Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vocais do MPB-4 e cordas valorizam boleros bem vertidos por brasileiros

Resenha de CD
Título: Contigo Aprendi
Artista: MPB-4
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 

essa altura da carreira já cinquentenária do MPB-4, a gravação de um disco com (inéditas) versões em português de boleros famosos poderia resultar em produto banal que nada acrescentaria à obra fonográfica do grupo surgido em 1962, em Niterói (RJ), ainda como um trio (somente em 1963 Magro Waghabi se juntou a Aquiles, Miltinho e ao já dissidente Ruy Faria). Mas o requinte da produção de Contigo Aprendi - o CD posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2012 - valoriza a incursão do quarteto pela seara dos boleros propagados por países latinos como México e Cuba. Três fatores respondem pela alta qualidade do projeto. O primeiro é a convocação de compositores como Abel Silva, Caetano Veloso, Carlos Rennó, Fernando Brant, J. C. Costa Netto, Hermínio Bello de Carvalho, Paulo César Pinheiro e Vítor Ramil para fazer as versões em português - escritas com absoluta fidelidade ao sentido e ao espírito dos versos originais em espanhol. O segundo é a convocação de Duofel, Quarteto Maogani, Toninho Horta e Trio Madeira Brasil para se revezar na criação de arranjos calcados nos violões. A sofisticada trama de violões renova os boleros sem macular a estrutura básica desses temas muito cantados em todo mundo, por todo mundo. Por fim, o terceiro selo de qualidade de Contigo Aprendi são os já tradicionais vocais do MPB-4. O quarteto harmoniza os boleros com fidelidade ao seu universo vocal. Já no primeiro dos onze boleros do disco - Sabe Deus (Sabrá Dios, de Alvaro Carrilho, na versão de Caetano Veloso - salta aos ouvidos a sofisticação que pontua o álbum. A Barca (La Barca, de Roberto Cantoral, na versão fidelíssima de Carlos Rennó) dá sequência ao disco com direito a solos de Luis Bueno e Fernando Melo. Já Contigo na Distância (Contigo en la Distancia, de César Portillo de La Luz, na versão de Vítor Ramil) - bolero introduzido a capella pelo MPB-4 - expõe as cordas do Trio Madeira Brasil com destaque para o solo de Ronaldo do Bandolim. Faixa-título adornada com o toque preciso do violão de Toninho Horta, Contigo Aprendi (Armando Manzanero na versão assinada pelo próprio Miltinho) ostenta um dos mais belos arranjos vocais do disco. Com arranjo mais cheio de molho, Quiçá, Quiçá, Quiçá (Quizás, Quizás, Quizás, de Oswaldo Farres, na versão de Hermínio Bello de Carvalho) soa menos natural na versão em português - até porque o apropriado 'quiçá' do título da versão é substituído pelo menos natural 'talvez' na letra de Hermínio. Em contrapartida, Eu Amei Uma Vez (Solamente Una Vez, de Agustín Lara, na versão poética de Fernando Brant) sobressai no disco de forma positiva pelo rebuscado arranjo vocal assinado por Carlos Vianna (Vianna roça sua inspiração na criação do arranjo vocal de Mulher, versão de Carlos Colla para Perfídia, de Alberto Dominguez, gravado em tom espanholado). De forma igualmente positiva, Tu me Acostumaste (Tu me Acostumbraste, de Frank Dominguez, na versão de Abel Silva) se diferencia pela sonoridade próxima do choro, mérito de Maurício Marques, integrante do Quarteto Maogani, presença luxuosíssima na faixa. Bolero urdido com os violões do Duofel, Sabor em Mim (Sabor a Mi, de Alvaro Carrillo, na versão de J. C. Costa Netto) soa menos inventivo, mas desce bem por conta da fluência dos versos de Costa Netto e do arranjo vocal de Magro. Noites de Ronda (Noche de Ronda, de Maria Tereza Lara, na versão de Paulo César Pinheiro e Paulo Frederico) cruza ligeiramente o universo do tango com o do bolero. Por fim, Relógio (El Reloj, de Roberto Cantoral, na versão de Celso Viáfora) reitera o êxito deste caprichado Contigo Aprendi. Mesmo sem sua formação original (Dalmo Medeiros substituiu Ruy Faria, que saiu do quarteto em 2004 de forma ruidosa e pouco amigável), o MPB-4 chega aos 50 anos com fôlego renovado, (bem) vestido de bolero.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A essa altura da carreira já cinquentenária do MPB-4, a gravação de um disco com (inéditas) versões em português de boleros famosos poderia resultar em produto banal que nada acrescentaria à obra fonográfica do grupo surgido em 1962, em Niterói (RJ), ainda como um trio (somente em 1963 Magro Waghabi se juntou a Aquiles, Miltinho e ao já dissidente Ruy Faria). Mas o requinte da produção de Contigo Aprendi - o CD posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2012 - valoriza a incursão do quarteto pela seara dos boleros propagados por países latinos como México e Cuba. Três fatores respondem pela alta qualidade do projeto. O primeiro é a convocação de compositores como Abel Silva, Caetano Veloso, Carlos Rennó, Fernando Brant, J. C. Costa Netto, Hermínio Bello de Carvalho, Paulo César Pinheiro e Vítor Ramil para fazer as versões em português - escritas com absoluta fidelidade ao sentido e ao espírito dos versos originais em espanhol. O segundo é a convocação de Duofel, Quarteto Maogani, Toninho Horta e Trio Madeira Brasil para se revezar na criação de arranjos calcados nos violões. A sofisticada trama de violões renova os boleros sem macular a estrutura básica desses temas cantados em todo mundo, por todo mundo. Por fim, o terceiro selo de qualidade de Contigo Aprendi são os já tradicionais vocais do MPB-4. O quarteto harmoniza os boleros com fidelidade ao seu universo vocal. Já no primeiro dos onze boleros do disco - Sabe Deus (Sabrá Dios, de Alvaro Carrilho, na versão de Caetano Veloso - salta aos ouvidos a sofisticação que pontua o álbum. A Barca (La Barca, de Roberto Cantoral, na versão fidelíssima de Carlos Rennó) dá sequência ao disco com direito a solos de Luis Bueno e Fernando Melo. Já Contigo na Distância (Contigo en la Distancia, de César Portillo de La Luz, na versão de Vítor Ramil) - bolero introduzido a capella pelo MPB-4 - expõe as cordas do Trio Madeira Brasil com destaque para o solo de Ronaldo do Bandolim. Faixa-título adornada com o toque preciso do violão de Toninho Horta, Contigo Aprendi (Armando Manzanero na versão assinada pelo próprio Miltinho) ostenta um dos mais belos arranjos vocais do disco. Com arranjo mais cheio de molho, Quiçá, Quiçá, Quiçá (Quizás, Quizás, Quizás, de Oswaldo Farres, na versão de Hermínio Bello de Carvalho) soa menos natural na versão em português - até porque o apropriado 'quiçá' do título da versão é substituído pelo menos natural 'talvez' na letra de Hermínio. Em contrapartida, Eu Amei Uma Vez (Solamente Una Vez, de Agustín Lara, na versão poética de Fernando Brant) sobressai no disco de forma positiva pelo rebuscado arranjo vocal assinado por Carlos Vianna (Vianna roça sua inspiração na criação do arranjo vocal de Mulher, versão de Carlos Colla para Perfídia, de Alberto Dominguez, gravado em tom espanholado). De forma igualmente positiva, Tu me Acostumaste (Tu me Acostumbraste, de Frank Dominguez, na versão de Abel Silva) se diferencia pela sonoridade próxima do choro, mérito de Maurício Marques, integrante do Quarteto Maogani, presença luxuosa na faixa. Bolero urdido com os violões do Duofel, Sabor em Mim (Sabor a Mi, de Alvaro Carrillo, na versão de J. C. Costa Netto) soa menos inventivo, mas desce bem por conta da fluência dos versos de Costa Netto e do arranjo vocal de Magro. Noites de Ronda (Noche de Ronda, de Maria Tereza Lara, na versão de Paulo César Pinheiro e Paulo Frederico) cruza ligeiramente o universo do tango com o do bolero. Por fim, Relógio (El Reloj, de Roberto Cantoral, na versão de Celso Viáfora) reitera o êxito deste caprichado Contigo Aprendi. Mesmo sem sua formação original (Dalmo Castello substituiu Ruy Faria, que deixou o quarteto em 2004 de forma ruidosa e pouco amigável), o MPB-4 chega aos 50 anos com fôlego renovado, (bem) vestido de bolero.

Anônimo disse...

Só tenho um disco do MPB4.
Chama-se Antologia e gostaria de recomendar a todos.
São vários pout pourris(curtos, porém inspirados) só com os figurões.
Tem Caymmi, Jobim, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Baden Powel, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa...

EDELWEISS1948 disse...

TENHO QUASE TODOS OS DISCOS DO MPB4.É TUDO DE BOM.

Luca disse...

Faltou o Chico Buarque, amigo do grupo