Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 26 de junho de 2012

Máquina de ritmos globalizados, Gil chega aos 70 como Deus da música

Caetano Veloso disse que Gilberto Gil crê em Deus. E que ele, Caetano, crê em Gil. Faz sentido! Gilberto Passos Gil Moreira chega aos 70 anos - completados nesta terça-feira, 26 de junho de 2012 - como um Deus da deusa música. A postura zen depurada ao longo da vida lhe confere o status de um Buda Nagô - termo cunhado por Gil no título da música de 1992 em que saudou seu mestre Dorival Caymmi (1914 - 2008) - ao mesmo tempo em que contrasta com a efervescência de sua máquina de ritmos globalizados, ainda azeitada, como o cantor e compositor mostrou em recente gravação ao vivo de show a ser editada no segundo semestre de 2012 pela gravadora Biscoito Fino. O universo musical de Gilberto Gil - que também completa 50 anos de carreira iniciada em 1962 com as primeiras gravações feitas ainda na Bahia - é tão amplo que parece abranger todas as influências e referências da música brasileira, antropofagicamente deglutidas como convém a um artista de espírito eternamente tropicalista. Partindo da cadência bonita do samba, mote das primeiras músicas feitas ao violão que em 1961 tomou o lugar do acordeom apreendido por influência do outro mestre Luiz Gonzaga (1912 - 1989), o Expresso 2222 de Gil logo começou a circular por outros ritmos em seus álbuns tropicalistas. O rock dos Beatles e a psicodelia que enevoou os sons dos anos 60 foram incorporados pelo artista, sempre atento às transformações do mundo e da música. Com sua antena parabolicamará, Gil captou nos anos 70 as ondas que vinham da praia do reggae, a negritude exposta com orgulho nos sons e na atitude do movimento Black Rio - mote de Refavela (1977), disco visionário - e a efervescência da disco music, presente em Realce (1979), álbum que deu o start na fase mais pop da discografia do cantor. Sempre antenado, Gil captou também - já no início dos anos 80 - a pegada pop que deu lufada de ar fresco na música brasileira, abrindo caminhos e mercado para o rock. Gil se permitiu ser pop, mas, ao mesmo tempo, ao dialogar de igual para igual com grupos como Paralamas do Sucesso, o artista também injetou sua brasilidade vivaz no rock nativo feito de início à moda do estrangeiro. Nos anos 90, foi pioneiro ao cair na rede e ao sintetizar seu legado no duplo Quanta (1997). Sem afrontar as mudanças impostas pelo tempo rei, Gil sabe ser do mundo, mas também sabe que o (seu) mundo também cabe no interior do mato. Por isso, Gil - visto em foto de seu arquivo pessoal - volta e meia revisitou suas raízes musicais em álbuns como Refazenda (1975), Eu Tu Eles (2000) - ode ao cancioneiro seminal do Rei do Baião - e Fé na Festa (2009). Sua máquina de ritmos sempre funciona bem, seja à manivela ou com (a mais) moderna engrenagem hi-tech. Caetano - parceiro de sons e ideias, irmão de criação musical, colega na arquitetura da obra tropicalista - tem lá sua razão. Gilberto Gil é um Deus da música.

23 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Caetano Veloso disse que Gilberto Gil crê em Deus. E que ele, Caetano, crê em Gil. Faz sentido! Gilberto Passos Gil Moreira chega aos 70 anos - completados nesta terça-feira, 26 de junho de 2012 - como um Deus da deusa música. A postura zen depurada ao longo da vida lhe confere o status de um Buda Nagô - termo cunhado por Gil no título da música de 1992 em que saudou seu mestre Dorival Caymmi (1914 - 2008) - ao mesmo tempo em que contrasta com a efervescência de sua máquina de ritmos globalizados, ainda azeitada, como o cantor e compositor mostrou em recente gravação ao vivo de show a ser editada no segundo semestre de 2012 pela gravadora Biscoito Fino. O universo musical de Gilberto Gil - que também completa 50 anos de carreira iniciada em 1962 com as primeiras gravações feitas ainda na Bahia - é tão amplo que parece abranger todas as influências e referências da música brasileira, antropofagicamente deglutidas como convém a um artista de espírito eternamente tropicalista. Partindo da cadência bonita do samba, mote das primeiras músicas feitas ao violão que em 1961 tomou o lugar do acordeom apreendido por influência do outro mestre Luiz Gonzaga (1912 - 1989), o Expresso 2222 de Gil logo começou a circular por outros ritmos em seus álbuns tropicalistas. O rock dos Beatles e a psicodelia que enevoou os sons dos anos 60 foram incorporados pelo artista, sempre atento às transformações do mundo e da música. Com sua antena parabolicamará, Gil captou nos anos 70 as ondas que vinham da praia do reggae, a negritude exposta com orgulho nos sons e na atitude do movimento Black Rio - mote de Refavela (1977), disco visionário - e a efervescência da disco music, presente em Realce (1979), álbum que deu o start na fase mais pop da discografia do cantor. Sempre antenado, Gil captou também - já no início dos anos 80 - a pegada pop que deu lufada de ar fresco na música brasileira, abrindo caminhos e mercado para o rock. Gil se permitiu ser pop, mas, ao mesmo tempo, ao dialogar de igual para igual com grupos como Paralamas do Sucesso, o artista também injetou sua brasilidade vivaz no rock nativo feito de início à moda do estrangeiro. Nos anos 90, foi pioneiro ao cair na rede e ao sintetizar seu legado no duplo Quanta (1997). Sem afrontar as mudanças impostas pelo tempo rei, Gil sabe ser do mundo, mas também sabe que o (seu) mundo também cabe no interior do mato. Por isso, Gil - visto em foto de seu arquivo pessoal - volta e meia revisitou suas raízes musicais em álbuns como Refazenda (1975), Eu Tu Eles (2000) - ode ao cancioneiro seminal do Rei do Baião - e Fé na Festa (2009). Sua máquina de ritmos sempre funciona bem, seja à manivela ou com a mesma moderna engrenagem hi-tech. Caetano - parceiro de sons e ideias, irmão de criação musical, colega na arquitetura da obra tropicalista - tem lá sua razão. Gilberto Gil é um Deus da música.

Maria disse...

Isso aí Mauro! Salve,este grande artista que é Gilberto Gil! que viva até os 100 anos! daqui a pouco acompanharei a transmissão do show ao vivo pelo Youtube. PS: Junho é o mês de aniversário dos maiores talentos da música brasileira Chico Buarque, Maria Bethânia e Gil.

André Luís disse...

Mauro, o ótimo texto é justo a esse Deus da Música, mas essa foto dá susto, Deus nos acuda!

Eduardo Cáffaro disse...

Gil , este sim sabe fazer letras e músicas ! Eu NÂO quero Tcha, nem quero TCHU , eu quero Gil !!!

André Queiroz disse...

Parabéns, Gilberto Gil

Meu Top 5 de discos:

Gilberto Gil (1968)
Expresso 2222 (1972)
Refazenda (1975)
Refavela (1977)
Realce (1979)

Top 5 de músicas:

Domingo no Parque
Oriente
Flora
Pai e Mãe
Aqui e Agora

Gill Sampaio Ominirò disse...

Eu tenho toda a sua discografia e não me canso de ouvi-la. Sempre que me apresentam um artista novo eu digo, não preciso nem tenho tempo para os novos, tenho Gil, Buarque, Caetano, Bosco, Bethânia, Gal, Clara, Clementina. Eu gosto do novo, mas o novo na MPB está indo por um caminho muito triste, chato. Parece cool, mas não é cool, é chato mesmo, sem suingue. Gil tem uma voz bela, aveludada, às vezes rouca. Ele sabe ser cool e sabe ser elétrico. Sabe tudo. No último carnaval estive com ele na Bahia pela primeira vez fora de show e pude dizê-lo o quanto o admiro, o quanto ele é importante para mim e para música brasileirae mundial. Mòjubá Orisà Gil (meus respeitos ao deus Gil).

Tombom disse...

Salve Gil! 70 anos produtivos e outros tantos a trilhar no mundo das ideias e dos sons. Salve! Salve!

Daทilo disse...

Só não concordo com o trecho:

"já no início dos anos 80 - a pegada pop que deu lufada de ar fresco na música brasileira, abrindo caminhos e mercado para o rock"

Penso que foi o contrário. Gil com Extra(1983) e Caetano com Velô
(1984) apareceram na cenário do Brock que nasceu um pocuo antes com o sucesso do primeiro albúm da Blitz, de 82, estes sim abriram caminho para todos os que vieram depois, com linguagem e mérito próprio, diga-se de passagem. Depois é que apareceram os tropicalistas para "legitimar" e "abençõar" a garotada roqueira. Como fizeram depois com o manguebeat...

Discordãncia à parte, minha eterna admiração e vida longa ao mestre Gilberto Gil!

antonio disse...

por que a Warner não aproveita e relança a caixa Palco?

Alexandre Siqueira disse...

Adorei o "não quero tchu, não quero tcha, eu quero GIL"!!! Também quero Gil. Aliás, todos nós queremos Gil! O Brasil merece esse artista! Feliz Aniversário, Deus da Música!

Anônimo disse...

Ótimo texto, Mauro.
Só acrescento que o Gil também estava de antena ligada no Manguebeat, sendo um dos maiores entusiastas de Chico Science - participando de discos e shows.

PS: Buda Nagô, não conhecia essa música em que ele se auto define dessa maneira. Melhor ainda, pois mesmo sem conhecer sempre o vi assim.

Anônimo disse...

Vou brincar de Top 5 tb:

Domingo no Parque
Metáfora
Cada Tempo em Seu Lugar
Se Eu Quiser Falar com Deus
Drão

maroca disse...

Augusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:

Zé Henrique, Gil não se auto define como um Buda Nagô, é Dorival Caymmi que para ele é esse "Buda Nagô" e a música está no disco Parabolicamará e ele canta lindamente com Nana Caymmi, ouça vale a pena!

Vou mandar também meu top 5

Retiros esperituais 1975
No norte da saudade 1977
Logunede 1979
Cores vivas 1981
Lady Neyde 1983

Maria disse...

Gostei da brincadeira! Meu Top 5 de Gil:

Se Eu Quiser Falar com Deus

Super Homem(A Canção)

Drão

Retiros Espirituais

Expresso 2222

Alexandre Siqueira disse...

Por ocasião da celebração dos 70 anos de Gil é também muito bem vindo o lançamento em bancas de 20 álbuns de sua discografia. Cada CD é acompanhado de livreto, assim como as coleções de Chico, Legião e Tim. Todos já devem estar sabendo, mas mesmo assim, usando de um clichê, "fica a dica"!

Anônimo disse...

Ahh, valeu a correção, Augusto.
Foi um erro de interpretação misturado com ato falho.
É que acho o Gil bem mais Buda Nagô que o grande Caymmi.
Caymmi é um pescador. Observador do mar e da vida, além de adorar uma rede. :-)

PS: Vou ouvir Buda Nagô. Parabolicamará, a música, eu conheço e adoro.

Márcio disse...

Brincadeira boa! Lá vão minhas Top 5 de Gil, mas poderiam ser tranquilamente as Top 20:

1 - Geléia Geral
2 - Flora
3 - Expresso 2222
4 - Palco
5 - Domingo no Parque

Unknown disse...

1. Flora
2. Aqui e agora
3. Retiros espirituais
4. Realce
5. Amor até o fim

Daทilo disse...

Gil é tão múltiplo que podíamos todos categorizar esse top 5, em fases, conceitos, etc, gerando umas 5 listas, não é mesmo? No entanto vai as primeiras que vem à cabeça, como uma singela homenagem:

Palco
Flora
Tempo Rei
Mar de copacabana
Estrela

+ Mãe da Manhã(líndíssima que Gal gravou).

Luca disse...

faltou falar da influência de João Gilberto na música do Gil

Alfredo disse...

Não tem pra ninguém, Gil é o topo da nossa música!!!

Parabéns e felicidades ao grande mestre Gil!!!

Minhas top 5:

Se eu quiser falar com Deus
Realce
Palco
Não tenho medo da vida
Vamos fugir

Mauro, belo texto!

Káyon disse...

Nossa!! TOP 5 de Gil... nem me arrisco.

Gil reina.

Fabiana disse...

Top 5
Drão
Se eu quiser falar com Deus
Estrela
Deixar você
Amor até o fim

Não necessariamente nesta ordem... kkk

Vida longa ao Gil!!!

P.P.: A foto não favoreceu.