Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Kassin e Continentino sustentam toda leveza de Temporão em guinada pop

Resenha de álbum
Título: De dentro da gaveta da alma da gente
Artista: Fernando Temporão
Gravadora: Edição independente do artistaTratore 
Cotação: * * * 1/2

 Primeiro álbum solo de Fernando Temporão, De dentro da gaveta da alma da gente (2013) rompe com a história pregressa deste cantor e compositor carioca revelado no Sereno da Madrugada, grupo de samba surgido no efervescente cenário musical da Lapa, bairro boêmio do Centro do Rio de Janeiro (RJ). Com o Sereno da Madrugada, Temporão lançou um disco, Modificado (Biscoito Fino, 2010), antes de sair do grupo e firmar parceria com João Callado. Com o parceiro, Temporão gravou e assinou álbum, Primeira nota (Biscoito Fino, 2012), que uniu samba e poesia ao harmonizar as melodias de Callado com as letras de Temporão. Distante do mundo do samba, De dentro da gaveta da alma da gente marca a guinada do artista rumo ao universo pop em movimento indie conduzido habilmente por Kassin e Alberto Continentino, produtores do álbum. Piloto e copiloto do disco sustentam a leveza pop de Temporão com a excelência da produção. É notável a riqueza de timbres do álbum, gravado no Rio entre 10 de junho e 3 de julho de 2013 com alguns dos melhores músicos da cena pop contemporânea carioca. Os espaciais sons tecnopop tirados de sintetizadores pelo tecladista Donatinho em Melancholica (Fernando Temporão e Mauro Aguiar) são exemplos da valorização da produção autoral de Temporão pela sonoridade arquitetada pelos produtores. Dá para identificar certa influência do molde moderno da música pop de Marcelo Jeneci em faixas como Sem cair do céu (Fernando Temporão e Domenico Lancellotti), um dos destaques do repertório autoral. O elo com Marcelo Jeneci talvez seja reforçado pelo arranjo orquestral do maestro carioca Arthur Verocai (nome fundamental no primeiro disco do artista paulista), também escalado para reger as cordas da melodiosa balada O que é bonito (Fernando Temporão) e da música-título De dentro da gaveta da alma da gente (Fernando Temporão). Justiça seja feita: Temporão se revela compositor feliz na criação de melodias que se harmonizam com letras de romantismo suave. Também destaques da safra autoral, Bambolê (Fernando Temporão) e Dois pra lá (Fernando Temporão) evidenciam com suingue a atmosfera solar que rege o CD. Com melodia feita por Temporão em ritmo de samba, a partir de poesia postada pelo parceiro Mauro Aguiar em rede social, a abolerada Renata tem exposta a origem rítmica, fazendo breve link com o passado musical de Temporão. Já Fuga azul (Fernando Temporão) esboça rota de viagem aos sons dos anos 1970 sem colorido especial. Instrumentos recorrentes nos arranjos, os metais magistralmente arranjados por Marlon Sette para Corda bamba (Fernando Temporão) - composição que insinua levada roqueira - reforçam a sensação de que por vezes a sonoridade do disco é mais interessante do que as músicas em si. Contudo, no fim, Lua e maré (Fernando Temporão) - faixa conduzida pelas guitarras de Guilherme Monteiro e Kassin em clima roqueiro - devolve ao ouvinte a certeza de que Temporão obteve êxito na ousada guinada para o pop. Se o lirismo do CD Primeira nota fez com que o artista parecesse egresso de tempo já ido, De dentro da gaveta da alma da gente o mantém num tempo de delicadeza, mas sintoniza Temporão com a cena contemporânea carioca, delineando a identidade autoral do compositor entre ecos de Jeneci. Sem perder a ternura, Fernando Temporão aparece com CD apaixonado, feliz, que dá a impressão de ter sido natural a migração do samba para o pop.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Primeiro disco solo de Fernando Temporão, De dentro da gaveta da alma da gente (2013) rompe com a história pregressa deste cantor e compositor carioca revelado no Sereno da Madrugada, grupo de samba, surgido no efervescente cenário musical da Lapa, bairro boêmio do Centro do Rio de Janeiro (RJ). Com o Sereno da Madrugada, Temporão lançou um disco, Modificado (Biscoito Fino, 2010), antes de sair do grupo e firmar parceria com João Callado. Com o parceiro, Temporão gravou e assinou álbum, Primeira nota (Biscoito Fino, 2012), que uniu samba e poesia ao harmonizar as melodias de Callado com as letras de Temporão. Distante do mundo do samba, De dentro da gaveta da alma da gente marca a guinada do artista rumo ao universo pop em movimento indie conduzido habilmente por Kassin e Alberto Continentino, produtores do álbum. Piloto e copiloto do disco sustentam a leveza pop de Temporão com a excelência da produção. É notável a riqueza de timbres do álbum, gravado no Rio entre 10 de junho e 3 de julho de 2013 com alguns dos melhores músicos da cena pop contemporânea carioca. Os espaciais sons tecnopop tirados de sintetizadores pelo tecladista Donatinho em Melancholica (Fernando Temporão e Mauro Aguiar) são exemplos da valorização da produção autoral de Temporão pela sonoridade arquitetada pelos produtores. Dá para identificar certa influência do molde moderno da música pop de Marcelo Jeneci em faixas como Sem cair do céu (Fernando Temporão e Domenico Lancellotti), um dos destaques do repertório autoral. O elo com Jeneci talvez seja reforçado pelo arranjo orquestral do maestro carioca Arthur Verocai (nome fundamental no primeiro disco do artista paulista), também escalado para reger as cordas da melodiosa balada O que é bonito (Fernando Temporão) e da música-título De dentro da gaveta da alma da gente (Fernando Temporão). Justiça seja feita: Temporão se revela compositor feliz na criação de melodias que se harmonizam com letras de romantismo suave. Também destaques da safra autoral, Bambolê (Fernando Temporão) e Dois pra lá (Fernando Temporão) evidenciam com suingue a atmosfera solar que rege o CD. Com melodia feita por Temporão em ritmo de samba, a partir de poesia postada pelo parceiro Mauro Aguiar em rede social, a abolerada Renata tem exposta sua origem rítmica, fazendo breve link com o passado musical de Temporão. Já Fuga azul (Fernando Temporão) esboça rota de viagem aos sons dos anos 1970 sem colorido especial. Instrumentos recorrentes nos arranjos, os metais magistralmente arranjados por Marlon Sette para Corda bamba (Fernando Temporão) - composição que insinua levada roqueira - reforçam a sensação de que por vezes a sonoridade do disco é mais interessante do que as músicas em si. Contudo, no fim, Lua e maré (Fernando Temporão) - faixa conduzida pelas guitarras de Guilherme Monteiro e Kassin em clima roqueiro - devolve ao ouvinte a certeza de que Temporão obteve êxito em sua guinada para o pop. Se o lirismo do CD Primeira nota fez com que o artista parecesse egresso de tempo já ido, De dentro da gaveta da alma da gente o mantém num tempo de delicadeza, mas sintoniza Temporão com a cena contemporânea carioca, delineando a identidade autoral do compositor entre ecos de Jeneci. Sem perder a ternura, Fernando Temporão aparece com CD apaixonado, feliz, que dá a impressão de ter sido natural a migração do samba para o pop.

Bruno Cavalcanti disse...

Boa dica, Mauro.

Eu estava mesmo a procura de um bom disco de alguém "novo".

Valeu o toque, Mauro.

Douglas Carvalho disse...

Tenho o Cd do Temporão com o João callado, e ele é um cantor extremamente agradável.