Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Loffler reanima no Rio o espírito do bom rock'n'roll em show teatralizado

Resenha de musical
Título: Isto Aqui É Rock'n'Roll - A Little Rock Concert
Direção: Aloísio de Abreu
Direção musical: Andrea Zeni
Elenco: Carlos Loffler (como C.Q. Lee) e banda
Local: Teatro do Leblon - Sala Fernanda Montenegro (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de janeiro de 2012
Cotação: * * *
Em cartaz às terças-feiras e quartas-feiras no Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro (RJ)

Embora anunciado na mídia como um musical de bolso, Isto Aqui É Rock'n'Roll é, a rigor, show esboçado com certa teatralidade pelo diretor Aloisio de Abreu. Sem estrutura dramatúrgica que o caracterize como musical, o espetáculo funciona porque, na pele de C. Q. Lee, o ator Carlos Loffler reanima o espírito do bom e velho rock'n'roll. Os breves textos - que contextualizam a vida do roqueiro C. Q. Lee ao noticiar sua morte por overdose - são meros ganchos para os números musicais. Escorado em banda afiadíssima, que dá à encenação o peso de um show de rock, Loffler transita por sucessos de Rolling Stones (Satisfaction, bisado de improviso na estreia com a participação de Serguei, lendário roqueiro que parece ser a encarnação de C. Q. Lee) e Ramones (I Wanna Be Sedated, em versão em português de Rita Lee), entre outros nomes. O roteiro prioriza rocks gravados por cantores e grupos brasileiros. E estes estão em pé de igualdade no show com as lendas estrangeiras. A obra imortal de Cazuza (1958 - 1990), por exemplo, rende dois grandes momentos. Em um deles, Blues da Piedade (Frejat e Cazuza, 1988), os vocais da backing Kelly Ana põem a plateia em espécie de transe. No outro, Down em Mim (Frejat e Cazuza, 1982), o guitarrista Lula Washington faz solo demolidor, memorável. Mesmo sem exibir rigor técnico, Loffler convence como vocalista da banda por encarnar no palco o espírito de um verdadeiro roqueiro - com energia, visual e trejeitos que evocam a figura de Iggy Pop. Bem urdido, o roteiro cresce quando celebra o rock sem passar necessariamente pelo óbvio. A lembrança de Raul Seixas (1945 - 1989), por exemplo,é mais sedutora quando feita ao som de Não Quero Mais Andar na Contramão (versão de Raulzito em 1988 para No No Song, de Axton e Jackson) do que quando Loffler evoca a batida Metamorfose Ambulante (Raul Seixas, 1973). É ótima também a sacação de celebrar a loucura de Rita Lee com Ôrra Meu (Rita Lee, 1980), endiabrado rock da fase mais pop da desgarrada ovelha mutante. A participação da backing vocal Kelly Ana valoriza a cena porque Ane evoca na voz a alma do blues e do soul. Sua interpretação de Mercedez Benz (Janis Joplin, Michael McClure e Bob Neuwirth, 1970) - evocação de Janis Joplin (1943 - 1970) - é um dos destaques do show. É um solo que termina em dueto com Loffler. Que tira sarro de Humberto Gessinger ao cantar o rock Toda Forma de Poder (Humberto Gessinger, 1986), primeiro grande sucesso da subestimada banda gaúcha Engenheiros do Hawaii. Já os Titãs são lembrados com Igreja (Nando Reis, 1986), música que simboliza era de contestação, tempos em que o rock nacional tinha o que dizer ao Brasil antes de se deixar enquadrar na estética plastificada da MTV. Em Isto Aqui É Rock'n'Roll, Loffler dá voz a temas que honram a nação roqueira. É somente rock'n'roll, mas com o espírito de subversão que inexiste na atual geração.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Embora anunciado na mídia como um musical de bolso, Isto Aqui É Rock'n'Roll é, a rigor, show esboçado com certa teatralidade pelo diretor Aloisio de Abreu. Sem estrutura dramatúrgica que o caracterize como musical, o espetáculo funciona porque, na pele de C. Q. Lee, o ator Carlos Loffler reanima o espírito do bom e velho rock'n'roll. Os breves textos - que contextualizam a vida do roqueiro C. Q. Lee ao noticiar sua morte por overdose - é mero gancho para os números musicais. Escorado em banda afiadíssima, que dá à encenação o peso de um show de rock, Loffler transita por sucessos de Rolling Stones (Satisfaction, bisado de improviso na estreia com a participação de Serguei, lendário roqueiro que parece ser a encarnação de C. Q. Lee) e Ramones (I Wanna Be Sedated, em versão em português de Rita Lee), entre outros nomes. O roteiro prioriza rocks gravados por cantores e grupos brasileiros. E estes estão em pé de igualdade no show com as lendas estrangeiras. A obra imortal de Cazuza (1958 - 1990), por exemplo, rende dois grandes momentos. Em um deles, Blues da Piedade (Frejat e Cazuza, 1988), os vocais da backing Kalli Ane põem a plateia em espécie de transe. No outro, Down em Mim (Frejat e Cazuza, 1982), o guitarrista Lula Washington faz solo demolidor, memorável. Mesmo sem exibir rigor técnico, Loffler convence como vocalista da banda por encarnar no palco o espírito de um verdadeiro roqueiro - com energia, visual e trejeitos que evocam a figura de Iggy Pop. Bem urdido, o roteiro cresce quando celebra o rock sem passar necessariamente pelo óbvio. A lembrança de Raul Seixas (1945 - 1989), por exemplo,é mais sedutora quando feita ao som de Não Quero Mais Andar na Contramão (versão de Raulzito em 1988 para No No Song, de Axton e Jackson) do que quando Loffler evoca a batida Metamorfose Ambulante (Raul Seixas, 1973). É ótima também a sacação de celebrar a loucura de Rita Lee com Ôrra Meu (Rita Lee, 1980), endiabrado rock da fase mais pop da desgarrada ovelha mutante. A participação da backing vocal Kalli Ane valoriza a cena porque Ane evoca na voz a alma do blues e do soul. Sua interpretação de Mercedez Benz (Janis Joplin, Michael McClure e Bob Neuwirth, 1970) - evocação de Janis Joplin (1943 - 1970) - é um dos destaques do show. É um solo que termina em dueto com Loffler. Que tira sarro de Humberto Gessinger ao cantar o rock Toda Forma de Poder (Humberto Gessinger, 1986), primeiro grande sucesso da subestimada banda gaúcha Engenheiros do Hawaii. Já os Titãs são lembrados com Igreja (Nando Reis, 1986), música que simboliza era de contestação, tempos em que o rock nacional tinha o que dizer ao Brasil antes de se deixar enquadrar na estética plastificada da MTV. Em Isto Aqui É Rock'n'Roll, Loffler dá voz a temas que honram a nação roqueira. É apenas rock'n'roll, mas com o espírito de subversão que inexiste na atual geração.