Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Falamansa faz seu melhor disco ao festejar os 100 anos de Luiz Gongaga

Resenha de CD
Título: As Sanfonas do Rei - Tributo aos 100 Anos de Luiz Gonzaga
Artista: Falamansa
Gravadora: Deck
Cotação: * * * 1/2

Um dos nomes associados ao Forró Universitário, subgênero que dilui ritmos nordestinos em rala solução pop, o grupo paulista Falamansa jamais seria pensado como o intérprete ideal do repertório de Luiz Gonzaga (1912 - 1989). Mas o fato é que As Sanfonas do Rei - oitavo título da discografia do quarteto, gravado em tributo ao centenário de nascimento do Rei do Baião - é o melhor disco do Falamansa. Além de nunca ter reunido um repertório tão consistente em toda sua fraca discografia, o grupo acertou ao jogar luz sobre músicas pouco conhecidas da obra fonográfica do velho Lua, muitas gravadas nos anos 70 e 80, décadas em que Gonzaga amargou pouca exposição no eixo Rio-São Paulo, embora continuasse reinando soberano no Nordeste. São músicas sedutoras como o antenado Xote Ecológico (Luiz Gonzaga e Agnaldo Batista, 1989), tema em que Lua tocou em questões ambientais citando até Chico Mendes (1944-1988) - o seringueiro morto no ano anterior à gravação original de Gonzaga - em versos simples e diretos como "E o verde onde que está? / Poluição comeu / Nem o Chico Mendes sobreviveu". Sexto álbum de estúdio do Falamansa, As Sanfonas do Rei soa mais trivial justamente quando Tato e Cia. rebobinam clássicos já merecedores de gravações antológicas - caso de Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950), de tempero amargo no registro do Falamansa por conta de dispensável coro. O Fole Roncou (Nelson Valença e Luiz Gonzaga, 1973) e Súplica Cearense (Gordurinha e Nelinho, 1967) resultam mais saborosos. No todo, o disco desce bem. A opção de costurar as faixas com breves falas e gravações de Gonzaga deu certo charme ao tributo. Tema menos badalado do repertório romântico do Rei do Baião, o xote Indiferente (Severino Ramos e Luiz Guimarães, 1973), por exemplo, inclui alguns versos na voz de Gonzaga. As participações também foram bem sacadas. Trio Nordestino e Trio Virgulino contribuem para dar legitimidade ao tributo ao se juntarem com o Falamansa em, respectivamente, Amei à Toa (João Silva e Joquinha Gonzaga, 1985) e Bom pra Uns (Onildo Almeida e Juarez Santiago, 1973), xote grafado como Bom?... Pra Uns... na gravação original de Lua. A simples presença de Dominguihos já valoriza a abordagem de Nem se Despediu de Mim (Luiz Gonzaga e João Silva, 1987). Já Jorge Du Peixe e Gustavo da Lua - cantor e percussionista da Nação Zumbi - encorpam duas músicas de Gonzaguinha (1945 - 1991), Erva Rasteira e Festa, gravadas por seu pai Gonzagão em disco de 1968. Tudo a ver, uma vez que, ao cantar Festa, Du Peixe solta a voz rústica em versos como "Belo é o Recife pegando fogo / Na pisada do maracatu".  Pena que a participação de Elba Ramalho - em Sanfoninha Choradeira (João Silva e Luiz Gonzaga, 1984), música arretada que gravou com o homengeado em álbum de Gonzaga, Danado de Bom (1984) - tenha sido prejudicada pelo fato de a voz da cantora soar esquisita, fina, sem viço. Efeito de má captação ou de lapso na masterização. De todo modo, a voz feminina que brilha mais em As Sanfonas do Rei  é a de Janaína Pereira, cantora do grupo Bicho de Pé e convidada de Serena no Mar (Sivuca e Glorinha Gadelha, 1978), pérola pescada pelo Falamansa no vasto oceano de (belas) músicas gravadas por Gonzaga em fase de menor evidência. Enfim, o disco é bom. Mesmo que a faixa-título As Sanfonas do Rei (inédita composta por Tato em tributo a Lua) exponha o abismo que há entre o repertório de Luiz Gonzaga e a produção autoral do Falamansa, o tributo do grupo paulista é bem reverente, foge do óbvio e jamais afronta a memória do vitalício Rei do Baião.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Um dos nomes associados ao Forró Universitário, subgênero que dilui ritmos nordestinos em rala solução pop, o grupo paulista Falamansa jamais seria pensado como o intérprete ideal do repertório de Luiz Gonzaga (1912 - 1989). Mas o fato é que As Sanfonas do Rei - oitavo título da discografia do quarteto, gravado em tributo ao centenário de nascimento do Rei do Baião - é o melhor disco do Falamansa. Além de nunca ter reunido um repertório tão consistente em toda sua fraca discografia, o grupo acertou ao jogar luz sobre músicas pouco conhecidas da obra fonográfica do velho Lua, muitas gravadas nos anos 70 e 80, décadas em que Gonzaga amargou pouca exposição no eixo Rio-São Paulo, embora continuasse reinando soberano no Nordeste. São músicas sedutoras como o antenado Xote Ecológico (Luiz Gonzaga e Agnaldo Batista, 1989), tema em que Lua tocou em questões ambientais citando até Chico Mendes (1944-1988) - o seringueiro morto no ano anterior à gravação original de Gonzaga - em versos simples e diretos como "E o verde onde que está? / Poluição comeu / Nem o Chico Mendes sobreviveu". Sexto álbum de estúdio do Falamansa, As Sanfonas do Rei soa mais trivial justamente quando Tato e Cia. rebobinam clássicos já merecedores de gravações antológicas - caso de Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950), de tempero amargo no registro do Falamansa por conta de dispensável coro. O Fole Roncou (Nelson Valença e Luiz Gonzaga, 1973) e Súplica Cearense (Gordurinha e Nelinho, 1967) resultam mais saborosos. No todo, o disco desce bem. A opção de costurar as faixas com breves falas e gravações de Gonzaga deu certo charme ao tributo. Tema menos badalado do repertório romântico do Rei do Baião, o xote Indiferente (Severino Ramos e Luiz Guimarães, 1973), por exemplo, inclui alguns versos na voz de Gonzaga. As participações também foram bem sacadas. Trio Nordestino e Trio Virgulino contribuem para dar legitimidade ao tributo ao se juntarem com o Falamansa em, respectivamente, Amei à Toa (João Silva e Joquinha Gonzaga, 1985) e Bom pra Uns (Onildo Almeida e Juarez Santiago, 1973), xote grafado como Bom?... Pra Uns... na gravação original de Lua. A simples presença de Dominguihos já valoriza a abordagem de Nem se Despediu de Mim (Luiz Gonzaga e João Silva, 1987). Já Jorge Du Peixe e Gustavo da Lua - cantor e percussionista da Nação Zumbi - encorpam duas músicas de Gonzaguinha (1945 - 1991), Erva Rasteira e Festa, gravadas por seu pai Gonzagão em disco de 1968. Tudo a ver, uma vez que, ao cantar Festa, Du Peixe solta a voz rústica em versos como "Belo é o Recife pegando fogo / Na pisada do maracatu". Pena que a participação de Elba Ramalho - em Sanfoninha Choradeira (João Silva e Luiz Gonzaga, 1984), música arretada que gravou com o homengeado em álbum de Gonzaga, Danado de Bom (1984) - tenha sido prejudicada pelo fato de a voz da cantora soar esquisita, fina, sem viço. Efeito de má captação ou de lapso na masterização. De todo modo, a voz feminina que brilha mais em As Sanfonas do Rei é a de Janaína Pereira, cantora do grupo Bicho de Pé e convidada de Serena no Mar (Sivuca e Glorinha Gadelha, 1978), pérola pescada pelo Falamansa no vasto oceano de (belas) músicas gravadas por Gonzaga em fase de menor evidência. Enfim, o disco é bom. Mesmo que a faixa-título As Sanfonas do Rei (inédita composta por Tato em tributo a Lua) exponha o abismo que há entre o repertório de Luiz Gonzaga e a produção autoral do Falamansa, o tributo do grupo paulista é bem reverente, foge do óbvio e jamais afronta a memória do vitalício Rei do Baião.

Anônimo disse...

Fiquem com o original.
A não ser que prefiram uísque paraguaio.
De todo modo, vale a homenagem.

Rafael disse...

Gonzagão deve estar se revirando no caixão por conta desse disco. Isso não é um tributo, é uma afronta a memória do Rei do Baião!

Unknown disse...

As pessoas são tão contraditórias! Se um artista está esquecido, acham injustiça; se é lembrado, acham afrontosa a reverência. Sinceramente, eu tb acho o Falamansa um grupo bem fraquinho, mas, convenhamos, a nova geração nem disconfia de quem é Luis Gonzaga; portanto, acho que qualquer homenagem é bem-vinda. Creio que este cd veio em boa hora. Vamos valorizar a iniciativa, pois, por mais que ame o velho Lua, tenho que admitir que ele estava bem esquecidinho, né?