Mauro Ferreira no G1

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sábado, 27 de abril de 2013

Biquini Cavadão evolui no giro romântico das inéditas de 'Roda-gigante'

Resenha de CD
Título: Roda-gigante
Artista: Biquini Cavadão
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 

O público tem feito justiça ao Biquini Cavadão, grupo carioca surgido em 1985 e nunca posto pela crítica na linha de frente do rock brasileiro da década de 80 pelo fato ter sido projetado ao lado de bandas mais relevantes como Barão Vermelho, Legião Urbana (1982 - 1996), Paralamas do Sucesso e os hoje esfacelados Titãs - para citar somente as mais importantes. Mas o fato é que o Biquini Cavadão sobreviveu com rara dignidade - mesmo desfalcado com a saída do baixista Sheik no fim de 2000 - na cena pop nativa ao longo de seus 28 anos de vida, tendo lançado discos subestimados pela às vezes desatenta crítica, caso em especial de Escuta aqui (BMG-Ariola, 2000), mas fazendo shows lotados por seu fervoroso público em trajetória que ainda parece longe de chegar ao fim. Até porque Álvaro Birita (bateria), Bruno Gouveia (voz), Carlos Coelho (guitarra), Miguel Flores da Cunha (teclados) mostram fôlego e renovam o Biquini Cavadão no giro romântico da boa safra de inéditas de Roda-gigante, 14º título da discografia oficial da banda, recém-lançado nos formatos de CD e de pen-drive (evolução natural para um grupo que, já em 1998, lançou álbum chamado biquini.com.br). Produzido pelo guitarrista Carlos Coelho e por Marcelo Magal, baixista convidado em caráter extraoficial para ocupar no disco o lugar deixado vago com a saída de Sheik, Roda-gigante gira sem perder o equilíbrio entre baladas e rocks que evocam o passado honrado do quarteto - como o politizado rock Amanhã é outro dia (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso) - e temas que procuram inserir a banda em círculos mais atuais. Nessa roda, o grande trunfo do disco é o rock Acordar pra sempre com você, composto e gravado pelo Biquini Cavadão com Lucas Silveira, o artista cearense que lidera o grupo gaúcho Fresno e que despontou como compositor no CD assinado por seu heterônimo artístico Beeshop. Os títulos de algumas músicas já dão a pista do tom predominantemente romântico da safra de inéditas - tom perceptível também para quem já assistiu na internet ao clipe de Entre beijos e mais beijos (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso), música escolhida para promover o disco na web, nas rádio e na televisão. O alto teor de romantismo do álbum acabou gerando temas de menor poder de sedução, caso da balada Quem eu sou (Biquini Cavadão e Manno Góes), ponto mais baixo do giro de Roda-gigante. Fora do eixo dos relacionamentos a dois, a festiva É dia de comemorar celebra com altas doses de eletrônica - e também com certo artificialismo no tom alegre da faixa - o amor de um torcedor e de multidões por um time de futebol, se candidatando à vaga na trilha sonora da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil em 2014. A dose alta de eletrônica também aparece em Eu sorrio (Biquini Cavadão, Dudy Cardoso, Mauro  Stª Cecília e Manno Góes), outra faixa de cunho celebrativo. No caso, o Rio de Janeiro é o alvo da homenagem, prestada com alguns clichês na letra que o retrata como a "cidade maravilha da alegria e da dor". No todo, o álbum tem aura light e pop, alimentada tanto pelo romantismo da música-título Roda-gigante (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso) quanto pelo clima de luau esboçado em Descer as ondas (Biquini Cavadão, Dudy Cardoso e Marcelo Mira). Situada entre inéditas como O último a saber (Biquini Cavadão e João Carlos Vasconcelos) e Sem rotina (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso), a única releitura do disco - Agora é moda (Rita Lee e Lee Marcucci, 1978), ouvida em Roda-gigante com a adesão de Rogério Flausino em (boa) gravação diferente da feita pelo Biquini em 2010 para a trilha sonora do remake da novela Ti ti ti - soa quase estranha no ninho romântico do disco pelo tom ácido dos versos impressionantemente visionários do tema pop gravado por Rita Lee com o grupo Tutti & Frutti para o álbum Babilônia (1978). E assim, às vezes nas alturas, às vezes em planos inevitavelmente mais baixos, o giro de Roda-gigante atualiza e de certa forma até rejuvenesce o veterano Biquini Cavadão no círculo pop.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O público tem feito justiça ao Biquini Cavadão, grupo carioca surgido em 1985 e nunca posto pela crítica na linha de frente do rock brasileiro da década de 80 pelo fato ter sido projetado ao lado de bandas mais relevantes como Barão Vermelho, Legião Urbana (1982 - 1996), Paralamas do Sucesso e os hoje esfacelados Titãs - para citar somente as mais importantes. Mas o fato é que o Biquini Cavadão sobreviveu com rara dignidade - mesmo desfalcado com a saída do baixista Sheik no fim de 2000 - na cena pop nativa ao longo de seus 28 anos de vida, tendo lançado discos subestimados pela às vezes desatenta crítica, caso em especial de Escuta aqui (BMG-Ariola, 2000), mas fazendo shows lotados por seu fervoroso público em trajetória que ainda parece longe de chegar ao fim. Até porque Álvaro Birita (bateria), Bruno Gouveia (voz), Carlos Coelho (guitarra), Miguel Flores da Cunha (teclados) mostram fôlego e renovam o Biquini Cavadão no giro romântico da boa safra de inéditas de Roda-gigante, 14º título da discografia oficial da banda, recém-lançado nos formatos de CD e de pen-drive (evolução natural para um grupo que, já em 1998, lançou álbum chamado biquini.com.br). Produzido pelo guitarrista Carlos Coelho e por Marcelo Magal, baixista convidado em caráter extraoficial para ocupar no disco o lugar deixado vago com a saída de Sheik, Roda-gigante gira sem perder o equilíbrio entre baladas e rocks que evocam o passado honrado do quarteto - como o politizado rock Amanhã é outro dia (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso) - e temas que procuram inserir a banda em círculos mais atuais. Nessa roda, o grande trunfo do disco é o rock Acordar pra sempre com você, composto e gravado pelo Biquini Cavadão com Lucas Silveira, o artista cearense que lidera o grupo gaúcho Fresno e que despontou como compositor no CD assinado por seu heterônimo artístico Beeshop. Os títulos de algumas músicas já dão a pista do tom predominantemente romântico da safra de inéditas - tom perceptível também para quem já assistiu na internet ao clipe de Entre beijos e mais beijos (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso), música escolhida para promover o disco na web, nas rádio e na televisão. O alto teor de romantismo do álbum acabou gerando temas de menor poder de sedução, caso da balada Quem eu sou (Biquini Cavadão e Manno Góes), ponto mais baixo do giro de Roda-gigante. Fora do eixo dos relacionamentos a dois, a festiva É dia de comemorar celebra com altas doses de eletrônica - e também com certo artificialismo no tom alegre da faixa - o amor de um torcedor e de multidões por um time de futebol, se candidatando à vaga na trilha sonora da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil em 2014. A dose alta de eletrônica também aparece em Eu sorrio (Biquini Cavadão, Dudy Cardoso, Mauro Stª Cecília e Manno Góes), outra faixa de cunho celebrativo. No caso, o Rio de Janeiro é o alvo da homenagem, prestada com alguns clichês na letra que o retrata como a "cidade maravilha da alegria e da dor". No todo, o álbum tem aura light e pop, alimentada tanto pelo romantismo da música-título Roda-gigante (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso) quanto pelo clima de luau esboçado em Descer as ondas (Biquini Cavadão, Dudy Cardoso e Marcelo Mira). Situada entre inéditas como O último a saber (Biquini Cavadão e João Carlos Vasconcelos) e Sem rotina (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso), a única releitura do disco - Agora é moda (Rita Lee e Lee Marcucci, 1978), ouvida em Roda-gigante com a adesão de Rogério Flausino em (boa) gravação diferente da feita pelo Biquini em 2010 para a trilha sonora do remake da novela Ti ti ti - soa quase estranha no ninho romântico do disco pelo tom ácido dos versos impressionantemente visionários do tema pop gravado por Rita Lee com o grupo Tutti & Frutti para o álbum Babilônia (1978). E assim, às vezes nas alturas, às vezes em planos inevitavelmente mais baixos, o giro de Roda-gigante atualiza e de certa forma até rejuvenesce o veterano Biquini Cavadão no círculo pop.

Fábio disse...

Bela crítica a uma banda que considero um pouco injustiçada e que merece realmente maior reconhecimento. Vou comprar o meu logo. Obrigado, Mauro, pela super crítica tão bem escrita. E ao Biquini, por alegrar minha vida desde a infância.

Fábio disse...

Mas lamentei o encarte não trazer a letra das músicas...