Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Do inferno ao céu, MDNA mostra que os sinos ainda dobram por Madonna

Resenha de show
Título: MDNA
Artista: Madonna (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Parque dos Atletas (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 2 de dezembro de 2012
Cotação: * * * * *
Agenda da MDNA Tour no Brasil:
4 e 5 de dezembro de 2012 - Estádio Morumbi (São Paulo, SP)
9 de dezembro de 2012 - Estádio Olímpico (Porto Alegre, RS)

O badalar dos sinos na introdução do show da MDNA Tour - ora de passagem pelo Brasil neste mês de dezembro de 2012, já na reta final de rota mundial iniciada em maio - é a senha para que um trio francês de música basca entre em cena e entoe cânticos religiosos na abertura do espetáculo de Madonna inspirado no 12º álbum de estúdio da popstar, MDNA (2012). Duas horas depois, quando a festiva Celebration encerra a ópera pop em que Madonna vai do  inferno ao céu, não há dúvidas de que os sinos ainda dobram pela proclamada Rainha do Pop - e de que o público fiel se dobra perante sua popstora, hábil na pregação de sua religião pop. Analisado em perspectiva, dentro de contexto que inclui oito anteriores turnês mundiais de Madonna, o show da MDNA Tour se impõe como um dos mais ambiciosos e bem-realizados da artista norte-americana. Longe da atmosfera burlesca que ambientou The Girlie Show (primoroso espetáculo visto pelos brasileiros em 1993) e da diversidade colorida do show da Sticky & Sweet Tour (apresentado no Brasil em dezembro de 2008), o show da MDNA Tour resulta mais denso ao revolver questões centradas na religião e no sexo, pilares da obra controversa de Madonna. O show soa até mesmo sombrio no bloco inicial, quando Madonna pega em armas e, evocando filmes do cineasta norte-americano Quentin Tarantino, vai literalmente à luta ao som de Girl Gone Wild, Revolver e Gang Bang. É quando o revólver vira símbolo fálico, indício de poder. A rigor, o jogo de cena - armado em cenário imponente com o auxílio de bailarinos e trocas de figurinos - já parece ter sido jogado por todos, artista e público, mas ainda fascina. Na luta entre o céu e o inferno, a orgulhosa pecadora dialoga com seu Deus em Papa Don't Preach, adensa Hung Up ao tirar este hit da pista da disco music, estapeia com luva de pelica a rival Lady Gaga (entremeando Express Yourself com trechos de Born This Way em número que culmina com citação de She's Not Me para demarcar um território que, afinal, nunca deixou de ser de Madonna) e se assume periguete ao fim de Candy Shop (número encorpado com trechos de Erotika). Musicalmente, o baticum eletrônico - tom de números como o tecno I'm Addicted - sustenta o pop de Madonna sem grandes inventividades e pontua o show até nos interlúdios como o feito ao som de Best Friend. Alguns números acústicos, como a balada Masterpiece, parecem estar alocados no roteiro para lembrar que toda a mise-en-scène se origina, afinal, da música. Apresentada após Turning Up The Hits, número que gira o dial das emissoras de rádio para sintonizar trechos pré-gravados de sucessos de Madonna nos anos 80, Turn Up The Radio lembra que essa música é, em essência, pop simples, feito para massas e pistas. Mas com elegância à moda de Vogue, reiterada em cena em momento chique do espetáculo. Sem perder a pose, a eterna material girl comercializa até o sexo numa Like a Virgin desossada, estrategicamente posicionada entre Human Nature e Love Spent. Perto do fim, o último interlúdio exibe o polêmico vídeo de Nobody Knows me e I'm a Sinner - cantada por Madonna em cima de um ônibus, com belas imagens, em número que culmina com mantras indianos - prepara o clima para a redenção dos fiéis na apoteótica Like a Prayer. Sim, com sua fervorosa oração pop, feita com o auxílio de playback e de projeções expostas em telões de altíssima definição, Madonna ainda converte fiéis aos 54 anos de idade e 30 de carreira. Impossível não rezar por sua cartilha pop ao longo das duas horas do show da MDNA Tour. É por Madonna que sinos e público ainda (se) dobram.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O badalar dos sinos na introdução do show da MDNA Tour - ora de passagem pelo Brasil neste mês de dezembro de 2012, já na reta final de rota mundial iniciada em maio - é a senha para que um trio francês de música basca entre em cena e entoe cânticos religiosos na abertura do espetáculo de Madonna inspirado no 12º álbum de estúdio da popstar, MDNA (2012). Duas horas depois, quando a festiva Celebration encerra a ópera pop em que Madonna vai do inferno ao céu, não há dúvidas de que os sinos ainda dobram pela proclamada Rainha do Pop - e de que o público fiel se dobra perante sua popstora, hábil na pregação de sua religião pop. Analisado em perspectiva, dentro de contexto que inclui oito anteriores turnês mundiais de Madonna, o show da MDNA Tour se impõe como um dos mais ambiciosos e bem-realizados da artista norte-americana. Longe da atmosfera burlesca que ambientou The Girlie Show (primoroso espetáculo visto pelos brasileiros em 1993) e da diversidade colorida do show da Sticky & Sweet Tour (apresentado no Brasil em dezembro de 2008), o show da MDNA Tour resulta mais denso ao revolver questões centradas na religião e no sexo, pilares da obra controversa de Madonna. O show soa até mesmo sombrio no bloco inicial, quando Madonna pega em armas e, evocando filmes do cineasta norte-americano Quentin Tarantino, vai literalmente à luta ao som de Girl Gone Wild, Revolver e Gang Bang. É quando o revólver vira símbolo fálico, indício de poder. A rigor, o jogo de cena - armado em cenário imponente com o auxílio de bailarinos e trocas de figurinos - já parece ter sido jogado por todos, artista e público, mas ainda fascina. Na luta entre o céu e o inferno, a orgulhosa pecadora dialoga com seu Deus em Papa Don't Preach, adensa Hung Up ao tirar este hit da pista da disco music, estapeia com luva de pelica a rival Lady Gaga (entremeando Express Yourself com trechos de Born This Way em número que culmina com citação de She's Not Me para demarcar um território que, afinal, nunca deixou de ser de Madonna) e se assume periguete ao fim de Candy Shop (número encorpado com trechos de Erotika). Musicalmente, o baticum eletrônico - tom de números como o tecno I'm Addicted - sustenta o pop de Madonna sem grandes inventividades e pontua o show até nos interlúdios como o feito ao som de Best Friend. Alguns números acústicos, como a balada Masterpiece, parecem estar alocados no roteiro para lembrar que toda a mise-en-scène se origina, afinal, da música. Apresentada após Turning Up The Hits, número que gira o dial das emissoras de rádio para sintonizar trechos pré-gravados de sucessos de Madonna nos anos 80, Turn Up The Radio lembra que essa música é, em essência, pop simples, feito para massas e pistas. Mas com elegância à moda de Vogue, reiterada em cena em momento chique do espetáculo. Sem perder a pose, a eterna material girl comercializa até o sexo numa Like a Virgin desossada, estrategicamente posicionada entre Human Nature e Love Spent. Perto do fim, o último interlúdio exibe o polêmico vídeo de Nobody Knows me e I'm a Sinner - cantada por Madonna em cima de um ônibus, com belas imagens, em número que culmina com mantras indianos - prepara o clima para a redenção dos fiéis na apoteótica Like a Prayer. Sim, com sua fervorosa oração pop, Madonna ainda converte fiéis aos 54 anos de idade e 30 de carreira. Impossível não rezar por sua cartilha pop ao longo das duas horas do show da MDNA Tour. É por Madonna que sinos e público ainda (se) dobram.

Maria disse...

Gostava da Madonna no passado,fez coisas interessantes até os anos 90depois disso seus discos ficaram descartáveis.
Porém, diante de Lady Gaga, Kesha, Rihanna e afins ela ainda reina.

Rafael disse...

Hummmm, 5 estrelas para o show da Madonna? Não seria um tanto quanto exagerado? Sinceramente não acho que este show seja lá essas coisas não.

Vitor disse...

Madonna já não reina faz tempo, mas a falta de bom senso do crítico parece reinar ao babar por sua ídola de adolescência. 5 estrelas é uma piada, sem contar que em nenhum momento comentou o encalhe dos ingressos, como fez questão de ressaltar no show da rival recentemente. Tem que ter paciência pra ler certas coisas por aqui

Daniel disse...

q exagero 5 estrelas, ainda mais para um show pautado num album mediano.

Vladimir disse...

Mauro, não disseste que o show atrasou 3 horas!!!

Mesmo sendo Madonna ou qualquer ídolo que seja, é um atraso imperdoável. Se o show que foi mesmo tudo isso que comentaste, seria indigno de receber cinco estrelas.

Espero que o atraso não se repita no Rio e aqui em Porto Alegre, porque aí vai parecer provocação.

Mauro Ferreira disse...

Vladimir, tenho por norma não contabilizar atrasos ou qualquer outro fator externo ao avaliar um show. Atrasou, sim, mas foi duas horas (o show estava marcado para as 20h, mas se sabia desde o início que haveria às 20h era a abertura com DJs). Foi desagradável, foi, mas - repito - avalio somente o que aconteceu no palco. Achei o show fantástico, ambicioso, ele não vive do passado de Madonna. Sei que nem todos gostaram. Mas viva a diversidade de opiniões! E, caro Daniel, todo mundo sabe que a música nunca foi a estrela principal de um show de Madonna. Abs, mauroF

Pedro Progresso disse...

Madonna é gênia de palco. Entre todos os fatores de sua carreira que andam descambando, turnê é seu porto seguro.

Lady Gaga encalhou a ponto de levar 30 mil pessoas (dizem que foi menos) qdo foram disponibilizados 85 mil ingressos. Madonna levou 70 mil pessoas. Não é sold out mas é quase. A média ficou boa.

Luca disse...

Mauro tem suas protegidas, não adianta, é Madonna, Marisa, Roberta, ele sempre fala bem delas

Unknown disse...

É que as três que você citou são quase sempre muito boas em realizar o que propõem, Luca. Gente, criticar o crítico vale, mas com racionalidade. Abçs.

Fernando Lima disse...

O show foi muito mais do que o que Mauro observou. Impressionante e radical são adjetivos que nem longe espelham o espetáculo novo de Madonna.
Primeiro, foi o show mais teatal e técnico já apresentado por ela.
Segundo, apesar de 30 anos de carreira e de vários hits, ela não se pauta neles para elaborar o roteiro; apesar das músicas fracas do novo album, ela soube apresentá-las no palco sem cansar o público.
Terceiro, a escolha dos vídeos e surpresas dos cenários beira a excelência. Em suma, o show foi ousado e radical, e trouxe uma Madonna incansável e sem fazer concessões ao público; parecia show feito para a própria se deleitar e o público assistir embasbacado. Pra mim, nota 10!
Agora, o que é realmente surpreendente é o fato dos amigos aqui do blog perderem tempo a criticar o que não conhecem.

Unknown disse...

Dizer que é o show mais teatral da Madonna significa desmerecer - ou desconhecer - completamente o Girlie Show, de 1993, de ambiência cênica primorosa, como disse o Mauro, e com quase zero de aparato tecnológico. Essa tour atual soa como deja vu.