Mauro Ferreira no G1

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sábado, 14 de abril de 2012

Caixa 'Cauby!...' embala seis discos obscuros de fase crepuscular do cantor

Resenha de caixa de CDs
Título: Cauby!... Vol. 1
Artista: Cauby Peixoto
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * *

♪ Das duas caixas postas nas lojas neste mês de abril de 2012 pelo selo Discobertas com álbuns e coletâneas inéditas de Cauby Peixoto, Cauby!... Vol. 1 e ...Cauby! Vol.2, a primeira é a que embala os títulos mais obscuros da discografia do já octagenário cantor. Mas ambas merecem atenção dos colecionadores de discos. Cada caixa agrupa cinco álbuns e uma coletânea com fonogramas avulsos da discografia do intérprete. Produzidas por Marcelo Fróes, as reedições são criteriosas - reproduzindo a arte gráfica e as informações dos LPs originais - e trazem textos específicos do pesquisador musical Rodrigo Faour (biógrafo do artista) para cada disco. Gravados no fim dos anos 60, os três primeiros álbuns da caixa Cauby!... flagram o cantor em fase crepuscular. Como todo intérprete projetado na era dourada do rádio brasileiro, Cauby se tornou progressivamente ultrapassado com a revolução estética arquitetada pela Bossa Nova - status confirmado com a explosão da Jovem Guarda em 1965. Nem mesmo a Tropicália o havia reabilitado quando ele gravou ao vivo em 1968 o LP Um Drink com Cauby e Leny. O título se referia ao fato de o disco - até então raríssimo - ter sido gravado na lendária boate carioca Drink com a cantora paulista Leny Eversong (1920 - 1984). Editado pelo selo Hot, o álbum chega ao CD com som baixo - efeito provável das condições precárias da gravação original - e alto valor documental. O mesmo valor que tem O explosivo Cauby (1969), álbum gravado pelo cantor na sequência pela gravadora Fermata. Ainda à procura de um caminho a seguir na época, Cauby fez um disco cafona com repertório dominado por versões de músicas estrangeiras.  A versão hispânica - El explosivo Cauby, gravada em espanhol naquele mesmo ano de 1969 para o mercado argentino - é ligeiramente superior. Mas Cauby somente começaria a reencontrar seu caminho após três anos, e não depois de quatro anos, como afirma Faour, errando na conta ao escrever o texto que contextualiza a gravação em 1972 do álbum Superstar, lançado pela Odeon e já previamente reeditado em CD pela EMI Music. Em Superstar, Cauby começa a se aproximar de compositores mais contemporâneos revelados nos anos 60, gravando Chico Buarque (Valsinha, parceria com Vinicius de Moraes) e Caetano Veloso (Os argonautas), além de ter lançado José Augusto (a simplória Meu filho, parceria de Augusto com Antônio Damasceno). Mas as interpretações e os arranjos do disco por vezes evocavam o estilo grandiloquente da era do rádio. O destaque foi a regravação de Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), feita em tom mais leve. Leveza, aliás, perceptível na maior parte das interpretações de Cauby (1976), o álbum gravado por Cauby Peixoto na Som Livre, quatro anos depois, com produção do compositor luso-brasileiro Adelino Moreira (1918 - 2002), autor de boleros e sambas-canções como A volta do boêmio, aliás ambientado por Cauby em universo próximo do tango em regravação incluída neste disco em que o cantor flertou com o sambão dos anos 70. Amargando período de baixa exposição na mídia já há mais de dez anos, Cauby Peixoto continuava procurando seu caminho na música brasileira produzida e gravada após a era dos festivais.  Ele iria achá-lo nos discos reunidos na caixa  ...Cauby! Vol. 2. 

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Das duas caixas postas nas lojas neste mês de abril de 2012 pelo selo Discobertas com álbuns e coletâneas inéditas de Cauby Peixoto, Cauby!... Vol. 1 e ...Cauby! Vol.2, a primeira é a que embala os títulos mais obscuros da discografia do já octagenário cantor. Mas ambas merecem atenção dos colecionadores de discos. Cada caixa agrupa cinco álbuns e uma coletânea com fonogramas avulsos da discografia do intérprete. Produzidas por Marcelo Fróes, as reedições são criteriosas - reproduzindo a arte gráfica e as informações dos LPs originais - e trazem textos específicos do pesquisador musical Rodrigo Faour (biógrado do artista) para cada disco. Gravados no fim dos anos 60, os três primeiros álbuns da caixa Cauby!... flagram o cantor em fase crepuscular. Como todo intérprete projetado na era dourada do rádio brasileiro, Cauby se tornou progressivamente ultrapassado com a revolução estética arquitetada pela Bossa Nova - status confirmado com a explosão da Jovem Guarda em 1965. Nem mesmo a Tropicália o havia reabilitado quando ele gravou ao vivo em 1968 o LP Um Drink com Cauby e Leny. O título se referia ao fato de o disco - até então raríssimo - ter sido gravado na lendária boate carioca Drink com a cantora paulista Leny Eversong (1920 - 1984). Editado pelo selo Hot, o álbum chega ao CD com som baixo - efeito provável das condições precárias da gravação original - e alto valor documental. O mesmo valor que tem O Explosivo Cauby (1969), álbum gravado pelo cantor na sequência pela gravadora Fermata. Ainda à procura de um caminho a seguir na época, Cauby fez um disco cafona com repertório dominado por versões de músicas estrangeiras. A versão hispânica - El Explosivo Cauby, gravada em espanhol naquele mesmo ano de 1969 para o mercado argentino - é ligeiramente superior. Mas Cauby somente começaria a reencontrar seu caminho após três anos, e não depois de quatro anos, como afirma Faour, errando na conta ao escrever o texto que contextualiza a gravação em 1972 do álbum Superstar, lançado pela Odeon e já previamente reeditado em CD pela EMI Music. Em Superstar, Cauby começa a se aproximar de compositores mais contemporâneos revelados nos anos 60, gravando Chico Buarque (Valsinha, parceria com Vinicius de Moraes) e Caetano Veloso (Os Argonautas), além de ter lançado José Augusto (a simplória Meu Filho, parceria de Augusto com Antônio Damasceno). Mas as interpretações e os arranjos do disco por vezes evocavam o estilo grandiloquente da era do rádio. O destaque foi a regravação de Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), feita em tom mais leve. Leveza, aliás, perceptível na maior parte das interpretações de Cauby (1976), o álbum gravado por Cauby Peixoto na Som Livre, quatro anos depois, com produção do compositor luso-brasileiro Adelino Moreira (1918 - 2002), autor de boleros e sambas-canções como A Volta do Boêmio, aliás ambientado por Cauby em universo próximo do tango em regravação incluída neste disco em que o cantor flertou com o sambão dos anos 70. Amargando período de baixa exposição na mídia já há mais de uma década, Cauby Peixoto continuava procurando seu caminho na música brasileira produzida e gravada após a era dos festivais. Iria achá-lo nos discos embalados na caixa ...Cauby! Vol. 2.

Rafael disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tiago disse...

A informação realmente importante é que o disco é de 1972 e isso está claríssimo no texto. Está cada vez mais difícil disfarçar seu desafeto heim Mauro? Se é que algum dia você quis disfarçar.

Rafael disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
KL disse...

o único defeito dessas caixas é não ter $$ para comprá-las. Se os cds também saíssem separados, as vendas duplicariam, porque há quem goste demais de determinado título e nem tanto de outros. Mas, enfim, a Discobertas novamente está de parabéns. Que venham novos títulos.