Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

'Fábula' de Braun encanta mais pela sonoridade do que pelas músicas...

Resenha de CD
Título: Fábula
Artista: Cris Braun
Gravadora: Tratore
Cotação: * * *

Oito anos após Atemporal (Psicotrônica, 2004), Cris Braun volta ao mercado fonográfico com seu terceiro álbum solo, Fábula, gravado na ponte áerea Rio de Janeiro (RJ) - Maceió (AL) ao longo dos três últimos anos. A produção - dividida entre o guitarrista Billy Brandão e o baterista e percussionista Pedro Ivo Euzébio - dá o tom elegante do CD distribuído pela Tratore a partir deste mês de janeiro de 2012. A rigor, o encanto de Fábula reside mais na sonoridade suave e singular urdida pela dupla de produtores do que no canto da artista e, sobretudo, no repertório. O compositor catarinense Wado - radicado na mesma Maceió que atualmente abriga a gaúcha Cris Braun - figura na ficha técnica com duas músicas, Ossos e Cidade Grande, aquém do padrão habitual de qualidade de sua produção autoral. À medida que Fábula avança, a irregularidade do repertório fica tão nítida quanto o refinamento da sonoridade que formata músicas como Tanto Faz Para o Amor (Lucas Santanna e Quito Ribeiro) e Tão Feliz (Cris Braun e Billy Brandão). O disco soa cool e contemporâneo dentro de atmosfera íntima que ganha bissexta pegada roqueira no bom tema instrumental Artérias (Cris Braun), pontuado por guitarras e certa pressão. Dentro de repertório essencialmente inédito, Fábula joga luz sobre Deve Ser Assim, parceria de Alvin L. com Marina Lima, lançada por Marina em seu álbum O Chamado (1993).  Ambos são nomes importantes na trajetória de Braun. Alvin foi colega de Braun no extinto grupo carioca Sex Beatles, que legou dois cultuados álbuns - Automobília (1994) e Mondo passionale (1995) - ao universo pop. Marina bancou por seu fugaz selo Fullgás o disco que inaugurou a carreira solo de Braun, Cuidado Com Pessoas Como Eu (1997). Apesar de Fábula ter narrativa basicamente estruturada no tempo da delicadeza, essa alma roqueira do passado ronda e sustenta de certa forma Viga (Fernando Fiúza e Cris Braun) - faixa em que a disposição dos vocais remete no fim ao canto falado do rap - e Oscilante (Fernando Fiúza), tema cujas percussões(a cargo de Marcelo Vig e Pedro Ivo Euzébio) roçam a cadência bonita do samba. Com poética mais afiada, E o Amor Calou (Cris Braun) se destaca pelos versos concisos e expressivos que citam Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) com senso de realidade que inexiste em Terra do Nunca Mais (Cris Braun), faixa instrumental que parece transitar por sons que levam a algum reino encantado condizente com o imaginário contido no título Fábula. No fim, Memória da Flor (Júnior Almeida e Zé Paulo) - tema gravado por Braun em dueto com Celso Fonseca - reitera a leveza reinante neste disco formatado com sons de lap steel (espécie de guitarra havaiana), percussão, violões e até um piano de brinquedo. São esses sons precisos que reverberam o encanto existente em Fábula...

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Oito anos após Atemporal (Psicotrônica, 2004), Cris Braun volta ao mercado fonográfico com seu terceiro álbum solo, Fábula, gravado na ponte áerea Rio de Janeiro (RJ) - Maceió (AL) ao longo dos três últimos anos. A produção - dividida entre o guitarrista Billy Brandão e o baterista e percussionista Pedro Ivo Euzébio - dá o tom elegante do CD distribuído pela Tratore a partir deste mês de janeiro de 2012. A rigor, o encanto de Fábula reside mais na sonoridade suave e singular urdida pela dupla de produtores do que no canto da artista e, sobretudo, no repertório. O compositor catarinense Wado - radicado na mesma Maceió que atualmente abriga a gaúcha Cris Braun - figura na ficha técnica com duas músicas, Ossos e Cidade Grande, aquém do padrão habitual de qualidade de sua produção autoral. À medida que Fábula avança, a irregularidade do repertório fica tão nítida quanto o refinamento da sonoridade que formata músicas como Tanto Faz Para o Amor (Lucas Santanna e Quito Ribeiro) e Tão Feliz (Cris Braun e Billy Brandão). O disco soa cool e contemporâneo dentro de atmosfera íntima que ganha bissexta pegada roqueira no bom tema instrumental Artérias (Cris Braun), pontuado por guitarras e certa pressão. Dentro de repertório essencialmente inédito, Fábula joga luz sobre Deve Ser Assim, parceria de Alvin L. com Marina Lima, lançada por Marina em seu álbum O Chamado (1993). Ambos são nomes importantes na trajetória de Braun. Alvin foi colega de Braun no extinto grupo carioca Sex Beatles, que legou dois cultuados álbuns - Automobília (1994) e Mondo passionale (1995) - ao universo pop. Marina bancou por seu fugaz selo Fullgás o disco que inaugurou a carreira solo de Braun, Cuidado Com Pessoas Como Eu (1997). Apesar de Fábula ter narrativa basicamente estruturada no tempo da delicadeza, essa alma roqueira do passado ronda e sustenta de certa forma Viga (Fernando Fiúza e Cris Braun) - faixa em que a disposição dos vocais remete no fim ao canto falado do rap - e Oscilante (Fernando Fiúza), tema cujas percussões(a cargo de Marcelo Vig e Pedro Ivo Euzébio) roçam a cadência bonita do samba. Com poética mais afiada, E o Amor Calou (Cris Braun) se destaca pelos versos concisos e expressivos que citam Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) com senso de realidade que inexiste em Terra do Nunca Mais (Cris Braun), faixa instrumental que parece transitar por sons que levam a algum reino encantado condizente com o imaginário contido no título Fábula. No fim, Memória da Flor (Jr Almeida e Zé Paulo) - tema gravado por Braun em dueto com Celso Fonseca - reitera a leveza reinante neste disco formatado com sons de lap steel (espécie de guitarra havaiana), percussão, violões e até um piano de brinquedo. São esses sons precisos que reverberam o encanto existente em Fábula...