Mauro Ferreira no G1

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sábado, 14 de junho de 2014

'Ritmo perfeito' arremata a plástica no som (cada vez mais) pop de Anitta

Resenha de CD
Título: Ritmo perfeito
Artista: Anitta
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * 

Prepare-se para ouvir Anitta cantar versos sofridos e resignados como "Eu não queria mais sofrer / Não sei se é com ou sem você / Eu já tentei de tudo, mas / Acho que eu não sou capaz". Tais versos são da trivial balada Vai e volta - única música assinada por Anitta sem parceiros neste seu segundo álbum de estúdio, Ritmo perfeito, lançado neste mês de junho de 2014 pela gravadora Warner Music - e sinalizam que a poderosa da vez no universo pop funk carioca também sofre por amor. Embora não abandone de todo o discurso e o estilo que lhe deram fama, Anitta bota menos banca neste CD que reúne oito músicas inéditas em dez faixas. Produzido por Umberto Tavares e Mãozinha, o álbum Ritmo perfeito apresenta registros de estúdio do repertório gravado ao vivo pela cantora e compositora carioca em fevereiro no show perpetuado no DVD Meu lugar, lançado simultaneamente com o CD de estúdio, em boa jogada mercadológica da Warner Music. Pelo título Ritmo perfeito, o ouvinte tem a impressão de que Anitta continua cheia de moral. E, de certo modo, ela continua mesmo, à sua moda. Dá para perceber - em funks como Blá blá blá (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares), ouvido também em remix alocado ao fim do CD, e No meu talento (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) - a tentativa de clonar a fórmula de sucesso de hits como Show das poderosas. Em contrapartida, Ritmo perfeito deixa claro que Anitta está sendo levada a se distanciar cada vez mais do funk da periferia. Seu som está cada vez mais plastificado, mais convencionalmente pop e radiofônico. Basta ouvir a cadenciada balada pop Música de amor (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) - canção de romantismo banal, mas vocacionada para as paradas - para comprovar que a atitude de Anitta já está tão ou mais diferente do que o mexido nariz da artista, alvo de sucessivas cirurgias plásticas que remodelaram seu rosto e seu corpo. As mudanças são sutis, mas perceptíveis. De todo modo, é fato que a plástica no som da cantora já havia sido iniciada no álbum anterior, Anitta (Warner Music, 2013). Ritmo perfeito apenas arremata essa plástica. E é sintomático que Umberto Tavares e Jefferson Junior - hitmakers da Warner Music que compõem tanto para Anitta quanto para nomes como o cantor Fiuk e o grupo de pagode  Imaginasamba - assinem com Anitta cinco das oito músicas inéditas do disco, entre elas a música-título Ritmo perfeito, faixa que embute toques de r & b e sambalanço. Ou seja, a intervenção industrial no som da artista é cada vez maior. Tanto que a dupla participação do rapper paulistano Projota - convidado da inédita Cobertor (Projota, Dan, Dash e DH) e da regravação de Mulher (Projota e Mayk, 2013) - soa sem força para injetar adrenalina no álbum. O rap de Projota é posto em sintonia com o tom asséptico de Ritmo perfeito, álbum que, apesar de toda a plástica, soa irregular e indefinido, sugerindo que Anitta já começa - lenta e imperceptivelmente - a perder seu poder.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Prepare-se para ouvir Anitta cantar versos sofridos e resignados como "Eu não queria mais sofrer / Não sei se é com ou sem você / Eu já tentei de tudo, mas / Acho que eu não sou capaz". Tais versos são da trivial balada Vai e volta - única música assinada por Anitta sem parceiros neste seu segundo álbum de estúdio, Ritmo perfeito, lançado neste mês de junho de 2014 pela gravadora Warner Music - e sinalizam que a poderosa da vez no universo pop funk carioca também sofre por amor. Embora não abandone de todo o discurso e o estilo que lhe deram fama, Anitta bota menos banca neste CD que reúne oito músicas inéditas em dez faixas. Produzido por Umberto Tavares e Mãozinha, o álbum Ritmo perfeito apresenta registros de estúdio do repertório gravado ao vivo pela cantora e compositora carioca em fevereiro no show perpetuado no DVD Meu lugar, lançado simultaneamente com o CD de estúdio, em boa jogada mercadológica da Warner Music. Pelo título Ritmo perfeito, o ouvinte tem a impressão de que Anitta continua cheia de moral. E, de certo modo, ela continua mesmo, à sua moda. Dá para perceber - em funks como Blá blá blá (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares), ouvido também em remix alocado ao fim do CD, e No meu talento (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) - a tentativa de clonar a fórmula de sucesso de hits como Show das poderosas. Em contrapartida, Ritmo perfeito deixa claro que Anitta está sendo levada a se distanciar cada vez mais do funk da periferia. Seu som está cada vez mais plastificado, mais convencionalmente pop e radiofônico. Basta ouvir a cadenciada balada pop Música de amor (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) - canção de romantismo banal, mas vocacionada para as paradas - para comprovar que a atitude de Anitta já está tão ou mais diferente do que o mexido nariz da artista, alvo de sucessivas cirurgias plásticas que remodelaram seu rosto e seu corpo. As mudanças são sutis, mas perceptíveis. De todo modo, é fato que a plástica no som da cantora já havia sido iniciada no álbum anterior, Anitta (Warner Music, 2013). Ritmo perfeito apenas arremata essa plástica. E é sintomático que Umberto Tavares e Jefferson Junior - hitmakers da Warner Music que compõem tanto para Anitta quanto para nomes como o cantor Fiuk e o grupo de pagode Imaginasamba - assinem com Anitta cinco das oito músicas inéditas do disco, entre elas a música-título Ritmo perfeito, faixa que embute toques de r & b e sambalanço. Ou seja, a intervenção industrial no som da artista é cada vez mais maior. Tanto que a participação do rapper paulistano Projota - convidado da inédita Cobertor (Projota, Dan, Dash e DH) e da regravação de Mulher (Projota e Mayk, 2013) - soa sem força para injetar adrenalina no álbum. O rap de Projota é posto em sintonia com o tom asséptico de Ritmo perfeito, álbum que, apesar de toda a plástica, soa irregular e indefinido, sugerindo que Anitta já começa - lenta e imperceptivelmente - a perder seu poder.

Unknown disse...

"cada vez mais maior" foi de doer o dente! hahahaha