Mauro Ferreira no G1

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domingo, 20 de janeiro de 2013

Isca de Polícia fisga Zélia ao reavivar no Rio obra vanguardista de Itamar

Resenha de show
Título: Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção
Artista: Isca de Polícia com participação de Zélia Duncan (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de janeiro de 2013
Cotação: * * * *

Se Zélia Duncan abre a janela pop do cancioneiro de Itamar Assumpção (1949 - 2003) no irretocável e recém-lançado álbum Zélia Duncan canta Itamar Assumpção - Tudo esclarecido (2012), a banda Isca de Polícia continua em cena para preservar o espírito vanguardista dessa obra que desafiou tradições da MPB na virada dos anos 70 para os 80. Tal contraste de abordagens do repertório do compositor revestiu de significado especial o inédito encontro da cantora fluminense com a banda paulista no palco do teatro do Oi Futuro Ipanema, no quarto e último show do ciclo Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção, apresentado na noite de 19 de janeiro de 2013. E talvez por esse contraste - diluído em cena pela pegada firme da Isca de Polícia - o encontro tenha resultado tão interessante, tão feliz. Banda criada em 1979 por Itamar para traduzir em sons as ideias que originaram a música enquadrada no rótulo Vanguarda Paulista, a Isca de Polícia fisgou Zélia para expor a face original dessa obra que continua instigante 30 anos após a edição (independente) do primeiro LP de Itamar, Beleléu leléu eu (1980). À vontade no universo de Itamar, Zélia mordeu a isca desde que entrou em cena no meio de Por que eu não pensei nisso antes? (Itamar Assumpção, 1998), música gravada pela cantora em seu álbum Sortimento (2001). Admiradora confessa do estilo teatral do canto das vocalistas da Isca de Polícia, Zélia pegou imediatamente o espírito da coisa. Seu entrosamento com as cantoras Suzana Salles e Vange Milliet foi total. O prazer em celebrar a obra de Itamar dez anos após a morte do compositor - objetivo maior do ciclo de shows - ficou evidente em cada um dos sete números feitos por Zélia com a banda. Marcado por gestuais teatrais, o reggae Dor elegante (Itamar Assumpção, 1998) exemplificou a sintonia fina do trio. Mesmo sem o trombonista Bocato, ausente na apresentação de 19 de janeiro de 2013 por problemas de saúde, o guitarrista Jean Trad, o baterista Marco da Costa - bem-sucedido na função ingrata de substituir o imenso Gigante Brasil (1952 - 2008) - e o baixista Paulo Lepetit puseram pressão em temas como Devia ser proibido (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2010) e Mal menor (Itamar Assumpção, 1988), balada de tonalidade mais íntima em que a voz de Zélia travou diálogo sutil com a guitarra de Trad. A funky Vou tirar você do dicionário (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1993) encerrou de forma eletrizante a participação de Zélia, que voltou no bis para cantar Leonor (Itamar Assumpção, 2004) - deitando e rolando com Suzana e Vange nas quebradas do samba - e para encarar Nego Dito (Itamar Assumpção, 1980), incisivo tema da fase inicial da obra do compositor, então moldada por estética mais teatral. Justiça seja feita: a intensa participação de Zélia Duncan no show jamais anulou o brilho das vocalistas da Isca de Polícia. Antes da entrada da convidada do quarto show (Arrigo Barnabé, Moska e B Negão entraram em cena nas três apresentações anteriroes), Suzana Salles e Vange Milliet já tinham conquistado o público ao apresentar músicas como a inédita Beleléu via Embratel (Itamar Assumpção) - exemplo do canto falado e teatral introduzido na música brasileira pela turma da Vanguarda Paulista - e Baby (Itamar Assumpção, 1980), tema do primeiro álbum de Itamar, gravado com a guitarra de Jean Trad. A interação entre as vocalistas valorizou músicas como Anteontem (Melô da U.T.I.) (Itamar Assumpção) e Eu tenho medo (Itamar Assumpção, 2010), ambas lançadas no terceiro e último volume da série Pretrobrás, Devia ser proibido (2010). Rara parceria de Itamar com o poeta Waly Salomão (1943 - 2003), Zé Pelintra (1988) corroborou a força dessa obra no solo de Suzana Salles. "É um som surpreendente que ainda nos emociona e, por isso, a gente continua (o) fazendo", ressaltou Vange Milliet, que se comunicou bem com a plateia ao descer do palco para interagir com o público ao solar a dissonante Se eu fiz tudo (Itamar Assumpção, 1980). Enfim, o projeto Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção deixa a certeza de que a obra de Itamar Assumpção continua viva e vivaz uma década após a precoce saída de cena do compositor. O Nego (ben)Dito invocou, brigou, mas fez e aconteceu enquanto esteve sob os holofotes indies.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Se Zélia Duncan abre a janela pop do cancioneiro de Itamar Assumpção (1949 - 2003) no irretocável e recém-lançado álbum Zélia Duncan canta Itamar Assumpção - Tudo esclarecido (2012), a banda Isca de Polícia continua em cena para preservar o espírito vanguardista dessa obra que desafiou tradições da MPB na virada dos anos 70 para os 80. Tal contraste de abordagens do repertório do compositor revestiu de significado especial o inédito encontro da cantora fluminense com a banda paulista no palco do teatro do Oi Futuro Ipanema, no quarto e último show do ciclo Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção, apresentado na noite de 19 de janeiro de 2013. E talvez por esse contraste - diluído em cena pela pegada firme da Isca de Polícia - o encontro tenha resultado tão interessante, tão feliz. Banda criada em 1979 por Itamar para traduzir em sons as ideias que originaram a música enquadrada no rótulo Vanguarda Paulista, a Isca de Polícia fisgou Zélia para expor a face original dessa obra que continua instigante 30 anos após a edição (independente) do primeiro LP de Itamar, Beleléu leléu eu (1980). À vontade no universo de Itamar, Zélia mordeu a isca desde que entrou em cena no meio de Por que eu não pensei nisso antes? (Itamar Assumpção, 1998), música gravada pela cantora em seu álbum Sortimento (2001). Admiradora confessa do estilo teatral do canto das vocalistas da Isca de Polícia, Zélia pegou imediatamente o espírito da coisa. Seu entrosamento com as cantoras Suzana Salles e Vange Milliet foi total. O prazer em celebrar a obra de Itamar dez anos após a morte do compositor - objetivo maior do ciclo de shows - ficou evidente em cada um dos sete números feitos por Zélia com a banda. Marcado por gestuais teatrais, o reggae Dor elegante (Itamar Assumpção, 1998) exemplificou a sintonia fina do trio. Mesmo sem o trombonista Bocato, ausente na apresentação de 19 de janeiro de 2013 por problemas de saúde, o guitarrista Jean Trad, o baterista Marco da Costa - bem-sucedido na função ingrata de substituir o imenso Gigante Brasil (1952 - 2008) - e o baixista Paulo Lepetit puseram pressão em temas como Devia ser proibido (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2010) e Mal menor (Itamar Assumpção, 1988), balada de tonalidade mais íntima em que a voz de Zélia travou diálogo sutil com a guitarra de Trad. A funky Vou tirar você do dicionário (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 1996) encerrou de forma eletrizante a participação de Zélia, que voltou no bis para cantar Leonor (Itamar Assumpção, 2004) - deitando e rolando com Suzana e Vange nas quebradas do samba - e para encarar Nego Dito (Itamar Assumpção, 1980), incisivo tema da fase inicial da obra do compositor, então moldada por estética mais teatral.

Mauro Ferreira disse...

Justiça seja feita: a intensa participação de Zélia Duncan no show jamais anulou o brilho das vocalistas da Isca de Polícia. Antes da entrada da convidada do quarto show (Arrigo Barnabé, Moska e B Negão entraram em cena nas três apresentações anteriroes), Suzana Salles e Vange Milliet já tinham conquistado o público ao apresentar músicas como a inédita Beleléu via Embratel (Itamar Assumpção) - exemplo do canto falado e teatral introduzido na música brasileira pela turma da Vanguarda Paulista - e Baby (Itamar Assumpção, 1980), tema do primeiro álbum de Itamar, gravado com a guitarra de Jean Trad. A interação entre as vocalistas valorizou músicas como Anteontem (Melô da U.T.I.) (Itamar Assumpção) e Eu tenho medo (Itamar Assumpção, 2010), ambas lançadas no terceiro e último volume da série Pretrobrás, Devia ser proibido (2010). Rara parceria de Itamar com o poeta Waly Salomão (1943 - 2003), Zé Pelintra (1988) corroborou a força dessa obra no solo de Suzana Salles. "É um som surpreendente que ainda nos emociona e, por isso, a gente continua (o) fazendo", ressaltou Vange Milliet, que se comunicou bem com a plateia ao descer do palco para interagir com o público ao solar a dissonante Se eu fiz tudo (Itamar Assumpção, 1980). Enfim, o projeto Nego Dito - Uma homenagem a Itamar Assumpção deixa a certeza de que a obra de Itamar Assumpção continua viva e vivaz uma década após a precoce saída de cena do compositor. O Nego (ben)Dito invocou, brigou, mas fez e aconteceu enquanto esteve sob os holofotes indies.

Rafael disse...

Nunca ouvi falar nesse grupo Isca de Polícia. Mas o disco da Zélia dedicado a Itamar é muito bom.

Insensato Mundo disse...

Rafael M, você não conhece os albuns de Itamar Assumpção? A banda Isca de Polícia o acompanhou desde o primeiro LP "Beleléu, Leléu, Eu", de 1980, bem como nos posteriores. O disco da Zélia dedicado ao Itamar é, de fato, muito bom. Os do próprio Itamar, com a Isca de Polícia são melhores ainda.

Anônimo disse...

Estou achando ótimo essas homenagens de Zélia, Itamar tinha um grande carinho e amizade por ela. Eu tenho esse primeiro LP "Beleléu Leléu Eu"

Rafael disse...

Insensato,

Não conheço tudo do Itamar. Mas sinceramente não sabia que essa banda o acompanhava. Quando ouço música, me ligo mais nas letras e melodias do que na ficha técnica, rs. Obrigado pela informação.