Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Jussara Silveira estiliza canções e emoções de Angola em 'Flor Bailarina'

Resenha de CD
Título: Flor Bailarina - Canções de Angola
Artista: Jussara Silveira
Gravadora: Maianga
Cotação: * * * *
Disco ainda sem edição comercial, gravado para celebrar os 15 anos da empresa MLink

Jussara Silveira caiu no semba. Quatro meses após a gravação de seu recém-lançado sexto disco, Ame ou se Mande (Joia Moderna, 2011), a cantora entrou novamente em estúdio - a convite de Sérgio Guerra, da gravadora baiana Maianga - para fazer um CD com músicas de Angola. Projeto idealizado para celebrar os 15 anos da empresa MLink, ainda sem edição comercial, Flor Bailarina - Canções de Angola junta Jussara novamente com o percussionista Marcelo Costa e o tecladista Sacha Amback, produtores do irretocável Ame ou se Mande (Joia Moderna, 2011) e pilotos desta abordagem estilizada e refinada de canções, anseios e emoções de Angola. Temas como Angolano Segue em Frente (Teta Lando) - sensível manifesto a favor da igualdade racial gravado por Jussara com coro e com a adição de poema de Ana Paula Tavares, O Cercado - mostram que Flor Bailarina é disco gravita em torno do universo particular de um país que até há pouco tempo lutava por sua independência e liberdade. A conquista dessa liberdade é celebrada de forma pungente em Os Meninos de Huambo (Manuel Rui Monteiro e Ruy Mingas), destaque do repertório pela beleza da melodia, pela poesia dos versos e pelo coro infantil formado com crianças brasileiras. Canção em que sobressai o piano de Sacha Amback e que dá título ao disco, Flor Bailarina (Maria Guiomar Garcia e António Leitão) desabrocha com pura poesia. Temas mais animados como Ramiro (Givago) e Mariquinha (Bonga) são envolvidos pelo suingue sintetizado a partir da interação dos teclados de Amback com a percussão de Marcelo Costa. Entrosados, os músicos armam a cama para a cantora cair cool no semba em Lemba (José Manuel Canhaga) e Canta Meu Semba (Paulo Flores). Se há molho em Noite de Luar (Ruy Mingas e Mario António), espécie de samba de roda à moda angolana, há apropriada secura e economia no arranjo de Eb na Calunga (Capiba), canção urdida com doídas reminiscências de tempos idos. Já Carapinha Dura (Teta Lando) é moldada com efeitos eletrônicos tirados por Amback de seu sintetizador. Cantada em dialeto africano, a emocionante Muxima (Carlos Aniceto Vieira Dias) encerra Flor Bailarina mostrando que, apesar dos elos indestrutíveis entre Brasil e África, a bela trilha sonora de Angola ainda é um universo e um caminho a serem desbravados por ouvidos interessados em ouvir os sons primais que moldaram a música do mundo. Flor Bailarina merece desabrochar...

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Jussara Silveira caiu no semba. Quatro meses após a gravação de seu recém-lançado sexto disco, Ame ou se Mande (Joia Moderna, 2011), a cantora entrou novamente em estúdio - a convite de Sérgio Guerra, da gravadora baiana Maianga - para fazer um CD com músicas de Angola. Projeto idealizado para celebrar os 15 anos da empresa MLink, ainda sem edição comercial, Flor Bailarina - Canções de Angola junta Jussara novamente com o percussionista Marcelo Costa e o tecladista Sacha Amback, produtores do irretocável Ame ou se Mande (Joia Moderna, 2011) e pilotos desta abordagem estilizada e refinada de canções, anseios e emoções de Angola. Temas como Angolano Segue em Frente (Teta Lando) - sensível manifesto a favor da igualdade racial gravado por Jussara com coro e com a adição de poema de Ana Paula Tavares, O Cercado - mostram que Flor Bailarina é disco gravita em torno do universo particular de um país que até há pouco tempo lutava por sua independência e liberdade. A conquista dessa liberdade é celebrada de forma pungente em Os Meninos de Huambo (Manuel Rui Monteiro e Ruy Mingas), destaque do repertório pela beleza da melodia, pela poesia dos versos e pelo coro infantil formado com crianças brasileiras. Canção em que sobressai o piano de Sacha Amback e que dá título ao disco, Flor Bailarina (Maria Guiomar Garcia e António Leitão) desabrocha com pura poesia. Temas mais animados como Ramiro (Givago) e Mariquinha (Bonga) são envolvidos pelo suingue sintetizado a partir da interação dos teclados de Amback com a percussão de Marcelo Costa. Entrosados, os músicos armam a cama para a cantora cair cool no semba em Lemba (José Manuel Canhaga) e Canta Meu Semba (Paulo Flores). Se há molho em Noite de Luar (Ruy Mingas e Mario António), espécie de samba de roda à moda angolana, há apropriada secura e economia no arranjo de Eb na Calunga (Capiba), canção urdida com doídas reminiscências de tempos idos. Já Carapinha Dura (Teta Lando) é moldada efeitos eletrônicos tirados por Amback de seu sintetizado. Cantada em dialeto africano, a emocionante Muxima (Carlos Aniceto Vieira Dias) encerra Flor Bailarina mostrando que, apesar dos elos indestrutíveis entre Brasil e África, a bela trilha sonora de Angola ainda é um universo e um caminho a serem desbravados por ouvidos interessados em ouvir os sons primais que moldaram a música do mundo. Flor Bailarina merece desabrochar...

Johnny Cesar disse...

Fui no show de divulgação do "Ame ou se Mande" no Sesc Bom Retiro e ela cantou algumas músicas deste cd, foi um momento bem frio num show que tinha tudo para ser perfeito. As músicas angolanas são bonitas e o cd deve ter ficado bonito também, como tudo que a Jussara faz, mas misturar o repertório dele com o do outro cd no show de divulgação ficou tão esquisito. Fico pensando no Zé Pedro que acreditou no show e investiu na gravação do cd e logo depois fica sabendo que a cantora já tinha um projeto paralelo e mistura o show do cd da gravadora dele com o de outro cd... Mas... essas são as cantoras do Brasil.

Márcio disse...

Não vi o show mais recente de Jussara Silveira, mas vou me permitir discordar do comentário de Johny Cesar. Não vejo problema algum em a cantora, ao divulgar "Ame ou se mande", cantar também algumas músicas de "Flor Bailarina", que, como Mauro alertou, ainda nem tem edição comercial. Um projeto não canibaliza o outro, muito pelo contrário. Em 22 anos de carreira, Jussara tem apenas 6 discos lançados, um dos quais em parceria com Luís Brasil, de modo que os fãs agradecemos esse lançamento com as canções de Angola.
Acharia muito estranho se Zé Pedro ficasse incomodado com "misturas no show do cd da gravadora dele". A Jóia Moderna bancou alguma coisa nesse show? Acho improvável, mesmo porque ela já deve ter muitas despesas no magnífico trabalho que vem fazendo no (re)lançamento de discos de nossa música. É bom não esquecer que, nos anos 2000, antes do surgimento da Biscoito Fino, quando as grandes gravadoras brasileiras estavam enxugando seus elencos e dispensando artistas do quilate de Jussara Silveira, foi a pequena Maianga, iniciativa do fotógrafo e empresário Sergio Guerra, que a acolheu e lançou 3 de seus discos. Não é pouca coisa.

Johnny Cesar disse...

Márcio, você não viu o show e soube usar a palavra certa: carnibalização. Foi exatamente o que houve. Dois projetos diferentes que não funcionaram juntos, no momento das canções angolanas o público apagou. Como eu fui no "Ame ou se Mande" antes e depois do lançamento do cd eu soube perceber bem isso. Quando estiver a venda o cd "Flor Bailarina" eu certamente comprarei o cd e irei ao show pois gosto muito do trabalho da Jussara.
Feliz 2012!

Diogo Santos disse...

Viva a Lusofonia!

Jardel Barros disse...

Bom, gente... O repertório é de Jussara e ela coloca o que ela quiser! Não vejo nada de mais na inserção de outras canções. Afinal, o repertório não deve ser fidedigno ao disco. O único problema é se as canções fugissem do âmago do show - coisa que não posso falar, uma vez que não conheço as canções deste disco. Mas Johnny tem o direito de gostar ou não gostar. Não precisa brigar, gente!

Acho ótima a ideia e espero que o disco comece a ser vendido já já! Sou leigo em canções angolanas, portanto, só posso falar depois que eu ouvir. "Carapinha dura" já foi gravada por Jussara em 2002. E eu não gosto muito. Mas quem sabe este disco terá coisas diferentes? Veremos!

Anônimo disse...

Jussara ter incluído duas ou três músicas de outro disco num show que tem o repertório de AME OU SE MANDE inteiro é apenas uma GENEROSIDADE dela para com o público e ficou muito bom naquele momento do show, ali pelo meio, enfeixado no perfeito repertório de AME OU SE MANDE, o melhor disco dela até hoje (incluindo no rol o comentado angolano que gera a discórdia acima).

De resto, são tão diferentes esses CDs que um não concorre absolutamente com o outro, o segundo nem mesmo é um CD comercial, não vi distribuição até hoje e talvez não haja.

Coitada da artista, o show perfeito e ela não pode ter uma liberdade tão pequena de dar um bis de outro disco, de convidar um amigo que canta canções de outros discos, de atender a um pedido do público?

Então deveríamos colocar Maria Betânia numa camisa de força cada vez que ela lança um disco, porque ela se permite dez vezes mais! E Jussara é tão boa quanto MB, pode arriscar o que quiser. Abraços / Alvaro Machado

Anônimo disse...

Ela ter colocado tres cançoes de outro disco num show que tem o repertório completo de AME OU SE MANDE foi simples GENEROSIDADE para com o público. E ficou perfeita a interrupção ali pelo meio, enfeixado pelo perfeito rosário de pérolas desse último disco, o melhor da intérprete até agora (incluindo o comentado CD angolano, que talvez nem tenha distribuição comercial).

Pobre artista, não ter essa liberdade. Então não poderia convidar amigo intérprete (como Wisnki), não poderia dar bis...

Vamos colocar, então, Maria Bethania numa camisa-de-força?, pois ela se permite dez vezes mais nos seus shows de lançamentos de discos. E Jussara é tão boa quanto MB e merece poder arriscar o que quiser. As músicas "semba" escolhidas para o show são lindas e eu tomei a liberdade de postar no YOU TUBE esta única brasileira , do compositor pernambucano Capiba, uma joia que ficaria aliás muito bem ao lados das outras joias do cd AME OU SE MANDE, da valente produtora Joia Moderna. Lá vai o link, abraços / ALvaro Machado

http://www.youtube.com/watch?v=drkrHhAz8q8