Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sandy encara Michael em cena com charme, oscilações e arranjos elegantes

Resenha de show
Evento: Circuito Cultural Banco do Brasil
Título: Sandy Interpreta Michael Jackson
Artista: Sandy (em foto de NPL / Divulgação)
Local: Teatro Guararapes (Olinda, PE)
Data: 18 de janeiro de 2012
Cotação: * * *

 O anúncio de que Sandy abordaria o repertório de Michael Jackson (1958 - 2009) em um espetáculo inédito idealizado para o Circuito cultural, projeto itinerante do Banco do Brasil, gerou incredulidade e deboche nos bastidores musicais. Quando o show estreou em novembro de 2011, em Curitiba (PR), tal incredulidade virou desconfiança quando a apresentação de Sandy recebeu mais elogios dos críticos do que os shows de Maria Bethânia (dedicado ao cancioneiro de Chico Buarque) e Lulu Santos (centrado na obra de Roberto Carlos & Erasmo Carlos). Será que Sandy tinha acertado mesmo o tom ao cantar os sucessos do Rei do Pop? Sim, Sandy acertou - a julgar pela quinta e última apresentação do espetáculo idealizado sob a direção de Monique Gardenberg, feita na noite de 18 de janeiro de 2012 no Teatro Guararapes, em Olinda (PE), ponto final do atual Circuito cultural. A rigor, o show tem oscilações, mas Sandy encara os sucessos de Jackson com charme, com a voz afinada que Deus lhe deu e com arranjos elegantes, a cargo de Lucas Lima. O charme já é perceptível na mise-en-scène que abre o show, quando Sandy revive Bad (1987) com chapéu, luva prateada na mão direita e gestuais que evocam a figura de Michael sem cair na imitação. A voz concilia técnica e emoção em Gone too soon (1991) - música que encerra o show como um lamento pela precoce saída de cena do astro - e se entrosa com o violonista da banda em I'll be there (1970) em dueto que remete à gravação original do grupo Jackson 5. Embora geralmente reverentes aos arranjos dos discos de Michael, os arranjos de Lucas Lima permitem algumas liberdades estéticas como o solo de piano em Ben (1972) e o clima folk esboçado em Music and me (1973), destaques do set de baladas aberto com menor apelo em Human nature (1982). Nos números dançantes, o show oscila. Falta a Sandy suingue para encarar a azeitada mistura de rock, pop e funk que caracteriza a obra de Michael na fase adulta do cantor. Thriller (1982) aterroriza pela falta de jeito para abordar música tão empolgante na gravação original. Rock with you (1979) soa menos aterrorizante, mesmo sem sequer esboçar a pegada da gravação de Michael. Falta balanço black em I want you back (1969) - hit inicial do Jackson 5 - assim como falta vivência emocional para Sandy expor em cena a saga emocional de Billie Jean (1982). Contudo, o fato é que - ao contrário de Seu Jorge, constrangedor ao abordar as músicas do Rei do Pop em show gravado para emissora de TV - a cantora deixa boa impressão no todo ao cantar Michael Jackson. O espetáculo é chique - inclusive no que diz respeito aos elementos cênicos como os globos espelhados que evocam a era da disco music quando Sandy canta Blame It on the boogie (1978), incursão de Jackson pelos embalos noturnos dos anos 1970.  Se parece pouco à vontade quando ensaia alguns passos de dança em números como Smooth criminal (1987), Sandy em contrapartida soa inteiramente verdadeira quando eleva os tons em Leave me alone (1987) - apelo de Michael contra os paparazzis e urubus de plantão - e quando lamenta os abusos ambientais na bela interpretação de Earth song (1995). Aos urubus, aliás, cabe reiterar que, sim, há certo charme, beleza, elegância e boa música no show em que Sandy canta o belo repertório de Michael Jackson no projeto Circuito Cultural. Sobretudo quando Sandy interpreta Michael Jackson sendo... Sandy.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O anúncio de que Sandy abordaria o repertório de Michael Jackson (1958 - 2009) em um espetáculo inédito idealizado para o Circuito Cultural, projeto itinerante do Banco do Brasil, gerou incredulidade e deboche nos bastidores musicais. Quando o show estreou em Novembro de 2011, em Curitiba (PR), tal incredulidade virou desconfiança quando a apresentação de Sandy recebeu mais elogios dos críticos do que os shows de Maria Bethânia (dedicado ao cancioneiro de Chico Buarque) e Lulu Santos (centrado na obra de Roberto Carlos & Erasmo Carlos). Será que Sandy acertou mesmo o tom ao cantar os sucessos do Rei do Pop? Sim, Sandy acertou - a julgar pela quinta e última apresentação do espetáculo idealizado sob a direção de Monique Gardenberg, feita na noite de 18 de janeiro de 2012 no Teatro Guararapes, em Olinda (PE), ponto final do atual Circuito Cultural. A rigor, o show tem oscilações, mas Sandy encara os sucessos de Jackson com charme, com a voz afinada que Deus lhe deu e com arranjos elegantes, a cargo de Lucas Lima. O charme já é perceptível na mise-en-scène que abre o show, quando Sandy revive Bad (1987) com chapéu, luva prateada na mão direita e gestuais que evocam a figura de Michael sem cair na imitação. A voz concilia técnica e emoção em Gone Too Soon (1991) - música que encerra o show como um lamento pela precoce saída de cena do astro - e se entrosa com o violonista da banda em I'll Be There (1970) em dueto que remete à gravação original do grupo Jackson 5. Embora geralmente reverentes aos arranjos dos discos de Michael, os arranjos de Lucas Lima permitem algumas liberdades estéticas como o solo de piano em Ben (1972) e o clima folk esboçado em Music and me (1973), destaques do set de baladas aberto com Human Nature (1982). Nos números dançantes, o show oscila. Falta a Sandy suingue para encarar a azeitada mistura de rock, pop e funk que caracteriza a obra de Michael na fase adulta do cantor. Thriller (1982) aterroriza pela falta de jeito para abordar música tão empolgante na batida original. Rock With You (1979) soa menos aterrorizante, mesmo sem sequer esboçar a pegada da gravação de Michael. Falta balanço black em I Want You Back (1969) - hit inicial do Jackson 5 - assim como falta vivência emocional para Sandy expor em cena a saga emocional de Billie Jean (1982). Contudo, o fato é que - ao contrário de Seu Jorge, constrangedor ao abordar as músicas do Rei do Pop em show gravado para emissora de TV - a cantora deixa boa impressão no todo ao cantar Michael. O espetáculo é chique - inclusive no que diz respeito aos elementos cênicos como os globos espelhados que evocam a era da disco music quando Sandy canta Blame It on the Boogie (1978), incursão de Jackson pelos embalos noturnos dos anos 70. Se parece pouco à vontade quando ensaia alguns passos de dança em números como Smooth Criminal (1987), Sandy em contrapartida soa inteiramente verdadeira quando eleva os tons em Leave me Alone (1987) - apelo de Michael contra os paparazzis e urubus de plantão - e quando lamenta os abusos ambientais na bela interpretação de Earth Song (1995). Aos urubus, aliás, cabe reiterar que, sim, há certo charme, beleza e boa música no show em que Sandy canta Michael no Circuito Cultural. Sobretudo quando Sandy interpreta Michael Jackson como Sandy.

Felipe dos Santos disse...

Então Mauro está no Recife? Pois é. Também estou... a passeio.

Verá o show de Lenine e Lulu Santos no Marco Zero, no sábado?

Felipe dos Santos Souza

Beatriz E da Costa disse...

Parabens pra Sandy! Supreendeu a todos com esse show.

christian disse...

Sandy é merecedora de todo esse reconhecimento. Fui ao show de estréia (em Curitiba - 19/11/11) e realmente tudo é nota 10! A escolha do repertório, figurino, cenário, interpretação, afinação, enfim... Fez de uma escolha inusitada, uma apresentção ímpar, de não se por defeito!

Anônimo disse...

Foi o paulista Felipe que trouxe a chuva e os dias nublados para o ensolarado Recife. Tá explicado. :>)
Mas, cara, esse show aí é no sábado de carnaval! Não nesse.
Férias, bebidinhas...
Entendo.

PS: Falou em Sandy a Beatriz aparece pra defender com unhas e dentes. hehehe

Hilreli Alves disse...

Lamentavelmente eu como fã do Michael e da Sandy perdi essa turnê.. tomara que toda a repercussão positiva, tanto da crítica quanto do público a incentive a esticar o projeto! Quem sabe lançando um DVD posteriormente, ou talvez mais shows em outras cidades. Fica a torcida!!! \o/

Felipe dos Santos disse...

Ih, Zé Henrique, então entendi mal.

Culpa de eu ler apressadamente o Jornal do Commercio.

Só que eu não bebi, não! (risos)

Felipe dos Santos Souza

Daniel disse...

Pelos vídeos a que assisti no youtube achei o show realmente excelente e realmente ela se situa melhor em baladas do que nas músicas dançantes, até mesmo pelo timbre de voz, o estilo Sandy de ser sei lá. Mas mesmo nos números menos cativantes, ela ainda foi tecnicamente impecável e no mínimo esforçada em esboçar emoção e em dar uma renovada na obra do rei. Já Bethania lendo músicas em folhas de papel é realmente lamentável, alguns artistas precisam entender que nao se consegue agradar apenas pelo nome, é preciso ter no mínimo profissionalismo e fazer de forma sincera os projetos aos quais se propoe realizar.

Maria disse...

Dizer que Bethânia só consegue agradar pelo nome chega a ser medíocre! e Sandy, não canta nada.

Anderson Lopes disse...

Bom, se críticos que não poupavam antipatia ao canto de Sandy estão elogiando o show, é sinal de que ela está no caminho. Esse show merece um DVD.

falsobrilhante disse...

Mil vezes a Bethânia lendo as letras em pedaços de papel.

Jael Soares disse...

Sandy, mesmo que à maneira dela e de modo ainda incipiente, sai-se melhor que Maria Bethânia. Esta há muito não se entrega às músicas que canta, há muitíssimo não é intérprete. No máximo, é cantora. Boa cantora. Se quisesse ir além disso, conseguiria comodamente, mas só é cantora.