Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 10 de abril de 2012

'Black Heart' expõe o universo pop pela ótica afetiva e pessoal de Dinho

Resenha de CD
Título: Black Heart
Artista: Dinho Ouro Preto
Gravadora: Sony Music
Cotação: * *

Nenhum dos 12 covers feitos por Dinho Ouro Preto em seu terceiro CD solo, Black Heart, consegue reproduzir a beleza, as nuances e as intenções dos registros mais emblemáticos das 12 músicas selecionadas para o disco produzido por David Corcos. No mais das vezes, tais covers não passam de cópias apagadas das gravações-matrizes. É o caso de Nothing Compares 2 U (Prince, 1985), sem a mínima chance na inevitável associação com o registro consagrador feito por Sinéad O' Connor em 1990. A única possível exceção seria a releitura melódica e acústica de Being Boring (Pet Shop Boys, 1990), tema retirado da pista em que foi posta pelo duo inglês de pop dance. Ao partir para  leitura bem pessoal do sucesso de Chris Lowe e Neil Tennant, o vocalista do Capital Inicial consegue valorizar o melancólico e nostálgico balanço existencial feito pela dupla nos versos de Being Boring, atingindo o propósito de álbum cujo repertório foi selecionado pelas letras. De todo modo, Black Heart pode - e deve, aliás - ser visto como o relicário íntimo e pessoal de um popstar. No CD, Dinho expressa impressões, preferências e visões do universo pop com a autoridade de quem milita no universo roqueiro há cerca de 40 anos.  Em essência, o disco expõe fragmentos desse universo pop pela ótica afetiva do cantor. Baladas como Hard Sun (Eddie Vedder, 2009) e (Are You) The One That I've Been Waiting For? (Nick Cave & The Bad Seeds, 1997) ressaltam o romantismo que dá a liga nessa seleção pessoal e intransferível. Como cantor, Dinho nunca primou pela afinação e pela emissão exemplares. Contudo, tratada pela tecnologia do estúdio, a voz do crooner consegue soar agradável nos registros elegantes de Hallelujah (Leonard Cohen, 1984) e Time Is Running Out (Muse, 2003). Ainda assim, nenhum eventual acerto redime Dinho pelo assassinato em Black Heart de Love Will Tear Us Apart (Joy Division, 1979) e de There Is a Light That Never Goes Out (The Smiths, 1986) - ainda que a absolvição por esses crimes possa vir pelo fato de Black Heart ser nada mais do que um acerto pessoal de contas com a memória pop de Dinho.

14 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Nenhum dos 12 covers feitos por Dinho Ouro Preto em seu terceiro CD solo, Black Heart, consegue reproduzir a beleza, as nuances e as intenções dos registros mais emblemáticos das 12 músicas selecionadas para o disco produzido por David Corcos. No mais das vezes, tais covers não passam de cópias apagadas das gravações-matrizes. É o caso de Nothing Compares 2 U (Prince, 1985), sem a mínima chance na inevitável associação com o registro consagrador feito por Sinéad O' Connor em 1990. A única possível exceção seria a releitura melódica e acústica de Being Boring (Pet Shop Boys, 1990), tema retirado da pista em que foi posta pelo duo inglês de pop dance. Ao partir para leitura bem pessoal do sucesso de Chris Lowe e Neil Tennant, o vocalista do Capital Inicial consegue valorizar o melancólico e nostálgico balanço existencial feito pela dupla nos versos de Being Boring, atingindo o propósito de álbum cujo repertório foi selecionado pelas letras. De todo modo, Black Heart pode - e deve, aliás - ser visto como o relicário íntimo e pessoal de um popstar. No CD, Dinho expressa impressões, preferências e visões do universo pop com a autoridade de quem milita no universo roqueiro há cerca de 40 anos. Em essência, o disco expõe fragmentos desse universo pop pela ótica afetiva do cantor. Baladas como Hard Sun (Eddie Vedder, 2009) e (Are You) The One That I've Been Waiting For? (Nick Cave & The Bad Seeds, 1997) ressaltam o romantismo que dá a liga nessa seleção pessoal e intransferível. Como cantor, Dinho nunca primou pela afinação e pela emissão exemplares. Contudo, tratada pela tecnologia do estúdio, a voz do crooner consegue soar agradável nos registros elegantes de Hallelujah (Leonard Cohen, 1984) e Time Is Running Out (Muse, 2003). Ainda assim, nenhum eventual acerto redime Dinho pelo assassinato em Black Heart de Love Will Tear Us Apart (Joy Division, 1979) e de There Is a Light That Never Goes Out (The Smiths, 1986) - ainda que a absolvição por esses crimes possa vir pelo fato de Black Heart ser nada mais do que um acerto pessoal de contas com a memória pop de Dinho.

Rafael disse...

Ouvi algumas canções do disco (não tive ânimo e nem coragem para ouví-lo todo) e o resultado foi como eu mesmo previa: ele conseguiu acabar com clássicas e belas canções como "Love Will Tear Us Apart", "Nothing Compares 2 U", "Lovesong" e a linda "Hallelujah", do Cohen. Sem dúvida alguma, leva o prêmio de "Abacaxi do Ano". O Mauro foi condescendente com o Dinho... 2 estrelas é muito para esse disco!!!

Anônimo disse...

Gosto demais do Dinho, mas depois do acidente sem dúvida alguma ele não foi o mesmo. Apesar de ter achado o Show dele o melhor dentre todos os brasileiros que se apresentaram no "Rock in Rio". Mauro queria te pedir uma coisa, faça a resenha do CD 'Dust in the wind' da Paula Fernandes. Abraços.

André Luís disse...

Ok, cada macaco no seu galho, mas não sei como você, Mauro, dá 1 estrela e meia pro bom disco da Liah e 2 estrelas pra esse (agora confirmado) péssimo disco do Dinho.

A voz chata e desafinada de Dinho é o primeiro e já suficiente motivo para eu não gostar e não aturar o trabalho de sua banda, Capital Inicial, que, claro, tem seus méritos, mas seu front-man é muito ruim. Melhor ele voltar à sua banda do que assassinar belas músicas com covers toscos.

Daniel disse...

A lista de "Músicas preferidas" dele é ótima!Pena que ele resolveu gravá-las!Só dá vontade de ouvir as originais...

Rhenan Soares disse...

Não tive coragem de ouvir.

Eduardo disse...

Fica difícil qualquer avaliação musical ao olhar para essa capa inacreditável!

Luiz Fernando disse...

Daniel, pensei igual: ótimo repertório, mas a releitura é duvidosa. Ouvi até a metade do álbum e desanimei. (PS: e aquele coral de fundo, combina com a capa do cd, bem bizarro). Que venha as boas novidades do Rock Nacional em 2012!!!

Anônimo disse...

Eu fui ouvir essas músicas "versão Dinho" não dá, tenho impressão que ele não se ouviu...ele não aguentaria. Como foi dito as músicas se apagaram. E o clipe de "Nothing Compares 2 U" affff parece que tá cantando rap gesticulando o tempo todo...as músicas no final ficaram a cara do Capital inicial, ou seja, pra quê falar trabalho solo.

Rafael disse...

Esse disco, nem de graça eu queria!!! Esqueci também de mecionar que a capa é medonha e bizarra, assim como todo o conteúdo do disco.

Rafael disse...

CORREÇÃO: acima quis dizer "mencionar".

Sandro CS disse...

Com 20 e tantos anos de carreira, um renascimento inacreditável na carreira ali pelo final dos anos 90 e com uma legião de fãs incrivelmente renovada, Dinho pode tudo. Até gravar esse CD.

André Gamma disse...

Tão bom quanto é Ritchie 60. Ali sim, ficou du KCT!!! Esse do Dinho não ficou ruim, notei que ele se explorava pouco no Capital para esse segundo voou solo! Seu inglês é perfeito! E as canções escolhidas, nota 10! As interpretações, seriam mesmices se ele interpretasse IGUAL as originais! Toques pessoais é o que valem nesses discos de "covers". O vocal está bem deprê, bem trabalhado, bem encaixado no idioma estrangeiro... Experiencia de quem viveu lá. Não sou fã do Capital, mas pela primeira vez vejo um trabalho maduro envolvendo um integrante dessa banda! Escuto sem parar! No minimo viciante!

André Gamma disse...

Apenas uma ressalva, eu nunca fui lá chegado ao Dinho, mas noto que a rejeição é meio "maria vai com as outras". O clássico deprê dos Smiths - mesmo sendo questão de gosto - não poderia ser relida de outra forma. Essa versão ficou mais crua, e óbvio, que a voz do cara não lembra nem de perto o vocal harmônico e delicado do Morrissey. Por isso que "There Is a Light That Never Goes Out" ficou interessante! Pois a letra deslizando no vocal do Dinho mostrou outra faceta ou possibilidade desse clássico oitentista! O vocal, muito bem explorado, e cuidadosamente deprê (a capitação da linha de voz desse trabalho ficou PHODA, salientando bem a rouquidão espontânea!), ficou melhor acoplado no inglês americano. A voz desse cara encaixada no inglês se valorizou muito mais que no português! Notei que ele imprimiu as emoções nos momentos certos. Não gostei da versão do clássico do Price(nenhuma futura tentativa de releitura ficaria melhor do que a de Sinnead O Connor, seria o mesmo que regravarem inutilmente "malandragem", imortalizada na voz da finada Cássia Eller), mas "Lovesong" e "Time Is Running Out", mostra um Dinho muito mais além do que os refrões bobos-pegajosos da banda que ele faz parte. Ele só deveria cantar em inglês! ;)