Mauro Ferreira no G1

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sábado, 21 de janeiro de 2012

Feliz, Lulu arromba festa do iê-iê-iê ao filtrar Roberto & Erasmo pelo r & b

Resenha de show
Evento: Circuito Cultural Banco do Brasil
Título: Lulu Santos Interpreta Roberto Carlos & Erasmo Carlos
Artista: Lulu Santos (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Guararapes (Olinda, PE)
Data: 20 de janeiro de 2012
Cotação: * * * * 1/2

Sem cerimônia, Lulu Santos arrombou a festa do iê-iê-iê romântico da Jovem Guarda. O show em que o cantor e compositor incursiona pela obra de Roberto Carlos & Erasmo Carlos - com ênfase no repertório composto e / ou gravado pela dupla ao longo dos anos 60 - é interessante porque apresenta o cancioneiro dos parceiros e amigos de fé por outro viés. Lulu passa essa seminal obra do pop rock brasileiro pelo filtro do blues e do rhythm and blues. É nessa levada - moldada sobretudo pelo toque dos teclados pilotados por Pedro Augusto e pelos acordes da guitarra pilotada pelo próprio Lulu - que o artista formata temas como Minha Fama de Mau (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), Quando (Roberto Carlos, 1967) e o funk Não Vou Ficar (Tim Maia, 1969), lançado pelo Rei. Nada soa óbvio ao longo do roteiro que totaliza 17 músicas e que - na quinta e última apresentação do show idealizado para o Circuito Cultural, projeto itinerante do Banco do Brasil - teve como deslize apenas a inclusão da deslocada Tempos Modernos (Lulu Santos, 1982) no bis. Logo após percorrer As Curvas da Estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) em velocidade distante do acento soul do registro original de Roberto, Lulu põe certa latinidade na Festa de Arromba (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965). Ficou bastante evidente o prazer do artista por estar em cena abordando "canções sobre carros, estradas e corações partidos" - como conceituou o repertório logo no início do show - com salutares ousadias estilísticas. As entonações que deram tom espirituoso a Vem Quente Que Estou Fervendo (Carlos Imperial e Eduardo Araújo, 1967), por exemplo, foram indícios de que - mais do que ninguém - o artista estava se divertindo em cena ao cantar tais canções para um público que - acomodado nas 2.450 poltronas do Teatro Guararapes - logo entrou no espírito do show. Por ajudar a fazer a festa de arromba de Lulu, esse público mereceu em cena saudação aparentemente sincera do artista e não se fez de rogado, fazendo coro espontâneo com o cantor em todos os versos de Como É Grande o Meu Amor por Você (Roberto Carlos, 1967). "Essa era para vocês", disse, galante, ao fim da canção. Um número antes, esse público participativo tinha aplaudido com justo entusiasmo o brilhante solo vocal do baixista Jorge Ailton em Você Não Serve pra Mim (Renato Barros, 1967). Ailton alternou timbres femininos (em primoroso falsete) e masculinos, simulando dueto. Escorado em entrosada banda, que inclui o baterista Chocolate e o tecladista Hiroshi Mizutani, o cantor jogou Eu te Darei o Céu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966) na praia do reggae. No fim, releitura quase cool do fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) arrematou show surpreendente e arrojado. Ao abordar a obra de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, Lulu extrapolou com pegada a simplicidade do iê-iê-iê romântico. Talvez por ter ciência de que as gravações originais da dupla são imbatíveis, o cantor seguiu um outro feliz caminho.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sem cerimônia, Lulu Santos arrombou a festa do iê-iê-iê romântico da Jovem Guarda. O show em que o cantor e compositor incursiona pela obra de Roberto Carlos & Erasmo Carlos - com ênfase no repertório composto e / ou gravado pela dupla ao longo dos anos 60 - é interessante porque apresenta o cancioneiro dos parceiros e amigos de fé por outro viés. Lulu passa essa seminal obra do pop rock brasileiro pelo filtro do blues e do rhythm and blues. É nessa levada - moldada sobretudo pelo toque dos teclados pilotados por Pedro Augusto e pelos acordes da guitarra pilotada pelo próprio Lulu - que o artista formata temas como Minha Fama de Mau (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), Quando (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1967) e o funk Não Vou Ficar (Tim Maia, 1969). Nada soa óbvio ao longo do roteiro que totaliza 17 músicas e que - na quinta e última apresentação do show idealizado para o Circuito Cultural, projeto itinerante do Banco do Brasil - teve como deslize apenas a inclusão da deslocada Tempos Modernos (Lulu Santos, 1982) no bis. Logo após percorrer As Curvas da Estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) em velocidade distante do acento soul do registro original de Roberto, Lulu põe certa latinidade na Festa de Arromba (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965). Ficou bastante evidente o prazer do artista por estar em cena abordando "canções sobre carros, estradas e corações partidos" - como conceituou o repertório logo no início do show - com salutares ousadias estilísticas. As entonações que deram tom espirituoso a Vem Quente Que Estou Fervendo (Carlos Imperial e Eduardo Araújo, 1967), por exemplo, foram indícios de que - mais do que ninguém - o artista estava se divertindo em cena ao cantar tais canções para um público que - acomodado nas 2.450 poltronas do Teatro Guararapes - logo entrou no espírito do show. Por ajudar a fazer a festa de arromba de Lulu, esse público mereceu em cena saudação aparentemente sincera do artista e não se fez de rogado, fazendo coro espontâneo com o cantor em todos os versos de Como É Grande o Meu Amor por Você (Roberto Carlos, 1967). "Essa era para vocês", disse, galante, ao fim da canção. Um número antes, esse público participativo tinha aplaudido com justo entusiasmo o brilhante solo vocal do baixista Jorge Ailton em Você Não Serve pra Mim (Renato Barros, 1967). Ailton alternou timbres femininos (em primoroso falsete) e masculinos, simulando dueto. Escorado em entrosada banda, que inclui o baterista Chocolate e o tecladista Hiroshi Mizutani, o cantor jogou Eu te Darei o Céu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966) na praia do reggae. No fim, releitura quase cool do fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) arrematou show surpreendente e arrojado. Ao abordar a obra de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, Lulu extrapolou com pegada a simplicidade do iê-iê-iê romântico. Talvez por ter ciência de que as gravações originais da dupla são imbatíveis, o cantor seguiu um outro feliz caminho.

KL disse...

mais uma prova de que, com um punhado de boas canções e uma ideia na cabeça, se faz um showz. Não vi, mas dá para imaginar o resultado só pelo fato de ter=se optado por uma concepção e escolha de repertório inusitadas. Ótima ideia também para um registro em DVD.

Eduardo disse...

Lulu poderia ter segurado o ego e evitado a escorregada de TEMPOS MODERNOS no bis.

Rafael disse...

Tomara que saia em CD e DVD!!! Será que há alguma previsão para isso? Seria interessante ouvi Lulu cantando RC e saindo do seu repertório mais do que batido de hits!!!

Que esse projeto saia em e CD e DVD!!!! Já!!!!