldades para manter uma carreira fonográfica regular e coerente com seus princípios artísticos. Uns - como Tim Maia (1942 - 1998) e Sandra de Sá - acabaram direcionados mais cedo ou mais tarde para o brega. Outros mais apegados ao conceito original de sua música - como Hyldon e Cassiano - acabaram batendo de frente com a indústria do disco e foram jogados à margem do mercado fonográfico. Possível exceção dessa regra, Ed Motta encontrou abrigo na indie Trama. Cantor e compositor carioca descendente dessa linhagem soul, Zé Ricardo integrou o grupo Fibra e lançou três álbuns - Zé Ricardo (1998), Tempero (2002) e Zé Ricardo e Convidados ao Vivo (2005) - sem consolidar de fato uma carreira fonográfica. Hoje com 40 anos, o artista apresenta seu quarto álbum, Vários em Um, produzido por Plínio Profeta com bom uso de programações eletrônicas. A novidade é que o repertório autoral cai no samba. Há grooves de funk e soul em temas suingantes como Encanto de Fada (Zé Ricardo e Edu Krieger), Vários em Um (Zé Ricardo e Jorge Salomão) - faixa que tem também algo de samba e do balanço de Lenine - e Arranhar o Céu (Zé Ricardo e Davi Moraes). Contudo, A Filha da Sorte (Zé Ricardo) e A Corda Bamba (Zé Ricardo e Régis Faria) são bons sambas à moda tradicional - prováveis reminiscências da memória afetiva de Zé Ricardo, cujo pai armava rodas de samba e choro. Sim, justiça seja feita, o samba desce bem em Vários em Um. Ouça Chibata (Zé Ricardo e Mauro Ribas) e comprove que Zé não parece um estranho no ninho do samba carioca. E o fato é que Vários em Um é seu melhor e mais coeso disco. Com levada de samba-rock e ecos do som de Seu Jorge, Me Deixa (Zé Ricardo e Gabriel Moura) é hit em potencial se a faixa for trabalhada nas rádios e TVs pela Warner Music. Exato Momento (Zé Ricardo) é outra música com chance de fazer sucesso se entrar na trilha sonora de uma novela. A bela balada aparece no álbum em duas versões. Na primeira, Exato Momento é ouvida somente na voz de seu autor. Na segunda, alocada ao fim do disco, a balada é interpretada por Zé Ricardo em dueto com TIM, vocalista da banda Xutos e Pontapés, ícone do rock português. Aliás, mais duas baladas de bom nível - Um Beijo que Atravessa a Madrugada (Zé Ricardo) e Qualquer Palavra (Zé Ricardo e Dudu Falcão) - encorpam o repertório de Vários em Um. A rigor, a única faixa realmente dispensável é a regravação modernosa de Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos e Anastácia) - até porque este xote lançado por Gilberto Gil em 1973 já vem sendo muito revisitado ao longo dos anos. Enfim, caindo no samba ou nos grooves que evocam o suingue do funk e do soul, Vários em Um deixa ótima impressão, se firmando como o melhor título da pouco ouvida discografia de Zé Ricardo.

Luca disse...

O brasileiro não compra disco de soul e de funk, é por isso que esses artistas tem que gravar outros ritmos se quiserem continuar lançando discos, é questão de sobrevivência.