Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Núbia transita irregular entre pop e kitsch em CD solo produzido por Ruiz

Resenha de CD
Título: Uma qualquer
Artista: Núbia Maciel
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * 1/2

De timbre grave, a voz não chega a soar incomum, mas tampouco é banal. É por conta da irregularidade do repertório gravado por Núbia Maciel em seu primeiro álbum solo, Uma qualquer, que o título do disco pode significar o status a ser obtido pela artista no universo pop em sua trajetória individual. A vocalista e fundadora do grupo paulistano Samba de Rainha tira momentaneamente o pé do (seu) samba para dar voz a um cancioneiro de tom pop contemporâneo. A julgar pela audição de músicas alocadas no início do CD, como Eu amei (Oui Madame) e Como é bom esse amor (Robson Oliveira e Núbia Maciel), Uma qualquer soa demasiadamente comum para se impor na cena pop. A trivialidade de versos sobre o vaivém do amor em Já não te quero mais (Oui Madame) corrobora a sensação de que falta um traço de originalidade - mínimo que seja - ao disco para delinear a assinatura artística de Núbia em sua carreira solo. Mas o álbum cresce do meio para o fim. A cuíca posta por Sandra Ganon em Alvo errado (Hailtinho Navio e Núbia Maciel) e no fim da roqueira Medo de olhar para si (Leo Cavalcanti, 2010)  - faixa turbinada com tamborim tocado pela própria Núbia - sinaliza que o samba continua presente no som da artista, mas em doses menores e mais calculadas. De todo modo, o CD Uma qualquer transita essencialmente por território pop, guiado pela produção antenada do guitarrista paulistano Gustavo Ruiz, hábil na valorização de repertório sem novidades. O melhor momento do disco reside na sua música-título, Uma qualquer (Núbia Maciel e Bianca Kovac), que propicia mergulho da cantora no universo da canção mais kitsch. Outro destaque do disco, a abolerada Às vezes não (Aidée Cristina e Núbia Maciel) comprova a intenção da artista de diluir fronteiras imaginárias entre o chique e o que se convencionou classificar de brega. Aliás, Mexe mexe (Núbia Maciel e Oui Madame) cai no suingue com mix de sons do Norte com a vibe do cancioneiro do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013). No todo, Uma qualquer deixa a sensação de que o repertório poderia ter sido selecionado com mais rigor para sedimentar uma diversidade pop que somente se insinua.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

De timbre grave, a voz não chega a soar rara, mas tampouco é comum. É por conta da irregularidade do repertório gravado por Núbia Maciel em seu primeiro álbum solo, Uma qualquer, que o título do disco pode significar o status a ser obtido pela artista no universo pop em sua trajetória individual. A vocalista e fundadora do grupo paulistano Samba de Rainha tira momentaneamente o pé do samba para dar voz a um cancioneiro de tom pop contemporâneo. A julgar pela audição de músicas alocadas no início do CD, como Eu amei (Oui Madame) e Como é bom esse amor (Robson Oliveira e Núbia Maciel), Uma qualquer soa demasiadamente comum para se impor na cena pop. A trivialidade de versos sobre o vaivém do amor em Já não te quero mais (Oui Madame) corrobora a sensação de que falta um traço de originalidade - mínimo que seja - ao disco para delinear a assinatura artística de Núbia em sua carreira solo. Mas o álbum cresce do meio para o fim. A cuíca posta por Sandra Ganon em Alvo errado (Hailtinho Navio e Núbia Maciel) e no fim da roqueira Medo de olhar para si (Leo Cavalcanti, 2010) - faixa turbinada com tamborim tocado pela própria Núbia - sinaliza que o samba continua presente no som da artista, mas em doses menores e mais calculadas. De todo modo, o CD Uma qualquer transita essencialmente por território pop, guiado pela produção antenada do guitarrista paulistano Gustavo Ruiz, hábil na valorização de repertório sem novidades. O melhor momento do disco reside na sua música-título, Uma qualquer (Núbia Maciel e Bianca Kovac), que propicia mergulho da cantora no universo da canção mais kitsch. Outro destaque do disco, a abolerada Às vezes não (Aidée Cristina e Núbia Maciel) comprova a intenção da artista de diluir fronteiras imaginárias entre o chique e o que se convencionou classificar de brega. Aliás, Mexe mexe (Núbia Maciel e Oui Madame) cai no suingue com mix de sons do Norte com a vibe do cancioneiro do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013). No todo, Uma qualquer deixa a sensação de que o repertório poderia ter sido selecionado com mais rigor para sedimentar uma diversidade pop que somente se insinua.