Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Reedição de '...Sweet Edy...' valoriza álbum que arejou era claustrofóbica

Resenha de reedição de CD
Título: ...Sweet Edy...
Artista: Edy Star
Gravadora da edição original de 1974: Som Livre
Gravadora da reedição de 2011: Joia Moderna
Cotação: * * * 1/2

Ouvido e analisado sob a perspectiva do tempo na oportuna reedição da gravadora Joia Moderna, ...Sweet Edy... confirma a valentia do baiano Edivaldo Souza, vulgo Edy Star. Andrógino, Edy conseguiu brilhar com aura glam nas trevas da ditadura que escureceu o Brasil dos anos 60 e 70. "Eu sou divino / Eu sou maravilhoso / E sou danado de gostoso / Quem quiser venha provar ", provocava, convidativo e desbocado, nos versos da faixa-vinheta Eu Sou Edy Star, tema de sua própria autoria. Primeiro e único disco solo de Edy Star, lançado originalmente pela gravadora Som Livre em 1974, ...Sweet Edy... volta à cena em reedição luxuosa que inclui libreto com fotos e texto biográfico-analítico de Rodrigo Faour. Tal reedição revaloriza um álbum que envolve mais pela atitude e pela aura cult do que pela música em si. Edy Star nunca foi cantor de se impor pela voz. Mas soube pôr essa voz desbundada a serviço de repertório desbocado que talvez tenha vindo à tona somente porque, no ano anterior, o trio Secos & Molhados abriu caminho - com Ney Matogrosso à frente e cheio de atitude - para a irreverência e androginia de Edy Star. "... Para um bom entendido / Meia cantada basta", se assumia mais uma vez Edy em versos de Bem Entendido (Renato Piau e Sérgio Natureza). Essa postura assumida encantou compositores como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Identificando em Star arrojada atitude pós-tropicalista, Caetano e Gil compuseram inéditas para ...Sweet Edy..., oferecendo - respectivamente - O Conteúdo e Edith Cooper (faixa na qual o cantor cita La Bamba, o hit de Ritchie Valens). Não são músicas especialmente inspiradas, mas ambas se ajustam com perfeição ao espírito desbundado de disco que alternava compassos de tango e rock em Coração Embalsamado (Getúlio Cortes), caía na latinidade caribenha com Olhos de Raposa (Jorge Mautner) e apresentava o Boogie Woogie do Rato (Denis Brean). O tom abusado do álbum é interrompido somente pela releitura mais comportada do samba-canção Esses Moços (Lupicínio Rodrigues), feita com o clima dos regionais que imperaram na música brasileira dos anos 30 e 40. No todo, ...Sweet Edy... é disco pop de clima roqueiro, exposto já na faixa de abertura, Claustrofobia, inédita fornecida por ninguém menos do que Roberto Carlos e Erasmo Carlos (na realidade, o tema tem mais o estilo de Erasmo do que de Roberto). Rock que tinha o jeito dos Novos Baianos em Pro Que Der na Telha (Moraes Moreira e Galvão). Enfim, ...Sweet Edy... tem sua importância, mesmo que o cantor seja falso e que as canções não sejam tão bonitas assim. A atitude valente de Star criou a aura cult em torno deste álbum produzido e arranjado por Guto Graça Mello sob a coordenação geral de João Araújo, mentor da ideia de pôr Edy em estúdio após vê-lo em boate carioca. Produzida por Thiago Marques Luiz sob a direção artística do DJ Zé Pedro, a reedição da Joia Moderna é tão caprichada que torna ainda mais lamentável a única desatenção do encarte, que reproduz versos de Bem Entendido ao fim da letra de Eu Sou Edy Star. No todo, ...Sweet Edy... é disco que, embora tenha uma vibe datada, resiste (bem) ao tempo por arejar época claustrofóbica com valentia.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ouvido e analisado sob a perspectiva do tempo na oportuna reedição da gravadora Joia Moderna, ...Sweet Edy... confirma a valentia do baiano Edivaldo Souza, vulgo Edy Star. Andrógino, Edy conseguiu brilhar com aura glam nas trevas da ditadura que escureceu o Brasil dos anos 60 e 70. "Eu sou divino / Eu sou maravilhoso / E sou danado de gostoso / Quem quiser venha provar ", provocava, convidativo e desbocado, nos versos da faixa-vinheta Eu Sou Edy Star, tema de sua própria autoria. Primeiro e único disco solo de Edy Star, lançado originalmente pela gravadora Som Livre em 1974, ...Sweet Edy... volta à cena em reedição luxuosa que inclui libreto com fotos e texto biográfico-analítico de Rodrigo Faour. Tal reedição revaloriza um álbum que envolve mais pela atitude e pela aura cult do que pela música em si. Edy Star nunca foi cantor de se impor pela voz. Mas soube pôr essa voz desbundada a serviço de repertório desbocado que talvez tenha vindo à tona somente porque, no ano anterior, o trio Secos & Molhados abriu caminho - com Ney Matogrosso à frente e cheio de atitude - para a irreverência e androginia de Edy Star. "... Para um bom entendido / Meia cantada basta", se assumia mais uma vez Edy em versos de Bem Entendido (Renato Piau e Sérgio Natureza). Essa postura assumida encantou compositores como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Identificando em Star arrojada atitude pós-tropicalista, Caetano e Gil compuseram inéditas para ...Sweet Edy..., oferecendo - respectivamente - O Conteúdo e Edith Cooper (faixa na qual o cantor cita La Bamba, o hit de Ritchie Valens). Não são músicas especialmente inspiradas, mas ambas se ajustam com perfeição ao espírito desbundado de disco que alternava compassos de tango e rock em Coração Embalsamado (Getúlio Cortes), caía na latinidade caribenha com Olhos de Raposa (Jorge Mautner) e apresentava o Boogie Woogie do Rato (Denis Brean). O tom abusado do álbum é interrompido somente pela releitura mais comportada do samba-canção Esses Moços (Lupicínio Rodrigues), feita com o clima dos regionais que imperaram na música brasileira dos anos 30 e 40. No todo, ...Sweet Edy... é disco pop de clima roqueiro, exposto já na faixa de abertura, Claustrofobia, inédita fornecida por ninguém menos do que Roberto Carlos e Erasmo Carlos (na realidade, o tema tem mais o estilo de Erasmo do que de Roberto). Rock que tinha o jeito dos Novos Baianos em Pro Que Der na Telha (Moraes Moreira e Galvão). Enfim, ...Sweet Edy... tem sua importância, mesmo que o cantor seja falso e que as canções não sejam tão bonitas assim. A atitude valente de Star criou a aura cult em torno deste álbum produzido e arranjado por Guto Graça Mello sob a coordenação geral de João Araújo, mentor da ideia de pôr Edy em estúdio após vê-lo em boate carioca. Produzida por Thiago Marques Luiz sob a direção artística do DJ Zé Pedro, a reedição da Joia Moderna é tão caprichada que torna ainda mais lamentável a única desatenção do encarte, que reproduz versos de Bem Entendido ao fim da letra de Eu Sou Edy Star. No todo, ...Sweet Edy... é disco que, embora tenha uma vibe datada, resiste (bem) ao tempo por arejar época claustrofóbica com valentia.

KL disse...

Mauro, a canção 'O Conteúdo' - ao contrário do que o autor apregoou em entrevistas - na minha opinião é bastante inspirada. É prima de outra (que ele também declarou ser um 'papo furado'), chamada 'Da Maior Importância'. Época imediatamente posterior ao álbum sensacional (e também injustamente execrado pelo autor) 'Araçá Azul'. Como se vê, não se deve levar a sério o que CV diz, mas somente apreciar o que de bom ele fez até 1981. O que ele escreveu depois, sim, é que é um eterno e repetitivo blablablá pouco ou nada convincente.

maroca disse...

KL

O disco Cores nomes de 1981 e Velô de 1984 são discos sensacionais, você não acha?

Augusto Flávio [Juazeiro-Ba]

maroca disse...

KL, o disco Cores nomes é de 1982 e não de 1981.

Augusto Flávio [Juazeiro-Ba]

KL disse...

Maroca,

Em geral, não gosto de quase nada produzido em música popular a partir de 1982, quando tudo me parece fake ou repetitivo. O álbum de 84 (Velô?) deu uma levantada, mas mesmo assim já não tem a (tão característica) marca de CV. Gosto da faixa "O Homem Velho", mas, mesmo assim, ouve-se aquela barulheira 80´s que praticamente descaracterizou tudo e preparou terreno para os anos 1990 e 2000, épocas de absoluto vazio existencial e ausência de pudor em publicar mediocridades.

Abraço!