Mauro Ferreira no G1

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domingo, 8 de abril de 2012

Aos 90 anos, Bibi vai de Gardel a Piaf como uma 'garotinha' na flor da idade

Resenha de show
Título: Bibi - Histórias e Canções
Artista: Bibi Ferreira (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio - Sala Tereza Rachel (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de abril de 2012
Cotação: * * * * *
Espetáculo em cartaz de sexta-feira a domingo no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ)

"Quem sabe eu ainda sou uma garotinha?...", considerou Bibi Ferreira, marota, ao entrar no palco do Theatro Net Rio após os acordes finais de Malandragem (Frejat e Cazuza), música tocada sob a regência do maestro Flavio Mendes pela orquestra de 27 músicos que divide a cena com a atriz-cantora neste show comemorativo de seus 90 anos, a serem completados em 1º de junho de 2012. Talvez seja mesmo. Quase aos 90, Bibi Ferreira se porta em cena no show Bibi - Histórias e Canções como uma garotinha ávida de vida, de palco - como uma artista na flor da idade para citar o título do tema composto por Chico Buarque para a trilha sonora do musical Gota d'Água (1975), um dos ápices dos 71 anos de carreira de Bibi e da própria dramaturgia brasileira. Em registro instrumental, Flor da Idade (Chico Buarque) abre o roteiro urdido pela própria Bibi com seu empresário Nilson Raman (partner da estrela em A Quoi a Ça Sert L’Amour, dueto inserido no bloco de canções do repertório de Edith Piaf), com João Falcão (diretor do espetáculo) e com o maestro regente Flavio Mendes. A rigor, o roteiro costura números de shows recentes da artista como De Pixinguinha a Noel, Passando por Gardel (2010) e Bibi in Concert IV - Histórias e Canções (2011). Com exceção do belo vestido roxo, nada soa exatamente novo para quem acompanha a gloriosa trajetória de Bibi nos palcos brasileiros. Mas tudo soa novo e cheio de frescor pela vivacidade dessa garotinha nonagenária, embebida em Arte já no berço. A voz já não tem evidentemente a carga e a força dramática de tempos idos. Só que a força maior - a da vida, a do prazer de estar em cena dividindo histórias e canções com seu público - continua toda com Bibi. Vivaz, Bibi vai de Carlos Gardel (1890 - 1935) a Edith Piaf (1915 - 1963) com a mesma desenvoltura com que encaixa letras de sucessos da música brasileira pré-Bossa Nova nas melodias clássicas de árias de óperas - proeza que já mostrara em seu hoje raríssimo álbum Bibi Ferreira em Pessoa (1963) - e com que encara temas de musicais que já encenou e que, como diz em comentário novamente maroto, ainda cogita encenar. Se tangos como Cuesta Abajo (Carlso Gardel e Alfredo Le Pera) são reminiscências dos avós da garotinha, as canções de Edith Piaf já se confundem com a própria história de Bibi tamanha a força com que a intérprete se apoderou delas a partir do espetáculo Piaf - A Vida de Uma Estrela da Canção (1983), outro ápice de sua carreira. Outras até então nunca associadas a Bibi, como Ponteio (Edu Lobo e José Carlos Capinam), crescem em cena pela moldura orquestral e pela tal força da cantriz. Contadas as histórias e interpretadas as canções, em roteiro que jamais perde o pique, Bibi sai consagrada de cena. Com a alma lavada pelo banho de cultura e de musicalidade, o público extasiado já considera que talvez - quem sabe? - Bibi Ferreira ainda seja mesmo uma garotinha de 90 anos, com gana típica de adolescente.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Quem sabe eu ainda sou uma garotinha?...", considerou Bibi Ferreira, marota, ao entrar no palco do Theatro Net Rio após os acordes finais de Malandragem (Frejat e Cazuza), música tocada sob a regência do maestro Flavio Mendes pela orquestra de 27 músicos que divide a cena com a atriz-cantora neste show comemorativo de seus 90 anos, a serem completados em 1º de junho de 2012. Talvez seja mesmo. Quase aos 90, Bibi Ferreira se porta em cena no show Bibi - Histórias e Canções como uma garotinha ávida de vida, de palco - como uma artista na flor da idade para citar o título do tema composto por Chico Buarque para a trilha sonora do musical Gota d'Água (1975), um dos ápices dos 71 anos de carreira de Bibi e da própria dramaturgia brasileira. Em registro instrumental, Flor da Idade (Chico Buarque) abre o roteiro urdido pela própria Bibi com seu empresário Nilson Raman (partner da estrela em A Quoi a Ça Sert L’Amour, dueto inserido no bloco de canções do repertório de Edith Piaf), com João Falcão (diretor do espetáculo) e com o maestro regente Flavio Mendes. A rigor, o roteiro costura números de shows recentes da artista como De Pixinguinha a Noel, Passando por Gardel (2010) e Bibi in Concert IV - Histórias e Canções (2011). Com exceção do belo vestido roxo, nada soa exatamente novo para quem acompanha a gloriosa trajetória de Bibi nos palcos brasileiros. Mas tudo soa novo e cheio de frescor pela vivacidade dessa garotinha nonagenária, embebida em Arte já no berço. A voz já não tem evidentemente a carga e a força dramática de tempos idos. Só que a força maior - a da vida, a do prazer de estar em cena dividindo histórias e canções com seu público - continua toda com Bibi. Vivaz, Bibi vai de Carlos Gardel (1890 - 1935) a Edith Piaf (1915 - 1963) com a mesma desenvoltura com que encaixa letras de sucessos da música brasileira pré-Bossa Nova nas melodias clássicas de árias de óperas - proeza que já mostrara em seu hoje raríssimo álbum Bibi Ferreira em Pessoa (1963) - e com que encara temas de musicais que já encenou e que, como diz em comentário novamente maroto, ainda cogita encenar. Se tangos como Cuesta Abajo (Carlso Gardel e Alfredo Le Pera) são reminiscências dos avós da garotinha, as canções de Edith Piaf já se confundem com a própria história de Bibi tamanha a força com que a intérprete se apoderou delas a partir do espetáculo Piaf - A Vida de Uma Estrela da Canção (1983), outro ápice de sua carreira. Outras até então nunca associadas a Bibi, como Ponteio (Edu Lobo e José Carlos Capinam), crescem em cena pela moldura orquestral e pela tal força da cantriz. Contadas as histórias e interpretadas as canções, em roteiro que jamais perde o pique, Bibi sai consagrada de cena. Com a alma lavada pelo banho de cultura e de musicalidade, o público extasiado já considera que talvez - quem sabe? - Bibi Ferreira ainda seja mesmo uma garotinha de 90 anos.

Il.Junior disse...

Alguem sabe quando esse show vem pra sampa ?

Luca disse...

Bibi, venha pra São Paulo, nós paulistas queremos ver esse show

Rafael disse...

Tomara que esse show venha para BH. Merecemos ouvir Bibi aqui também!!!

Rafael disse...

Grande Bibi Ferreira, uma lady dos palcos!!! 90 anos de vida muito bem vivido e construído numa belíssima carreira dedicada as artes! Espero sinceramente que esse belo show gere um CD e DVD ao vivo, pela Biscoito Fino ou qualquer outra gravadora. Mas um espetáculo tão maravilhoso e impactante como esse, com tão criteriosa e bem cuidada seleção de repertório não pode ficar sem formato digital! Portanto, CD e DVD desse show já!!! Salve a grande dama do teatro!!!

André disse...

Este Sra. por tudo que representa na arte do nosso país merece um belissimo dvd, espero que lancem logo. Nunca a assisti ao vivo, mas vejo pelo youtube cada coisa mais linda. Bibi dignifica a arte do país!

Káyon disse...

Quando vier pra Sampa, não perderei por nada. AVE, BIBI!!!

EDELWEISS1948 disse...

MONSTRO SAGRADO DE NOSSA CULTURA. BIBI VENHA PARA SÃO PAULO.

RURIK VARDA disse...

Bibi Ferreira construiu uma carreira bastante atípica e, de certa forma, solitária na história do nosso teatro. Quando surgiu na companhia de seu pai, lá pelos idos anos 40 do século passado, chamou a atenção de todos, crítica, público e pares, por imprimir um estilo moderno de interpretar para os padrões de então. Logo em seguida, por priorizar um repertório à época considerado tradicional e de apelo popular, acabou sendo apartada pela elite teatral, uma vez que seus espetáculos não eram influenciados pelos experimentos vanguardistas importados da Europa, nem tampouco pelo teatro de esquerda, que considerava o tipo de trabalho que fazia, centrado na tradição do ator cômico brasileiro, um manancial de atraso e alienação. Nadando na direção oposta do que seria reverenciado pelos intelectuais que escreveriam a história da encenação, Bibi acabou, injustamente, tendo seu nome alijado das produções que concorreram para a renovação da cena teatral brasileira.
Seus 71 anos de uma carreira brilhante vieram provar que teorias, movimentos, experimentações estéticas, teses ou ideologias não têm ascendência sobre o talento verdadeiro. E Bibi, ao incorporar ao que mais ama – a música e os musicais, seus múltiplos dons (representar, cantar, dançar, dirigir, compor), imprimiu uma das marcas mais profundas na história do nosso teatro.