Mauro Ferreira no G1

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sábado, 20 de abril de 2013

Afiada em cena, banda Panamericana verte angústias do rock hispânico

Resenha de show
Evento: Sonoridades
Título: Panamericana
Artista: Panamericana (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro do Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de abril de 2013
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), até 20 de abril de 2013

Faroeste spaghetti - versão de Alvin L. para Spaghetti del rock (Ricardo Mollo e Diego Arnedo, 2000), sucesso do grupo argentino Divididos - soou como canção da Legião Urbana no toque já afiado da Panamericana, a banda brasileira que fez sua estreia nos palcos cariocas na noite de 19 de abril de 2013, em show apresentado no Rio de Janeiro (RJ) dentro da programação da 3ª edição do festival Sonoridades. A comparação deve ser vista como um elogio. Banda que reúne músicos projetados nos grupos brasileiros Barão Vermelho (Dé Palmeira, no baixo), Legião Urbana (Dado Villa-Lobos, na guitarra) e Titãs (Charles Gavin, na bateria), a coesa Panamericana soube verter as angústias e urgências do rock hispano-americano do Cone Sul - mais precisamente, o rock de Argentina e Uruguai - para o idioma nacional. Tal habilidade valorizou a primeiro apresentação carioca do grupo, que debutou nos palcos em 3 de abril de 2013 em show feito em Curitiba (PR). Tão próximo e ao mesmo tempo tão longe do universo pop brasileiro, o rock criado na Argentina e no Uruguai é feito da mesma matéria-prima que molda o rock desde os anos 50: o ímpeto juvenil de expressar suas próprias emoções e propagar insatisfação com o status quo. Que pode ser um estado d'alma conturbado e com certo fastio da vida - como o exposto nos contundentes versos de Flores en mi tumba (Juan Casanova, Pablo Dana, Víctor Natero e Alejandro Bourdillón, 1986), tema do repertório do já desativado grupo punk uruguaio Los Traidores (1983 - 2003) - ou um descompasso existencial que põe o ser humano à beira do abismo em que se encontra a personagem de Angel con campera (Emiliano Brancciari, 2010), música do repertório do grupo uruguaio No te va a gustar.  A carga emocional das letras destes grupos de rock argentinos e uruguaios - vertidas com expressividade por nomes como Bruno Consentino, Charles Gavin, Dado Villa-Lobos, Humberto Effe, Sergio Britto e Toni Platão, entre outros - já põe a Panamericana na dianteira do rock nacional numa época em que o pop nacional parece plastificado pela embalagem inócua e uniforme da decadente MTV. Nesse sentido, a Panamericana está em sintonia com o rock dos grupos que projetaram seus integrantes. Legião Urbana e Titãs também expressavam emoções reais como as que moldam Barro tal vez (1982), balada do compositor argentino Luis Alberto Spinetta (1950 - 2012), influente ícone do rock argentino. Musicalmente, o grupo mostrou em cena que tem pegada, abordando o rock de língua hispânica sem firulas e sem clichês, mas eventualmente com certo suingue latino, como o que pontua Zafar (Sebastián Teysera, 2004), rock da banda La Vela Puerca, expoente da nova geração uruguaia. Além da precisão da bateria de Gavin, da pulsação do baixo de Dé e do toque da guitarra de Dado, a Panamericana tem seu trunfo na voz de Toni Platão, cantor que já se revelou grande nos tempos do grupo Hojerizah e que demonstrou total segurança em cena na apresentação de temas como a versão de Pasajera en trance (1986), música do repertório do roqueiro argentino Charly García. De todo modo, é justo ressaltar que quando Dé Palmeira assume o vocal - em Gris (Berta, Carámbula, Lima, Kolender e López) e em Nadie nos va a volver a romper el corazón (Gonçalo Denis Presa, 2011), músicas dos grupos uruguaios Loop Lascano e Mersey - o show mantém o pique. Aliás, Nadie nos va a volver a romper el corazón - número em que Dado toca viola caipira - é a pérola pop do repertório da Panamericana, o provável hit do disco já em processo de produção. Com alta dose de eletrônica em Mañana en el abasto (Luca Prodan, Diego Arnedo, Ricardo Mollo e Roberto Petinatto, 1987), tema do já desativado grupo argentino Sumo (1982 - 1987), o roteiro mistura baladas entre os rocks alocados no início e no fim do show. En la ciudad de la furia (Gustavo Adrían Cerati, 1988), música do grupo argentino Soda Stereo, é um dos trunfos do roqueiro bloco que encerra o bom show da Panamericana. Que pecou somente pelo longo bis, dividido em duas partes, com seis músicas de grupos brasileiros. Um bis mais sucinto que lembrasse apenas uma música dos Titãs e outra da Legião Urbana seria suficiente para reforçar o link do rock do Cone Sul com o rock made in Brasil. No todo, o show de estreia da Panamericana descortina rico universo lírico e musical ainda a ser descoberto no universo pop nacional, situando a banda como boa novidade de 2013.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Faroeste spaghetti - versão de Alvin L. para Spaghetti del rock (Ricardo Mollo e Diego Arnedo, 2000), sucesso do grupo argentino Divididos - soou como canção da Legião Urbana no toque já afiado da Panamericana, a banda brasileira que fez sua estreia nos palcos na noite de ontem, 19 de abril de 2013, em show apresentado no Rio de Janeiro (RJ) dentro da programação da 3ª edição do festival Sonoridades. A comparação deve ser vista como um elogio. Banda que reúne músicos projetados nos grupos brasileiros Barão Vermelho (Dé Palmeira, no baixo), Legião Urbana (Dado Villa-Lobos, na guitarra) e Titãs (Charles Gavin, na bateria), a coesa Panamericana soube verter as angústias e urgências do rock hispano-americano do Cone Sul - mais precisamente, o rock de Argentina e Uruguai - para o idioma nacional. Tal habilidade valorizou o show de estreia do grupo. Tão próximo e ao mesmo tempo tão longe do universo pop brasileiro, o rock criado na Argentina e no Uruguai é feito da mesma matéria-prima que molda o rock desde os anos 50: o ímpeto juvenil de expressar suas próprias emoções e propagar insatisfação com o status quo. Que pode ser um estado d'alma conturbado e com certo fastio da vida - como o exposto nos contundentes versos de Flores en mi tumba (Juan Casanova, Pablo Dana, Víctor Natero e Alejandro Bourdillón, 1986), tema do repertório do já desativado grupo punk uruguaio Los Traidores (1983 - 2003) - ou um descompasso existencial que põe o ser humano à beira do abismo em que se encontra a personagem de Angel con campera (Emiliano Brancciari, 2010), música do repertório do grupo uruguaio No te va a gustar. A carga emocional das letras destes grupos de rock argentinos e uruguaios - vertidas com expressividade por nomes como Bruno Consentino, Charles Gavin, Dado Villa-Lobos, Humberto Effe, Sergio Britto e Toni Platão, entre outros - já põe a Panamericana na dianteira do rock nacional numa época em que o pop nacional parece plastificado pela embalagem inócua e uniforme da decadente MTV.

Mauro Ferreira disse...

Nesse sentido, a Panamericana está em sintonia com o rock dos grupos que projetaram seus integrantes. Legião Urbana e Titãs também expressavam emoções reais como as que moldam Barro tal vez (1982), balada do compositor argentino Luis Alberto Spinetta (1950 - 2012), influente ícone do rock argentino. Musicalmente, o grupo mostrou em cena que tem pegada, abordando o rock de língua hispânica sem firulas e sem clichês, mas eventualmente com certo suingue latino, como o que pontua Zafar (Sebastián Teysera, 2004), rock da banda La Vela Puerca, expoente da nova geração uruguaia. Além da precisão da bateria de Gavin, da pulsação do baixo de Dé e do toque da guitarra de Dado, a Panamericana tem seu trunfo na voz de Toni Platão, cantor que já se revelou grande nos tempos do grupo Hojerizah e que demonstrou total segurança em cena na apresentação de temas como a versão de Pasajera en trance (1986), música do repertório do roqueiro argentino Charly García. De todo modo, é justo ressaltar que quando Dé Palmeira assume o vocal - em Gris (Berta, Carámbula, Lima, Kolender e López) e em Nadie nos va a volver a romper el corazón (Gonçalo Denis Presa, 2011), músicas dos grupos uruguaios Loop Lascano e Mersey - o show mantém o pique. Aliás, Nadie nos va a volver a romper el corazón - número em que Dado toca viola caipira - é a pérola pop do repertório da Panamericana, o provável hit do disco já em processo de produção. Com alta dose de eletrônica em Mañana en el abasto (Luca Prodan, Diego Arnedo, Ricardo Mollo e Roberto Petinatto, 1987), tema do já desativado grupo argentino Sumo (1982 - 1987), o roteiro mistura baladas entre os rocks alocados no início e no fim do show. En la ciudad de la furia (Gustavo Adrían Cerati, 1988), música do grupo argentino Soda Stereo, é um dos trunfos do roqueiro bloco que encerra o bom show da Panamericana. Que pecou somente pelo longo bis, dividido em duas partes, com seis músicas de grupos brasileiros. Um bis mais sucinto que lembrasse apenas uma música dos Titãs e outra da Legião Urbana seria suficiente para reforçar o link do rock do Cone Sul com o rock made in Brasil. No todo, o show de estreia da Panamericana descortina rico universo lírico e musical ainda a ser descoberto no universo pop nacional, situando a banda como boa novidade de 2013.

CLECIO JAYRON DA SILVA disse...

Mauro na verdade a banda ja havia estreado o showm em Curitiba em março.

Mauro Ferreira disse...

ok, grato pelo toque. abs, MauroF