Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma nota musical vale mais do que mil palavras em filme sobre Jobim

Resenha de documentário
Título: A Música Segundo Tom Jobim
Direção: Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim
Direção musical: Paulo Jobim
Roteiro: Miúcha Buarque de Hollanda e Nelson Pereira dos Santos
Cotação: * * * * *
Em cartaz nos cinemas do Brasil desde 20 de janeiro de 2012

Um avião sobrevoa a orla do Rio de Janeiro (RJ) dos dourados anos 50 ao som de Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), ouvida em registro instrumental captado em 2002 em espetáculo do projeto Jobim Sinfônico. A partir dessa panorâmica, o documentário A Música Segundo Tom Jobim monta primoroso painel da obra soberana do maestro sem recorrer a entrevistas, depoimentos-clichês ou mesmo falas do compositor carioca extraídas de programas de TV. Sequer há legendas para identificar os cantores, devidamente apresentados somente quando rolam os créditos finais ao som de Saudade do Brasil (Tom Jobim, 1976). Por conta da grandeza da obra de Jobim, a música fala por si só neste filme. Até porque, em se tratando de Tom, uma nota musical vale por mil palavras. E assim, numa longa sequência clipada de números musicais, o documentário de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim expõe na tela o alcance planetário da música de Antonio Carlos Brasileiro. Música sublime que habita o patamar mais alto da canção popular brasileira. Algumas fotos de arquivo ajudam a contextualizar no tempo a trajetória de Jobim. Mas é a música que conduz a narrativa nas vozes de cantoras como Gal Costa - majestosa em Se Todos Fossem Iguais a Você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956), em número de tributo a Jobim apresentado em 1993 - e Ella Fitzgerald (1917 - 1996), ouvida em Off-Key (Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça e Gene Lees, 1965). Deleite para os ouvidos, o desfile de vozes e canções enfileira números de Judy Garland (1922 - 1969) - cantando How Insensitive (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e Norman Gimbel, 1963) em take de 1968, um ano antes de sua saída de cena - e Adriana Calcanhotto, ouvida em Ela É Carioca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963), em take extraído de seu DVD Público (2001). A música é tão bela que nivela por alto cantores e músicos. Basta ver e ouvir Nara Leão (1942 - 1989) cantar Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) ao som do violão de Roberto Menescal para entender que uma voz pequena não é obstáculo para que uma cantora se torne grande. E por falar em grandeza, o número de Nana Caymmi em 1991 - Sem Você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), com Jobim ao piano -  já bastaria para valer a ida ao cinema. Assim como o clipe de Águas de Março (Antonio Carlos Jobim, 1972), filmado por Tom com Elis Regina (1945 - 1982). A propósito, tanto Águas de Março como Garota de Ipanema ganham sequências com trechos de cantores de vários países e idiomas para reiterar o alcance planetário destes dois clássicos da obra de Jobim - cujos olhos marejam quando veem Cynara e Cibele defenderem sua Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) em festival de 1968. Enfim, "a linguagem musical basta", como dizia o próprio Tom em frase exposta ao fim do filme. Com ótimo uso dessa linguagem, Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim apresentam um filme que está à altura da música universal de Tom Jobim.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Um avião sobrevoa a orla do Rio de Janeiro (RJ) dos dourados anos 50 ao som de Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), ouvida em registro instrumental captado em 2002 em espetáculo do projeto Jobim Sinfônico. A partir dessa panorâmica, o documentário A Música Segundo Tom Jobim monta primoroso painel da obra soberana do maestro sem recorrer a entrevistas, depoimentos-clichês ou mesmo falas do compositor carioca extraídas de programas de TV. Sequer há legendas para identificar os cantores, devidamente apresentados somente quando rolam os créditos finais ao som de Saudade do Brasil (Tom Jobim, 1976). Por conta da grandeza da obra de Jobim, a música fala por si só neste filme. Até porque, em se tratando de Tom, uma nota musical vale por mil palavras. E assim, numa longa sequência clipada de números musicais, o documentário de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim expõe na tela o alcance planetário da música de Antonio Carlos Brasileiro. Música sublime que habita o patamar mais alto da canção popular brasileira. Algumas fotos de arquivo ajudam a contextualizar no tempo a trajetória de Jobim. Mas é a música que conduz a narrativa nas vozes de cantoras como Gal Costa - majestosa em Se Todos Fossem Iguais a Você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956), em número de tributo a Jobim apresentado em 1993 - e Ella Fitzgerald (1917 - 1996), ouvida em Off-Key (Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça e Gene Lees, 1965). Deleite para os ouvidos, o desfile de vozes e canções enfileira números de Judy Garland (1922 - 1969) - cantando How Insensitive (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e Norman Gimbel, 1963) em take de 1968, um ano antes de sua saída de cena - e Adriana Calcanhotto, ouvida em Ela É Carioca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963), em take extraído de seu DVD Público (2001). A música é tão bela que nivela por alto cantores e músicos. Basta ver e ouvir Nara Leão (1942 - 1989) cantar Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) ao som do violão de Roberto Menescal para entender que uma voz pequena não é obstáculo para que uma cantora se torne grande. E por falar em grandeza, o número de Nana Caymmi em 1991 - Sem Você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), com Jobim ao piano - já bastaria para valer a ida ao cinema. Assim como o clipe de Águas de Março (Antonio Carlos Jobim, 1972), filmado por Tom com Elis Regina (1945 - 1982). A propósito, tanto Águas de Março como Garota de Ipanema ganham sequências com trechos de cantores de vários países e idiomas para reiterar o alcance planetário destes dois clássicos da obra de Jobim - cujos olhos marejam quando veem Cynara e Cibele defenderem sua Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) em festival de 1968. Enfim, "a linguagem musical basta", como dizia o próprio Tom em frase exposta ao fim do filme. Com ótimo uso dessa linguagem, Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim apresentam um filme que está à altura da música universal de Tom Jobim.

Marcelo disse...

Espero q saia logo em dvd. Isso sim é uma obra prima!!!!

Maria disse...

Estou muito curiosa pra ver esse filme,sou super fã de Tom Jobim o cara foi um gênio!

leitordomauro disse...

Uma viagem orgulhosa pela obra do nosso maestro, na sessão que eu fui rolaram até aplausos para alguns numeros

Anônimo disse...

Amo de paixão a obra do Tom, mas acho que deviam dá um tempo com ele.
Sugam demais e acaba enchendo um pouco.

André Queiroz disse...

Zé Henrique, sou obrigado a concordar com você.Eu ignoro os tributos a obra dele que geralmente não acrescentam nada de novo, mas o filme é ALTAMENTE RECOMENDÁVEL.

noca disse...

Um colosso esse filme,Jobim,Nelson e toda produção de parabéns.Nana Caymmi com a música mais desconhecida,o acontecimento.Junto o de Sinatra,o momento supremo de entrega magica da alma sem amarras.Um arraso!

KL disse...

ele tem o dna da moderna canção brasileira, até momento ainda não-superado por quem quer que seja. E, parafraseando o que Milton Nascimento disse em relação aos Beatles, "isso é que é música; o resto é palhaçada".

Tiago disse...

E o nome da Gal no topo? AMO!

Tombom disse...

Assisti ontem, 24/01, a esse belo documentário musical. Impossível não se emocionar com a grandeza musical da obra e o time de intérpretes selecionados. Espero que saia logo em DVD.

dude disse...

Achei curiosíssima a unanimidade em torno do documentário. Assisti ontem e achei ruim. Claro que ouvir uma hora e meia do sofisticado e emocionante repertório de Tom, interpretado por nomes como Elis, Ella, Sinatra, Nana, Gal, é um privilégio, um prazer. Difícil dar errado. Mas, pra mim, deu.

Não há nenhum critério no alinhavar das canções, que vão e voltam no tempo, que intercalam grandes números com cenas absolutamente dispensáveis.

Takai, Calcanhotto, Marcia, estão entre as artistas que não se justificam no roteiro. Sem contar que o material é extraído de DVDs dessas cantoras, bastante recentes, assim como o número Esse seu olhar (Diana Krall), Matita Perê (Milton Nascimento), entre outros. Há, ainda, material amplamente difundido na rede, que não traz novidade.

Sem contar as justaposições. Colocar na sequência das Águas de março de Elis e Tom (um dos pontos mais altos do filme) a sofrível interpretação de Carlinhos Brown para Luiza foi um sacrilégio. Assim como "colar" a interpretação(dispensável) de Takai para a solar Estrada do Sol na densa Sem você, interpretada por Nana de maneira arrebatadora.

Ganharia se Nelson, Dora e Miúcha arregaçassem as mangas e procurassem material mais raro como Judy Garland intepretando How insensative ou o belo clipe de Mina cantando La ragazza di Ipanema. Outros pontos altos: Silvia Telles, Sarah Vaughan, Elis, Sinatra, ORF Orchestra.

Tem também algumas ausências incompreensíveis, como Edu Lobo, Joyce, Leny Andrade, muito mais associados ao universo de Tom do que parte do elenco escolhido.

Enfim, para mim, ficou a impressão de um filme preguiçoso, descuidado com a imagem e a obra de Tom.

Concordo que "a linguagem musical basta", frase de Tom que justifica a escolha de Nelson Pereira, mas a linguagem cinematográfica teria muito a contribuir neste caso.

Anderson Falcão
Basília DF
Ouvindo Lamento do Samba, de Paulo César Pinheiro.

dude disse...

Achei curiosíssima a unanimidade em torno do documentário. Assisti ontem e achei ruim. Claro que ouvir uma hora e meia do sofisticado e emocionante repertório de Tom, interpretado por nomes como Elis, Ella, Sinatra, Nana, Gal, é um privilégio, um prazer. Difícil dar errado. Mas, pra mim, deu.

Não há nenhum critério no alinhavar das canções, que vão e voltam no tempo, que intercalam grandes números com cenas absolutamente dispensáveis.

Takai, Calcanhotto, Marcia, estão entre as artistas que não se justificam no roteiro. Sem contar que o material é extraído de DVDs dessas cantoras, bastante recentes, assim como o número Esse seu olhar (Diana Krall), Matita Perê (Milton Nascimento), entre outros. Há, ainda, material amplamente difundido na rede, que não traz novidade.

Sem contar as justaposições. Colocar na sequência das Águas de março de Elis e Tom (um dos pontos mais altos do filme) a sofrível interpretação de Carlinhos Brown para Luiza foi um sacrilégio. Assim como "colar" a interpretação(dispensável) de Takai para a solar Estrada do Sol na densa Sem você, interpretada por Nana de maneira arrebatadora.

Ganharia se Nelson, Dora e Miúcha arregaçassem as mangas e procurassem material mais raro como Judy Garland intepretando How insensative ou o belo clipe de Mina cantando La ragazza di Ipanema. Outros pontos altos: Silvia Telles, Sarah Vaughan, Elis, Sinatra, ORF Orchestra.

Tem também algumas ausências incompreensíveis, como Edu Lobo, Joyce, Leny Andrade, muito mais associados ao universo de Tom do que parte do elenco escolhido.

Enfim, para mim, ficou a impressão de um filme preguiçoso, descuidado com a imagem e a obra de Tom.

Concordo que "a linguagem musical basta", frase de Tom que justifica a escolha de Nelson Pereira, mas a linguagem cinematográfica teria muito a contribuir neste caso.

Anderson Falcão
Basília DF
Ouvindo Lamento do Samba, de Paulo César Pinheiro.