Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Boa artesã pop, Zeviani esboça um mundo lúdico no CD 'Amor inventado'

Resenha de CD
Título: Amor inventado
Artista: Karina Zeviani
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 

Karina Zeviani tem caracterizado seu som como pop artesanal nas entrevistas que tem concedido à mídia brasileira para divulgar seu primeiro álbum solo, Amor inventado, disco gravado desde 2011, lançado em 2012, mas efetivamente distribuído e promovido pela gravadora Som Livre neste mês de janeiro de 2013. Para quem não liga o nome ao som, Karina Zeviani é a cantora e compositora paulista que em 2005 se tornou vocalista do coletivo norte-americano Thievery Corporation e que, a partir de 2008, passou a ser uma das vozes do coletivo francês Nouvelle Vague. De volta ao Brasil após nove anos vividos entre Londres, Paris e Nova York, Zeviani - atualmente radicada no Rio de Janeiro (RJ) - fez conexões com nomes como Tiê - de quem se tornou parceira - e Betão Aguiar, coprodutor de Buiu (Karina Zeviani e Menino Josué), faixa pilotada por Marc Collin. Um dos destaques de Amor inventado, Buiu é delícia pop que mostra que por vezes Zeviani se revela boa artesã de som formatado com sutis toques regionalistas - realçados pela zabumba e o triângulo tocados na faixa pelo percussionista Mauro Refosco - e com tom previsivelmente cosmopolita. Em Amor  inventado, Zeviani esboça a construção de um mundo lúdico para ambientar seu pop artesanal. Mote da primeira metade do disco, esse tom lúdico é perceptível em faixas como Muda mutante (Karina Zeviani), tema inspirado pelo fato de a cantora ter sido convidada pelo guitarrista Sérgio Dias para assumir os vocais do grupo Mutantes sem concretizar o trabalho. Faixa produzida pela própria Zeviani, Muda mutante evoca o espírito anárquico do grupo tropicalista. Na construção desse mundo lúdico, saltam aos ouvidos a formalidade melódica de Maria  Rosa - canção de contorno mais tradicional, produzida por Betão Aguiar - e a delicadeza da música-título Amor inventado (Karina Zeviani), outra prova da habilidade de Karina como artesã pop. Cantada em inglês, Miguelito (Karina Zeviani e Mauro Refosco) confirma que o pop de Zeviani é em essência palatável, simples. Impressão reiterada por Eu não peço permissão (Karina Zeviani e Bato The Yugo), faixa produzida por Renato Brasa com metais aquecidos em fogo brando. A produção moderninha do álbum procura se enquadrar na moldura pop indie sem desfigurar a música da compositora. Que vai perdendo parte de seu poder de sedução à medida que o álbum avança, mais especificamente a partir da insossa Água de coco (Karina Zeviani e Rubens de la Corte). A canção Update (Karina Zeviani) bate na tecla romântica com trivial e verborrágico discurso amoroso que destila mágoas e soa fora de sintonia com álbum que começa com versos inusitados como "Pra você eu tenho um tapete voador / E um liquidificador e faço vitamina de manhã" (da ensolarada Buiu). Na sequência, Carta (Karina Zeviani, Fernando Nunes, Mylene Areal e Betão Aguiar) esboça o clima trágico de um fado e contribui para diluir a envolvente atmosfera lúdica da primeira metade do álbum. Com menor peso, O amor (Karina Zeviani) leva a cantora a enfileirar clichês sobre o sentimento que batiza a música em arranjo que realça o toque do ukelele de Benoít Convert. Produzida por Zeviani com Betão Aguiar, a faixa une os universos particulares de Los Hermanos e Marisa Monte. No fim, duas músicas escritas em inglês com menor inspiração, The beast e La maison des fantôme, ambas compostas por Zeviani com Georges Chaccour, reforçam o tom cosmopolita de Amor inventado. Vale repetir: Zeviani se revela boa artesã pop neste primeiro CD solo. Pena que o mundo lúdico esboçado na primeira metade do CD seja desconstruído ao longo da segunda, diluindo a invenção do amor.  

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Karina Zeviani tem caracterizado seu som como pop artesanal nas entrevistas que tem concedido à mídia brasileira para divulgar seu primeiro álbum solo, Amor inventado, disco gravado desde 2011, lançado em 2012, mas efetivamente distribuído e promovido pela gravadora Som Livre neste mês de janeiro de 2013. Para quem não liga o nome ao som, Karina Zeviani é a cantora e compositora paulista que em 2005 se tornou vocalista do coletivo norte-americano Thievery Corporation e que, a partir de 2008, passou a ser uma das vozes do coletivo francês Nouvelle Vague. De volta ao Brasil após nove anos vividos entre Londres, Paris e Nova York, Zeviani - atualmente radicada no Rio de Janeiro (RJ) - fez conexões com nomes como Tiê - de quem se tornou parceira - e Betão Aguiar, coprodutor de Buiu (Karina Zeviani e Menino Josué), faixa pilotada por Marc Collin. Um dos destaques de Amor inventado, Buiu é delícia pop que mostra que por vezes Zeviani se revela boa artesã de som formatado com sutis toques regionalistas - realçados pela zabumba e o triângulo tocados na faixa pelo percussionista Mauro Refosco - e com tom previsivelmente cosmopolita. Em Amor inventado, Zeviani esboça a construção de um mundo lúdico para ambientar seu pop artesanal. Mote da primeira metade do disco, esse tom lúdico é perceptível em faixas como Muda mutante (Karina Zeviani), tema inspirado pelo fato de a cantora ter sido convidada pelo guitarrista Sérgio Dias para assumir os vocais do grupo Mutantes sem concretizar o trabalho. Faixa produzida pela própria Zeviani, Muda mutante evoca o espírito anárquico do grupo tropicalista. Na construção desse mundo lúdico, saltam aos ouvidos a formalidade melódica de Maria Rosa - canção de contorno mais tradicional, produzida por Betão Aguiar - e a delicadeza da música-título Amor inventado (Karina Zeviani), outra prova da habilidade de Karina como artesã pop. Cantada em inglês, Miguelito (Karina Zeviani e Mauro Refosco) confirma que o pop de Zeviani é em essência palatável, simples. Impressão reiterada por Eu não peço permissão (Karina Zeviani e Bato The Yugo), faixa produzida por Renato Brasa com metais aquecidos em fogo brando. A produção moderninha do álbum procura se enquadrar na moldura pop indie sem desfigurar a música da compositora. Que vai perdendo parte de seu poder de sedução à medida que o álbum avança, mais especificamente a partir da insossa Água de coco (Karina Zeviani e Rubens de la Corte). A canção Update (Karina Zeviani) bate na tecla romântica com trivial e verborrágico discurso amoroso que destila mágoas e soa fora de sintonia com álbum que começa com versos inusitados como "Pra você eu tenho um tapete voador / E um liquidificador e faço vitamina de manhã" (da ensolarada Buiu). Na sequência, Carta (Karina Zeviani, Fernando Nunes, Mylene Areal e Betão Aguiar) esboça o clima trágico de um fado e contribui para diluir a envolvente atmosfera lúdica da primeira metade do álbum. Com menor peso, O amor (Karina Zeviani) leva a cantora a enfileirar clichês sobre o sentimento que batiza a música em arranjo que realça o toque do ukelele de Benoít Convert. Produzida por Zeviani com Betão Aguiar, a faixa une os universos particulares de Los Hermanos e Marisa Monte. No fim, duas músicas escritas em inglês com menor inspiração, The beast e La maison des fantôme, ambas compostas por Zeviani com Georges Chaccour, reforçam o tom cosmopolita de Amor inventado. Vale repetir: Zeviani se revela boa artesã pop neste primeiro CD solo. Pena que o mundo lúdico esboçado na primeira metade do CD seja desconstruído ao longo da segunda, diluindo a invenção do amor.

Rafael disse...

Ainda não tive oportunidade de ouvir o disco, mas gosto muito da voz dela. Teve uma excelente passagem pelo Nouvelle Vague.

Rubens Lisboa disse...

Bem legal o CD da Karina!

lurian disse...

A mim gerou uma expectativa maior que o prazer de ouvir...

Fabio disse...

Cansei dessas cantoras indie que só o pessoal do "Baixo Augusta" conhece. Há tempos que nenhuma cantora de fato estoura na cena musical com exceção de Maria Gadu que é bem mais ou menos. Td bem, ela cantou no Nouvelle e blá blá blá, mas é apenas mais uma para colocar no saco onde tantas outras cantoras já se encontram.