Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Estrangeiro na terra de Byrne, Caetano se afina com 'talking head' em NY

Resenha de CD
Título: Caetano Veloso and David Byrne Live at Carnegie Hall
Artistas: Caetano Veloso e David Byrne
Gravadora: Nonesuch
Cotação: * * * *

O lançamento do CD Caetano Veloso and David Byrne Live at Carnegie Hall nos Estados Unidos neste primeiro semestre de 2012 - em edição da gravadora Nonesuch Records ainda não disponibilizada no Brasil - expõe afinidades e conexões entre o cantor e compositor baiano e o artista escocês residente em Nova York (EUA), cérebro do já desativado grupo Talking Heads. Na gravação ao vivo, captada na apresentação de 17 de abril de 2004 que juntou Caetano e Byrne no palco do Carnegie Hall, Caetano e Byrne se encontram e se afinam em cinco dos 18 números do show centrado nas vozes e nos violões dos artistas. Caetano é o anfitrião - o que convida o violoncelista Jaques Morelenbaum a entrar em cena a partir do quinto número, Coração Vagabundo (Caetano Veloso, 1967) -  ao mesmo tempo em que é o estrangeiro na terra musical de Byrne. O disco expande e oficializa uma conexão que começou informal quando o álbum Estrangeiro (1989), de Caetano, foi lançado nos Estados Unidos, merecendo elogios públicos de Byrne. Em 1990, um dueto em (Nothing But) Flowers - música composta por Byrne com três integrantes do Talking Heads (Chris Frantz, Jerry Harrison e Tina Weymouth) e lançada pelo grupo no álbum Naked (1988) - no Montreux Jazz Festival, na Suíça, desenvolveu a conexão que gerou até parceria bissexta de Caetano com Byrne, Dreamworld: Marco de Canaveses, gravada pela dupla em 1998 em disco da série beneficente Red Hot + e rebobinada neste sedutor disco ao vivo. Como Caetano é o estrangeiro em NY, o CD oferece aos norte-americanos breve recorte de sua obra no set inicial feito por Caetano com sua voz, seu violão e as adesões de Morelenbaum e do percussionista Mauro Refosco (convidado a entrar em cena em Manhatã, canção de 1997, emblemática no roteiro por reiterar a condição  de estrangeiro de Caetano no palco do Carnegie Hall). Byrne - o convidado de honra - entra em cena no meio de música de sua lavra solitária entoada por Caetano, The Revolution (David Byrne, 2001), alvo de um dos duetos mais harmoniosos do disco. A entrada de Byrne em cena é a deixa para o início do set individual do talking head - após o qual acontece a maior interação entre ambos. A foreign sound para Byrne, Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê (Caetano Veloso e Moreno Veloso, 1982) põe em cena o português tosco do talking head. Já Nothing But (Flowers) - cantada pelo dois na língua-mãe do universo - é o ápice do encontro, o ponto culminante da beleza, apesar do caráter déjà vu do dueto. Neste apogeu, terra é ceu se irmanam, ou seja, Terra (Caetano Veloso, 1979) e Heaven (David Byrne e Jerry Harrison, 1979) são alocadas lado a lado, belas canções geradas no mesmo ano de 1979. Heaven ganha uterino contracanto de Caetano, estrangeiro que sempre falou a língua do mundo com sua música e que, por isso mesmo, se afina tanto com Byrne neste CD ao vivo.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O lançamento do CD Caetano Veloso and David Byrne Live at Carnegie Hall nos Estados Unidos neste primeiro semestre de 2012 - em edição da gravadora Nonesuch Records ainda não disponibilizada no Brasil - expõe afinidades e conexões entre o cantor e compositor baiano e o artista escocês residente em Nova York (EUA), cérebro do já desativado grupo Talking Heads. Na gravação ao vivo, captada na apresentação de 17 de abril de 2004 que juntou Caetano e Byrne no palco do Carnegie Hall, Caetano e Byrne se encontram e se afinam em cinco dos 18 números do show centrado nas vozes e nos violões dos artistas. Caetano é o anfitrião - o que convida o violoncelista Jaques Morelenbaum a entrar em cena a partir do quinto número, Coração Vagabundo (Caetano Veloso, 1967) - ao mesmo tempo em que é o estrangeiro na terra musical de Byrne. O disco expande e oficializa uma conexão que começou informal quando o álbum Estrangeiro (1989), de Caetano, foi lançado nos Estados Unidos, merecendo elogios públicos de Byrne. Em 1990, um dueto em (Nothing But) Flowers - música composta por Byrne com três integrantes do Talking Heads (Chris Frantz, Jerry Harrison e Tina Weymouth) e lançada pelo grupo no álbum Naked (1988) - no Montreux Jazz Festival, na Suíça, desenvolveu a conexão que gerou até parceria bissexta de Caetano com Byrne, Dreamworld: Marco de Canaveses, gravada pela dupla em 1998 em disco da série beneficente Red Hot + e rebobinada neste sedutor disco ao vivo. Como Caetano é o estrangeiro em NY, o CD oferece aos norte-americanos breve recorte de sua obra no set inicial feito por Caetano com sua voz, seu violão e as adesões de Morelenbaum e do percussionista Mauro Refosco (convidado a entrar em cena em Manhatã, canção de 1997, emblemática no roteiro por reiterar a condição de estrangeiro de Caetano no palco do Carnegie Hall). Byrne - o convidado de honra - entra em cena no meio de música de sua lavra solitária entoada por Caetano, The Revolution (David Byrne, 2011), alvo de um dos duetos mais harmoniosos do disco. A entrada de Byrne em cena é a deixa para o início do set individual do talking head - após o qual acontece a maior interação entre ambos. A foreign sound para Byrne, Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê (Caetano Veloso e Moreno Veloso, 1982) põe em cena o português tosco do talking head. Já Nothing But (Flowers) - cantada pelo dois na língua-mãe do universo - é o ápice do encontro, o ponto culminante da beleza, apesar do caráter déjà vu do dueto. Neste apogeu, terra é ceu se irmanam, ou seja, Terra (Caetano Veloso, 1979) e Heaven (David Byrne e Jerry Harrison, 1979) são alocadas lado a lado, belas canções geradas no mesmo ano de 1979. Heaven ganha uterino contracanto de Caetano, estrangeiro que sempre falou a língua do mundo com sua música e que, por isso mesmo, se afina tanto com Byrne neste CD ao vivo.

Diogo Santos disse...

Fiquei realmente curioso pra ouvir.

Aco que com fãs-amigos como Byrne, Devendra e Almodovar, Caetano poderia ter até mais espaço lá fora - se realmente quisesse. Pois além dos Grammys que ganhou, tem bom transito na Latinoamérica e até na festa do Oscar já cantou !

Long live Caetano!

Chabacano disse...

Não conheço este show, mas sou muito fã desses dois homens tão inteligentes, talentosos e inimitáveis. Um show com eles compartilhando o palco só pode ter resultado em algo no mínimo bom. "Nothing But Flowers" é uma das minhas músicas favoritas dos maravilhosos Talking Heads e um medley que junta "Terra" e "Heaven" é algo que promete ser tão bom quanto surpreendente. Estou ansioso para comprar esse troço!