Mauro Ferreira no G1

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sábado, 27 de abril de 2013

Ao chegar ao Rio, show 'Rua dos amores' refaz o trajeto contínuo de Djavan

Resenha de show
Título: Rua dos amores
Artista: Djavan (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de abril de 2013
Cotação: * * * *
Show em cartaz na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), até 28 de abril de 2013

 Resulta mágico o momento em que o show Rua dos amores, de Djavan, pega uma transversal do tempo e apresenta Meu bem querer (Djavan, 1979) com a reprodução exata do arranjo da gravação original de 1979, uma das mais conhecidas da obra do cantor e compositor alagoano. Fazendo coro nos versos da balada, o público se transporta para aquele tempo em que o artista ainda sedimentava os alicerces de seu cancioneiro de assinatura pessoal e intransferível. Contudo, Rua dos amores é show que ainda aponta caminhos para Djavan, sem seguir somente rotas já percorridas. Mesmo que apresente somente sete das 13 músicas do álbum de inéditas Rua dos amores (2012) no roteiro inteiramente autoral que totaliza 24 temas da lavra do artista, com baixo teor de novidade, o artista jamais se rende ao populismo. Entrosada com Djavan, a banda de virtuoses - Carlos Bala (bateria), Glauton Campello (teclados), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Mariano (baixo), Marcelo Martins (saxofone e flauta), Paulo Calasans (teclados) e Torcuato Mariano (guitarras) - se encarrega de irmanar músicas novas e antigas no sofisticado toque harmônico que caracteriza a obra do compositor. Tal requinte é perceptível do climático primeiro número - Rua dos amores (Djavan, 2012), música de lirismo interiorizado ouvida no palco vazio, com Djavan ainda nos bastidores - à derradeira música do show, Sina (Djavan, 1982), apresentada na pressão, no fecho do festivo bis iniciado com a canção Nem um dia (Djavan, 1996) e prosseguido com Se (Djavan, 1992), instante mais pop e coloquial de cancioneiro habitualmente pautado por versos poéticos que linkam palavras mais pela sonoridade do que por seu significado literal. Para quem quer novidade, a funkeada Pecado (Djavan, 2012) expõe a habilidade de Djavan de transitar pelo universo pop - endereço também da música posterior, Acelerou (Djavan, 1999) - e Bangalô (Djavan, 2012), alocada no início de set calcado na voz e no violão do artista, se confirma em cena como uma das canções mais inspiradas do compositor, com seus versos embebidos em desilusão e em fina melancolia. Nessa seara, somente Vive (Djavan, 2012) - balada cedida por Djavan para o último álbum de Maria Bethânia, Oásis de Bethânia (2012) - rivaliza em beleza com Bangalô dentre a safra de inéditas do CD Rua dos amores (Vive, aliás, debuta em cena na voz de seu compositor, pois a canção não figura no roteiro do atual show de Bethânia, Carta de amor). De todo modo, a jazzy Anjo de vitrô (Djavan, 2012) também se faz notar no show em número valorizado pelas intervenções dos teclados de Glauton Campello. Já Ares sutis - número inicialmente de voz & violão que ganha a adesão da banda no meio - se diferencia por ser rara canção composta por Djavan sob ótica feminina. Para quem admira o groove singular da obra do artista, Asa (Djavan, 1986) e Já não somos dois (Djavan, 2012) - músicas alocadas no bloco inicial do show, de temperatura mais amena - reverberam o suingue típico do artista. Balanço que ganha latinidade em Irmã de neon (Djavan, 1996), o tema mais obscuro do roteiro ao lado das também pouco ouvidas Curumim (Djavan, 1989) e Doidice (Djavan, 1987), esta apresentada com os versos em espanhol de sua segunda parte. Já perto do fim do show, o cantor caiu no samba com Flor de lis (Djavan, 1976) e Serrado (Djavan, 1978) e, nesse momento, é sentida a ausência de Acerto de contas (Djavan, 2012), o bom samba do CD Rua dos amores que remete a essa fase inicial da obra do artista. Os sambas são momentos de forte adesão popular ao show - assim como Oceano (Djavan, 1989), a perfeita canção-hit entoada somente com a voz e o violão de Djavan e com o coro inevitável do público. No fim, Samurai (Djavan, 1982) corrobora o momento de comunhão entre público e artista ao lado de Seduzir (Djavan, 1981), esta repaginada para a pista com arranjo eletrônico e outra divisão. Enfim, ao desembocar no Rio de Janeiro (RJ) em 26 de abril de 2013, o show Rua dos amores até pega transversais do tempo para conectar o artista ao seu público, mas, acima de tudo, expõe e refaz com requinte o belo trajeto contínuo de Djavan na música do Brasil.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Resulta mágico o momento em que o show Rua dos amores, de Djavan, pega uma transversal do tempo e apresenta Meu bem querer (Djavan, 1979) com a reprodução exata do arranjo da gravação original de 1979, uma das mais conhecidas da obra do cantor e compositor alagoano. Fazendo coro nos versos da balada, o público se transporta para aquele tempo em que o artista ainda sedimentava os alicerces de seu cancioneiro de assinatura pessoal e intransferível. Contudo, Rua dos amores é show que ainda aponta caminhos para Djavan, sem seguir somente rotas já percorridas. Mesmo que apresente somente sete das 13 músicas do álbum de inéditas Rua dos amores (2012) no roteiro inteiramente autoral que totaliza 24 temas da lavra do artista, com baixo teor de novidade, o artista jamais se rende ao populismo. Entrosada com Djavan, a banda de virtuoses - Carlos Bala (bateria), Glauton Campello (teclados), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Mariano (baixo), Marcelo Martins (saxofone e flauta), Paulo Calasans (teclados) e Torcuato Mariano (guitarras) - se encarrega de irmanar músicas novas e antigas no sofisticado toque harmônico que caracteriza a obra do compositor. Tal requinte é perceptível do climático primeiro número - Rua dos amores (Djavan, 2012), música de lirismo interiorizado ouvida no palco vazio, com Djavan ainda nos bastidores - à derradeira música do show, Sina (Djavan, 1982), apresentada na pressão, no fecho do festivo bis iniciado com a canção Nem um dia (Djavan, 1996) e prosseguido com Se (Djavan, 1992), instante mais pop e coloquial de cancioneiro habitualmente pautado por versos poéticos que linkam palavras mais pela sonoridade do que por seu significado literal. Para quem quer novidade, a funkeada Pecado (Djavan, 2012) expõe a habilidade de Djavan de transitar pelo universo pop - endereço também da música posterior, Acelerou (Djavan, 1999) - e Bangalô (Djavan, 2012), alocada no início de set calcado na voz e no violão do artista, se confirma em cena como uma das canções mais inspiradas do compositor, com seus versos embebidos em desilusão e em fina melancolia. Nessa seara, somente Vive (Djavan, 2012) - balada cedida por Djavan para o último álbum de Maria Bethânia, Oásis de Bethânia (2012) - rivaliza em beleza com Bangalô dentre a safra de inéditas do CD Rua dos amores (Vive, aliás, debuta em cena na voz de seu compositor, pois a canção não figura no roteiro do atual show de Bethânia, Carta de amor). De todo modo, a jazzy Anjo de vitrô (Djavan, 2012) também se faz notar no show em número valorizado pelas intervenções dos teclados de Glauton Campello. Já Ares sutis - número inicialmente de voz & violão que ganha a adesão da banda no meio - se diferencia por ser rara canção composta por Djavan sob ótica feminina.

Mauro Ferreira disse...

Para quem admira o groove singular da obra do artista, Asa (Djavan, 1986) e Já não somos dois (Djavan, 2012) - músicas alocadas no bloco inicial do show, de temperatura mais amena - reverberam o suingue típico do artista. Balanço que ganha latinidade em Irmã de neon (Djavan, 1996), o tema mais obscuro do roteiro ao lado das também pouco ouvidas Curumim (Djavan, 1989) e Doidice (Djavan, 1987), esta apresentada com os versos em espanhol de sua segunda parte. Já perto do fim do show, o cantor caiu no samba com Flor de lis (Djavan, 1976) e Serrado (Djavan, 1978) e, nesse momento, é sentida a ausência de Acerto de contas (Djavan, 2012), o bom samba do CD Rua dos amores que remete a essa fase inicial da obra do artista. Os sambas são momentos de forte adesão popular ao show - assim como Oceano (Djavan, 1989), a perfeita canção-hit entoada somente com a voz e o violão de Djavan e com o coro inevitável do púbico. No fim, Samurai (Djavan, 1982) corrobora o momento de comunhão entre público e artista ao lado de Seduzir (Djavan, 1981), esta repaginada para as pistas com arranjo eletrônico e outra divisão. Enfim, ao desembocar no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 26 de abril de 2103, o show Rua dos amores até pega algumas transversais do tempo para conectar o artista ao seu público, mas, acima de tudo, expõe e refaz com requinte o trajeto contínuo de Djavan na música do Brasil.

Rhenan Soares disse...

Resenha redondíssima!! Esperarei o show...

Unknown disse...

Só para lembrar, lendo À SUA CRÍTICA MUITO BEM REDIGIDA DO SHOWW Carta de amor, de Bethânia, e lendo esta, me deparei com uma contradição. Não entendo o porque Bethânia apresentou vícios e Djavan não. Fui ao show dele no Recife e amei, quase duas horas de música boníssima. Mas, só para não ir longe, em Ária, em Milagreiro e em rua dos amores as músicas são religiosamente as mesmas, com raríssimas exceções. POucas músicas do novo albúm e mmuuuuitos clássicos. POderemos chamar de vícios, um cantor que emociona com as mesmas músicas a anos, levando-se em conta que as músicas são extremamente populares?
Acho que não!!!!! Mùsica é coração